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Aerossaculite, Colibacilose e os desafios para a avicultura de corte paranaense

Escrito por: Alberto Back - Sócio Fundador do Mercolab
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Desafios aerossaculite e colibacilose

 

Desde meados de junho de 2021, a avicultura de corte paranaense vem passando por um episódio de aumento atípico de casos de Aerossaculite e Colibacilose, com consequente:

elevação de mortalidade;

condenações de carcaças em frigorífico;

prejuízos incontáveis às agroindústrias.

O episódio mobilizou agroindústrias e laboratórios, que vêm realizando intenso trabalho de investigação para apurar as causas do problema, que afeta de forma tão particular o estado do Paraná. Inclusive, uma nova variante de Bronquite Infecciosa foi encontrada durante esse trabalho investigativo.

A aviNews Brasil realizou uma live no instagram, no final de novembro, com o Dr. Alberto Back, sócio fundador do Mercolab, um dos principais laboratórios de referência em análises aviárias do Brasil.

Nessa entrevista, que contou com a colaboração de inúmeros seguidores da aviNews Brasil, o Dr. Alberto faz um relato riquíssimo sobre como o setor tem se mobilizado e as descobertas que já ocorreram. Confira!

Durante o último Simpósio Técnico da ACAV (Associação Catarinense de Avicultura), um participante informou a ocorrência de alta mortalidade, iniciando próximo aos 14 dias, e que na necropsia verificava-se 100% das aves com quadro de aerosaculite grau 2 para 3, além de grande presença de E. coli. O senhor está por dentro dessa situação?

Dr. Alberto Back – No Paraná, junho, julho e agosto (2021) foram meses nos quais tivemos um quadro de condenações por Aerossaculite, e também de mortalidade por Colibacilose, muito além daquilo que normalmente se obtinha. A grande discussão é: o que está por trás disso, como vamos resolver?

Figura 1: Carcaça de frango de corte acometida por aerossaculite. Fonte: Acervo fotográfico CEPETEC.

As investigações continuam, mas é um problema que comprometeu bastante a indústria, limitou abates, houve perdas significativas e também mortalidade. Nós vínhamos de um padrão de mortalidade, principalmente aqui no Paraná, em torno de 5%, até abaixo disso. Mas, principalmente no meio do ano, subiu chegando a 8%, 9%, em algumas empresas até 10%. Isso nunca foi visto, mas nesse período foi um pouco generalizado.

O que mais nos intriga é que parece ser um quadro muito localizado no Paraná. O Paraná representa 40% das exportações e mais de 1/3 da produção anual de frangos. Essa Colibacilose, em uma fase inicial, e a Aerossaculite que levou a condenações, criaram um pouco de apreensão na indústria. Foram tomadas medidas, feitos investimentos e estamos trabalhando. Não resolvemos ainda, mas já criamos um certo progresso, houve uma redução, pelo menos, em um nível sob controle.

 

E por que isso estaria ocorrendo?

Dr. AlbertoEssa é a pergunta de um milhão de dólares! Algumas respostas nós temos, outras ainda não. Aparentemente, o quadro estava distinto:

No primeiro momento parecia que eram coisas distintas, em outros parecia haver uma interligação. Até hoje a gente não sabe exatamente como eles estão interligados, mas estão, mais ou menos, simultâneos.

O pessoal do Paraná deu exemplo nesse caso. Via Sindiavipar, a indústria se reuniu para expor a situação que cada um estava vivenciando e as soluções que estavam sendo adotadas. Queríamos saber a causa por trás desta situação e elas são várias.

Houve momentos em que parecia ser Bronquite Infecciosa, depois parecia haver alguns casos de Micoplasma. Houve casos de alta densidade de aves, intervalo entre lotes um pouco curto. Os achados foram se somando, mas não se chegou a uma conclusão exata de causa.

Uma das suspeitas, e que aparentemente produziu algum resultado, foi o fato de que, para o controle de salmonela, estamos desidratando a cama, adicionando bastante cal. Isso contribui para a redução da sobrevivência da salmonela na cama, mas também propicia maior presença de pó, coincidindo com o período de estiagem. Inclusive, foram feitas algumas avaliações histopatológicas e foi encontrada grande quantidade de penugens nos sacos aéreos.

Quando houve o retorno das chuvas, mesmo que ainda fora da normalidade, percebemos uma diminuição do problema, mas empresas continuaram apresentando o quadro, o que nos levou a entender que não existe uma única causa.

Passamos, então, a investigar a imunossupressão, principalmente relacionada a Gumboro; alguns casos de Bronquite Infecciosa, com evidências de algumas variantes circulando. Agora, é entender se essas variantes podem estar por trás disso, ou não. Já temos alguns resultados interessantes, inclusive com a participação da EMBRAPA (Concórdia – SC).

Quando se percebe a infecção?

Dr. Alberto – São dois momentos que não sabemos se podem estar ligados. Os relatos são de que a mortalidade maior acontece na fase jovem: na primeira semana já inicia com pericardites, com uma Colibacilose generalizada e, depois, aparentemente tende a melhorar, dando lugar a um quadro respiratório muito discreto no campo, que às vezes passa até despercebido. Mas quando chega no abatedouro, temos condenação por Aerossaculite.

