O presidente da ACAV (Associação Catarinense de Avicultura), José Antônio Ribas Júnior, defende que a avicultura brasileira deve estar atenta aos avanços do mercado para manter liderança. Segundo ele, produzir o frango mais barato do mundo não é suficiente, mas sim produzir o melhor frango do mundo.
Dados divulgados pela ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) em meados de dezembro de 2019, apontam expectativas de crescimento tanto para a produção (entre 4% e 5%), como para as exportações (entre 3% e 6%) de carne de frango brasileira em 2020.
A perspectiva da Associação para 2019 é de fechamento do ano com um crescimento de 2,3% na produção de carne de frango (13,5 milhões de toneladas) e de 2,4% nas exportações (4,2 milhões de toneladas). A grande novidade do mercado exportador foi o aumento de 37% nos volumes enviados à Ásia.
Porém, segundo Ribas, o crescimento das exportações em 2019 ainda foi tímido, comparado às expectativas inicialmente projetadas. “Para que em 2020 possamos crescer a índices mais elevados, temos que seguir trabalhando forte na qualidade da nossa produção, sem perder de foco a competitividade”, salienta.
Confira a avaliação de Ribas, em entrevista divulgada pela Assessoria de Imprensa da ACAV.
2019
Fechamos 2019 com um saldo positivo, comparativamente com os anos de 2017 e 2018. Se considerarmos as expectativas e potencialidades do setor, podemos afirmar que estamos em recuperação.Voltando a ocupar espaços e tamanho que já foram nossos.
Os últimos anos foram intensos, difíceis e com alguns dolorosos episódios. Entretanto, este último ano foi de retomada. Vejamos alguns sinais: voltamos a crescer nas exportações, ainda que em percentuais inferiores aos inicialmente projetados, a produção interna cresceu e temos um mercado interno que deve começar a se firmar.
O desafio está no fato de que precisamos recuperar a rentabilidade e, assim, modernizar o parque industrial, investir em melhorias e ampliações para o atendimento de novas e melhores demandas. Também é importante dar retorno a todos que investem nesta cadeia de produção. Estes são pilares importantes que o ano de 2019 começou a construir e precisamos continuar em 2020.
Ásia e China
A China foi em 2019 o fato mais relevante do mercado mundial de proteínas, tornando este país nosso principal comprador de proteína de frango. A nova realidade de exportações, frente a situação chinesa, abriu novos espaços e oportunidades para o Brasil. Esta é a dinâmica do mercado, problemas em algum lugar geram oportunidades em outros. Dada a extensão e intensidade do problema em questão, teremos a continuidade deste impacto durante 2020 e 2021, pelo menos.
Mas é importante reforçar que o crescimento de exportação de 2019 ainda foi tímido se compararmos com a expectativa e oportunidades que foram projetadas. Para que em 2020 possamos crescer a índices mais elevados temos que seguir trabalhando forte na qualidade da nossa produção sem perder de foco a competitividade. Esse é um aspecto cada vez mais sensível na competição internacional.
Nossos diferenciais competitivos de custo, a cada ano, diminuem de tamanho. A avicultura se desenvolve a passos largos em diversos países. Não podemos seguir achando que aqui se faz o frango mais barato do mundo, isso não é suficiente ou sustentável. Temos que fazer aqui o melhor frango do mundo. Isso abre portas e gera retornos sustentáveis.
China 2020
A demanda chinesa seguirá em 2020, embora seja preciso considerar que a produção interna por lá é crescente. A avicultura, por ter um ciclo rápido, é capaz de apresentar crescimento de produção maior que qualquer outra proteína.
Os chineses fecharam o ano de 2019 como segundo maior produtor de frangos do mundo, superando o Brasil. Como citei, a avicultura possui um ciclo de produção rápido, fato que pode limitar o crescimento das exportações, acelerando a recuperação da disponibilidade interna por lá. Mas, certamente, somos a avicultura do mundo em melhores condições de atender uma demanda crescente.
A demanda mundial trará volumes adicionais ao Brasil e, especialmente, para Santa Catarina. Cabe a nós aproveitar com responsabilidade esta oportunidade.
