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Manejo e cuidados na criação de frangos de corte com foco em prevenir quadros de aerossaculite

Escrito por: João Paulo Zuffo - Médico veterinário; Mestre em Ciência Animal; Pós-graduado em Higiene e Saúde animal; Gerente de Saúde Animal na Seara Alimentos.
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A incidência de condenação durante a inspeção no frigorífico de aves de corte pode ser usada para fornecer uma medida quantitativa a respeito da frequência e severidade do evento e sua associação a fatores de riscos na granja, em trânsito ou em nível de processamento.

Lesões detectadas durante o abate são classificadas usando uma lista definida de razões, produzindo resultados compostos de condenação para lotes de frangos de corte (Buzdugan et al., 2020; Van Limbergen et al., 2020).

As causas mais comumente identificadas são:

Uma das causas relacionadas com o aumento das condenações foi a intensificação da produção de frangos de corte, que contribuiu com o surgimento de causas patogênicas e/ou não patogênicas que provocam lesões identificadas durante o abate.

Os quadros de síndrome respiratória envolvendo aerossaculites têm se mostrado presentes nos plantéis de frango de corte no decorrer do último ano.

Relatos de diferentes agroindústrias sobre o tema, aliados ao aumento significativo de condenações parciais de carcaças atribuídas a esta causa nos abates, foram rotineiros e impactantes nas indústrias de frango de corte, especialmente aquelas situadas no Estado do Paraná.

Frente ao quadro supracitado, grande está sendo o empenho dos profissionais da área na busca das causas com o intuito de mitigar a crescente problemática, visando recuperar o status original de saúde animal do plantel avícola, bem como minimizar as perdas por rendimento e por descartes.

 

 

Figura 1: Setas apontando opacidade e espessamento dos sacos aéreos com acometimento por pequenos focos de exsudato caseoso com deposição de material ibrinoso amarelado em carcaça de frango de corte. Fonte: SILVA et al., 2011.

 

A aerossaculite pode ter início quando ocorre uma irritação ou agressão da mucosa do trato respiratório, predispondo ao surgimento das infecções virais, fúngicas ou bacterianas (Silveira et al., 2018).

Nos quadros que compunham a referida síndrome, foi possível observar a presença de diferentes graus de achados macroscópicos que permitem classificar a intensidade do envolvimento de aerossaculite.

A aerossaculite é um quadro associado ao trato respiratório inferior das aves e é definida como inflamação de um ou mais sacos aéreos. As alterações macroscópicas podem ser sacos aéreos opacos, com ou sem material caseoso.

Graus considerados leves pressupõem uma pequena opacidade nos sacos aéreos, visualmente diferenciando da translucidez natural que este tecido fisiologicamente apresenta.

Graus moderados já contam com presença de conteúdo espumoso nestes sacos aéreos.

Grau severo de acometimento apresenta quadros já caseosos e com envolvimento de contaminações secundárias.

Figura 2: Ave acometida de grau severo de aerossaculite, presença de cáseos ao abate.

Como a idade das aves sindromáticas e a manifestação dos quadros nos diferentes plantéis não se apresenta como um padrão de igual patogenia, várias frentes de diagnóstico foram conduzidas no intuito de elucidar e combater tal síndrome.

Dentre os achados de análises dos lotes houve predominância do envolvimento do vírus da Bronquite infecciosa das aves (IBV), que quando classificado, apresentou envolvimento de cepas virais de campo e vacinais, classificadas como BR e Mass, além do envolvimento de uma nova variante de outro genótipo.

Estudos ainda estão sendo conduzidos para elucidar se o envolvimento desta variante distinta pode reproduzir os quadros de aerossaculite, bem como se os imunizantes atualmente utilizados possuem cobertura protetiva para a referida estirpe viral.

Neste ínterim, o que se observa é que, toda vez que um fator imunossupressor atua em um plantel, a severidade das lesões se manifesta e os danos em saúde (morbidade e mortalidade), condenações e em desempenho zootécnico são contundentes.

O vírus da bronquite infecciosa das aves possui tropismos diferentes e isso está relacionado com a particularidade de cada genótipo ou variante. Há aqueles que são mais respiratórios, outros que tem tropismo mais renal ou reprodutivo, e até mesmo alguns que estão envolvidos em desordens entéricas (Gallardo, 2021).

Por isso o IBV é um agente que tem que ser pesquisado nos quadros de aerossaculite para entender até que ponto há seu envolvimento, além do conhecimento epidemiológico das cepas envolvidas para implantar medidas de biosseguridade, como programas vacinais mais específicos para as variantes envolvidas.

Para atuar no reestabelecimento da saúde animal e na mitigação das perdas, estes “fatores imunossupressores e predisponentes” na criação foram elencados, visando padronizar a melhor maneira de atuar neles e desta forma evitar que a patologia se instale nos plantéis.

Assim, de uma maneira prática, o manejo para o combate à aerossaculite foi embasado nos principais ofensores do bem estar das aves e das condições de saúde.

Entende-se por origem única a menor mistura possível de origem de reprodutoras que irá formar o lote de pintos de um dia alojados em um mesmo galpão ou Unidade epidemiológica.

A origem única entende-se como:

 

Entende-se por microrregião o conglomerado de galpões coexistentes em um raio de 5 km. Em especial consideramos uma microrregião clássica aquela formada por produtores grandes, proprietários de vários galpões de corte próximos na mesma propriedade.

A microrregião deve compreender Unidades epidemiológicas com múltiplos galpões, bem como Unidades epidemiológicas diferentes e vizinhanças com até 5 km de distância.

São premissas da microrregionalização:

 

Análise da cadeia anterior. Garantia de padronização e qualidade de ovos e de pintos de um dia, evitando a contaminação e mortalidade inicial dos lotes.

Para esse item deve-se checar:

 

Check e avaliação da operação de vacinação respiratória nos incubatórios, garantia de eficácia e padronização da operação vacinal.

Atendimento de intervalo sanitário mínimo de 12 dias, bem como todas as premissas de operação de vazio sanitário baseadas na descontaminação das instalações.

Atendimento de premissas de hierarquia de visitas com o intuito de reduzir o risco de contaminações e disseminação de problemas. A partir do momento onde for identificada mortalidade, sintoma e lesões de ordem respiratória, tais lotes devem ser tratados como últimos na hierarquia sanitária de visitas.

A premissa de cama seca é fundamental para os primeiros dias de vida da ave, evitando a formação de gases e por consequência evitando a destruição da mucosa respiratória do animal.

Atender o alojamento das aves somente com qualidade superior das camas, com limite de 15 cm de altura da cama, remover cascões, laterais e umidade.

Avaliar as condições da água de bebida de forma a garantir a qualidade superior de água.

Seguir as premissas de qualidade de água:

Seguir os padrões recomendados a cada faixa de idade das aves e garantir a execução.

 

 

 

Para avaliação e acompanhamento de ações na mortalidade dos lotes, é necessário realizar o acompanhamento diário do incremento de mortos/eliminados, pelo menos até os 15 dias de vida.

Dessa forma é possível estratificar as causas e entender se está relacionado à qualidade de pintos ou à qualidade de ambiência/sanidade dos lotes.

Nos lotes acometidos com mortalidade acima de 8%, realizar:

Através do acompanhamento minucioso dos itens de manejo e biosseguridade, é possível minimizar o risco de imunossupressão e exposição aos agentes causadores de aerossaculite. Destarte minimizar condenas e perdas nos abates das aves.

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