E a dúvida que existe é exatamente essa: quanto é consequência, ainda, do início? Ou são duas coisas separadas? A gente não tem clareza a esse respeito, mas é possível que sejam ligados e predisponentes, um pouco distintos. Vamos continuar observando e, como tudo na avicultura, eu acho que em pouco tempo vamos resolver.

Esses quadros de Aerossaculite têm aparecido com outras doenças associadas?

Dr. AlbertoVárias empresas partilharam suas observações e não se conseguiu estabelecer uma relação. Por exemplo, com Pneumovirus, ou vírus de Newcastle, Bronquite Infecciosa com Mycoplasma Gallisepcticum. Em alguma empresa havia uma correlação e em outra não. Então, não se conseguiu relacionar com uma doença específica de comportamento convencional.

O que estamos levantando, e que tem alguns dados novos, é que na detecção de Bronquite Infecciosa temos encontrado vírus que não são amostra BR e nem Massachusetts. Na soroconversão não encontramos diferença de títulos da amostra vacinal. Talvez haja alguma diferença antigênica, que o nosso ELISA não esteja detectando. Então, estamos dando uma atenção à identificação e fazendo uma análise, com sequenciamento dessa porção amplificada. Ao fazer a árvore filogenética vemos que eles são muito distantes, então parece ser uma amostra diferente em circulação.

Os antibiogramas dos isolados possuem perfis parecidos em diferentes lotes?

Dr. AlbertoEu não tenho essa resposta clara porque nós não temos feito muitos antibiogramas. Uma coisa que observamos é que esses E. coli, de modo geral, estão com uma alta resistência a antibióticos. Quanto à patogenicidade, foram feitos alguns perfis e encontrados, por exemplo, E. coli com 4, 5 genes de patogenicidade na matriz e a mesma coisa no frango de corte.

No caso do perfil de resistência, provavelmente é um preço que estamos pagando ainda por situações de alto uso de antimicrobianos no passado. Aqui, talvez, seja o caso de trabalhar com a flora intestinal, diminuindo o uso de antibióticos, além de todas as outras medidas de biosseguridade.
Pensando em haver um problema ambiental, porque vê-se apenas sinais clínicos em frangos e não em matrizes? Não se estaria deixando de lado algum problema de imunossupressão?

Dr. AlbertoNós nos perguntamos muito a esse respeito. Em que ponto estamos interferindo na saúde das aves e não estamos nos dando conta?

Esse período de falta de chuvas, que reduz a umidade relativa do ar e aumenta o pó, possivelmente é mais grave para o frango, que tem maior densidade e aviários mais fechados. A matriz tem mais espaço, um ambiente um pouco diferente, embora tenha pó também pela cama seca.

Há ainda o sistema que estamos adotando agora, com essa quantidade de cal, o número de reusos de cama e, talvez, alguns intervalos um pouco curtos. Na matriz, basicamente, a gente não tem esses problemas. A pergunta é pertinente, mas não podemos esquecer que tem doenças subclinicas que têm manifestações às quais, talvez, não estejamos prestando atenção, como essa Bronquite que eu comentei.

Nesses casos de Aerossaculite, a resistência antimicrobiana justificaria essa ineficiência dos tratamentos?

Dr. AlbertoEu não tenho dúvida. Certamente os antibióticos têm seu papel, sua contribuição. Nós reconhecemos que, no passado, quando não tínhamos o entendimento, houve condições que nos levaram a utilizar mais antibiótico. Talvez, hoje, ainda estejamos pagando um preço por conta disso, mas o caminho é a menor utilização.

Se nós criarmos:

A indústria já reduziu muito a utilização de antibióticos. Temos que entender a nossa realidade de duas formas:

o problema existe independente do antibiótico, então nós temos uma outra causa que está provocando a entrada dessa E. coli;

temos que ir atrás da causa, entender onde está e barrá-la porque não podemos depender do antibiótico, que é para situações pontuais.
Qual seria sua mensagem final aos atores da avicultura de corte?

Dr. AlbertoOs desafios continuam, mas são eles que nos movem, apesar de, às vezes, a solução demorar um pouco. Esse problema respiratório têm um impacto econômico muito grande, mas ainda assim temos uma das melhores aviculturas do mundo.

Nós somos referência para o mundo em qualidade e isso, graças ao esforço de todos que estão no campo, nos laboratórios e também na divulgação do trabalho deste setor. Todos juntos fazem essa avicultura que nos orgulha muito.

ATUALIZAÇÃO DO CASO – FEVEREIRO/2022

O problema ainda não está resolvido, mas felizmente avançamos no entendimento da causa. Esse vírus de Bronquite que citamos foi isolado em vários laboratórios e se trata de um vírus variante. Em parceria com a Embrapa estamos na fase de caracterização do vírus.

Ainda nos exige cautela saber se essa variante é responsável por todo esse quadro, ou se é apenas um componente, porque o aumento da umidade realmente diminuiu um pouco a gravidade do problema. Os próximos passos é irão esclarecer isso.

Infelizmente, esses estudos exigem alguns meses para isolamento do vírus, estudo da patogenicidade e, depois, o estudo de imunogenicidade, para saber se as vacinas existentes no Brasil controlam essa variante, ou se necessitaremos trazer, ou desenvolver alguma outra vacina.

Entendendo o cenário de forma mais detalhada, poderemos buscar uma solução que pode ser o controle do vírus, ou outros fatores que eventualmente estejam associados.

 

 

 

 

 

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