China e o aumento da produção brasileira
Não podemos pautar o crescimento da avicultura brasileira sobre um único pilar, menos ainda conectada a um episódio específico. Temos que olhar o longo prazo, entender a dinâmica deste mercado e saber exatamente o papel que queremos exercer no cenário mundial.
Somos competitivos em custo, temos competências ambientais inquestionáveis, somos uma avicultura livre dos problemas sanitários que afetam nossos concorrentes e sabemos produzir com qualidade. Dados estes fatos, nosso investimento deve ser feito na marca Brasil e no valor agregado dos produtos.
Devemos colocar um mix de maior valor agregado a disposição dos clientes mundiais. Precisamos aumentar nossa rentabilidade e crescer, antes e acima de tudo, em faturamento. Em resumo, temos que ter muita serenidade para um crescimento sustentável e um plano estratégico como País.
Segurança Sanitária
O tema de proteção do patrimônio sanitário do Brasil e, especialmente, de Santa Catarina deve ser agenda número 1 de todos. Governos, empresas e produtores possuem responsabilidades específicas e conjuntas neste tema.
Nossa vigilância precisa ser ativa e constante, com plano em execução nas frentes proativa e reativa, ou seja, temos que realizar todos os esforços para impedir a entrada de qualquer problema e, ao mesmo tempo, ter contingências efetivas para uma rápida resposta caso as barreiras falhem.
Há muito trabalho a ser feito. Temos o empenho do Governo, via ministra da Agricultura, e das empresas privadas. Nossas barreiras em portos e aeroportos ainda são frágeis, todos temos consciência. Mas, de fato, há um movimento para evoluirmos nestes temas. Desenvolvendo estratégias de comunicação, conscientização, inspeção e gestão de consequência.
De outra parte, desenvolvendo capacidade de diagnóstico e eliminação de focos caso aconteçam. Nesse tema, em resumo, temos que investir em prevenção e em capacidade de reação. Estes pontos fazem a diferença entre o sucesso e o fracasso. Sob a ótica de campo, muito já foi feito. Nossas empresas e produtores vêm investindo em prevenção há muitos anos. Mas não podemos baixar a guarda jamais, os esforços continuam e são acrescidas ações de renovação da conscientização quanto aos procedimentos de biossegurança.
2020
São evidentes os sinais positivos de melhoria do cenário econômico para o Brasil. Entretanto, a velocidade ainda é lenta.
Nossos representantes políticos precisam aprovar as reformas tão necessárias para o País. Um pacto de modernização tributária, administrativa e política é necessário. A bandeira é uma só: temos que crescer criando riquezas, isso gera novos empregos, empregos geram mais riquezas, ou seja, a roda da economia gira e todos ganham. Estas são forças de inclusão social e econômica.
A partir disso os investimentos em educação, saúde e todos os demais serão viabilizados. Por consequência teremos um mercado interno forte. Este é o combustível para o País crescer e se desenvolver. Somos um País rico em recursos, que precisa se tornar rico em desenvolvimento humano. Estamos entrando em um novo ciclo de prosperidade. Todos nós precisamos cumprir nosso papel de cobrar ações rápidas e assertivas de nossos governantes e legisladores.
Avicultura e Governo Federal
Sempre queremos mais e melhores ações de Governo. Nossa posição é de liderar o agronegócio mundial, ter protagonismo nas principais cadeias de produção. Neste contexto, o trabalho em conjunto com o Governo tem sido relevante.
Temos uma ministra de Agricultura que conhece e fala com o setor em alto nível. Reconhecidamente esta parceria tem conquistado novos mercados. Por outro lado, temos uma agenda interna relevante, por exemplo: de modernização das normas e regulamentações, de implementação de autocontrole, simplificações operacionais, melhorias logísticas, enfim, soluções necessárias para quem quer participar dos maiores e melhores mercados do mundo.
Temos motivos de sobra para nos orgulhar do agronegócio brasileiro, entretanto, temos que primeiro fazer todo brasileiro perceber isso. O que definirá se temos um bom governo ou não, numa análise muito simples, são as “obras” que ficam. Que legado será deixado.