De olho em ampliar as exportações brasileiras de carne de frango e suína, a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) abrirá, muito em breve, escritórios em Pequim (China) e Bruxelas (Bélgica). A entidade pretende contratar especialistas para assumir os postos, com foco em lobbing e promoção comercial. A informação foi passada em entrevista exclusiva à revista aviNews Brasil, pelo presidente da ABPA, Francisco Turra.
Através do projeto 500K, a entidade pretende até 2020 aumentar em 25% o volume exportado de carnes de frango e suína. Na entrevista, Turra faz uma análise do setor avícola após as operações da Polícia Federal brasileira. Para o presidente da ABPA, em 2019 o Brasil vive um “momento diferente”, com o restabelecimento da confiança internacional no setor de proteína animal, e “único”, com o aumento da demanda internacional. Confira a seguir a íntegra da entrevista de Francisco Turra à aviNews Brasil!
AviNews Brasil – Em 2017, quando ocorreu a última edição do SIAVS, o setor ainda tinha muito forte em seu paladar o sabor amargo gerado pela Operação Carne Fraca. Naquele ano, o Brasil exportou 1,4% menos quantidade de carne que em 2016. Um ano depois, o setor voltou a ser alarmado pela Operação Trapaça, sendo que em 2018 as exportações de carne de frango fecharam em 4,1 milhões de toneladas. O que mudou no setor avícola brasileiro desde a última edição do SIAVS, em termos de possíveis adaptações, ou transformações geradas pela experiência das operações deflagradas pela Polícia Federal brasileira?
Francisco Turra – Em primeiro lugar, é preciso sempre reafirmar: as operações geraram máculas injustas à imagem do setor de proteína animal do Brasil. A qualidade dos produtos foi posta em xeque e casos isolados foram generalizados de forma equivocada.
Não havia respaldo às acusações absurdas, que nunca esqueceremos e que perdurou no imaginário coletivo. Desde o início colocamos nossa posição: punam-se os culpados, mas não generalizem casos que, na verdade, são isolados. Ao longo destes dois anos, trabalhamos insistentemente e em várias frentes, focados na reconstrução de nossa credibilidade internacional. No SIAVS 2017, trouxemos 46 jornalistas estrangeiros, em uma das maiores ações de imagem já realizadas pelo setor produtivo.
Colhemos excelentes resultados e seguimos em campanhas em diversos mercados, especialmente na União Europeia
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AviNews Brasil – Estamos vivendo um momento em que o setor de proteína animal está com a atenção muito voltada para os efeitos da Peste Suína Africana, tanto em termos de evitar a chegada da doença ao Brasil, como de se preparar para atender uma possível demanda que venha a ser gerada pelas perdas produtivas de produção de carne suína, principalmente na China. De que forma esse tema vem sendo tratado dentro da ABPA?
FT – Esta é uma questão que, como você citou, detém duas perspectivas.
- A primeira, é a preparação do setor produtivo para a demanda que virá da Ásia.
- A segunda, é a preservação de nosso status sanitário. Em relação à expansão das exportações, o comportamento dos negócios internacionais dá claros indicativos de que a demanda chinesa será exponencial.
Conforme o Rabobank, o país será impactado em 35% de seu rebanho, alcançando 16 milhões de toneladas. Isto deve influir em todos os segmentos produtivos, da carne suína à carne de frango, para cobrir o que for possível desta gigantesca lacuna deixada pela crise sanitária chinesa. A ABPA está engajada para que o setor produtivo aproveite plenamente esta valiosa oportunidade. Recentemente, estivemos em missão com a Ministra Tereza Cristina, em busca de habilitação de novas plantas frigoríficas de aves e de suínos. Ao mesmo tempo, realizamos uma grande ação na SIAL China, maior feira de alimentos da Ásia. Lá, concretizamos quase US$ 150 milhões em negócios, apenas nos três dias do evento.
AviNews Brasil – As previsões para o comércio com a Arábia Saudita são de que, em 2019, o Brasil deixe de exportar entre 65 mil e 75 mil toneladas de carne de frango para aquele país. Isso seria reflexo de um plano estratégico do governo local. Qual o plano estratégico do Brasil para enfrentar esse problema, considerando que até fevereiro de 2019 a Arábia Saudita se posicionava como principal destino da carne de frango brasileira?
FT – Este é um quadro impreciso, que agora passa pelo redesenho do comércio internacional. A crise chinesa é ampla e todos os importadores se preocuparão mais com a oferta interna de alimentos. De qualquer forma, os outros mercados importadores da carne de frango do Brasil já vêm absorvendo esta redução de importação da Arábia Saudita. Além da própria China, os países do Oriente Médio, como os Emirados Árabes Unidos, estão importando mais carne de frango halal proveniente do Brasil. Neste objetivo, temos intensificado nossas ações de relacionamento com os grandes importadores árabes, ao mesmo tempo em que reforçamos nossas parcerias com os importadores e o Governo Saudita, para buscar reduzir os impactos da retração das importações.
AviNews Brasil – No final de 2018, a ABPA anunciou o plano estratégico Brasil 500k, para ampliar em 25% o volume das exportações de carne de frango e suína. Como está o andamento desse trabalho?
FT – Segue à pleno vapor. A Associação abrirá, em breve, escritórios em Pequim (China) e Bruxelas (Bélgica). Especialistas contratados pela ABPA assumirão os postos, com foco em lobbing e promoção comercial.
AviNews Brasil – Que lugar ocupa a problemática da Salmonella no rol de preocupações do setor avícola brasileiro?
FT – A Salmonela é prioridade do setor. É pauta constante nas câmaras temáticas respectivas da ABPA.
AviNews Brasil – As perspectivas do USDA são de crescimento da produção de carne de frango brasileira em 1,8% e nas exportações do produto em 1,3% em 2019. As perspectivas divulgadas pela ABPA são de crescimento de 1,39% na produção. Essas previsões estão mantidas?
FT – As previsões da ABPA estão, sim, mantidas
Estamos construindo uma marca setorial voltada para a genética brasileira
AviNews Brasil – Em relação à exportação de material genético (ovos férteis e pintos de um dia), a ABPA se mostrava muito empolgada com o crescimento do volume de exportações em 2018 e as perspectivas para 2019. O setor continua com boas expectativas em relação a esse tema?
FT – A ABPA está empenhada em fortalecer as exportações deste segmento. Nos moldes do que já realizamos com os setores de carne de frango, suínos e ovos, estamos construindo uma marca setorial voltada para a genética brasileira. O objetivo é dar mais visibilidade e fortalecimento de percepção setorial, ampliando o papel brasileiro como Hub das exportações de material genético.