Ícone do site aviNews Brasil, informações avicultura

Alimentação Animal: Perspectivas para 2022

Escrito por: Ariovaldo Zani - CEO do Sindirações
PDF
Perspectivas alimentação animal

Perspectivas alimentação animalA produção brasileira de alimento animal, entre rações e sal animal, registrou um crescimento positivo em 2021, segundo informações do Sindirações (Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal).

O resultado confirmou o bom desempenho do agronegócio brasileiro e, aproximou-se do desempenho de 2020, quando foi registrado um crescimento de 5% e produção total de 81,5 milhões de toneladas.

No final de novembro, a aviNews Brasil conversou com o CEO do Sindirações, Dr. Ariovaldo Zani, sobre o cenário e perspectivas para o setor. Veja o que ele nos disse!

Quais as perspectivas para 2022?

Ariovaldo Zani: Sim, o otimismo sempre permanece porque a alimentação animal é um elo essencial na cadeia de produção de proteína animal.

Os preços dos principais grãos, milho e soja, atravessaram um período com preço bastante inflacionado em nível global, por uma série de fatores, inclusive climáticos.

No Brasil, esse problema se acentuou por questões cambiais, desvalorização do real frente ao dólar, o que tornou o custo desses insumos praticamente proibitivo.

Quando falo em acentuamento das dificuldades no primeiro semestre de 2022, me refiro à escassez de insumos importados, como aditivos, vitaminas, aminoácidos e outras especialidades de química fina utilizadas na alimentação animal, cujos fornecedores se concentram nos EUA, Europa e, principalmente, China e Índia.
O compromisso ambiental firmado na COP 26, de reduzir, já para o próximo ano, a matriz de aquecimento global, leva a um eixo de produção diferenciada que eleva os custos de produção. Falando do Brasil, para 2022 há uma incógnita na disponibilidade desses insumos e a perspectiva é pessimista.

Globalmente, o Fundo Monetário Internacional aponta para um crescimento econômico menor em 2022. Desde 2018 quando o Ministério da Agricultura e Assuntos Rurais da China (Ministry of Agriculture and Rural Affairs (MARA)) confirmou o primeiro caso de Peste Suína Africana (PSA) na província de Liaoning, a China tenta combater a PSA.

De acordo com o MARA, em 2021 já foram confirmados 11 casos em 8 províncias, sendo o último em 9 de novembro. Portanto, é esperado que haja sim um crescimento no próximo ano, porém, menor do que o alçando neste ano de 2021.

Como você vê esse movimento de busca de novos ingredientes para a alimentação animal? Tem alguma tendência que acredite ser promissora a médio prazo?

De fato, a disputa estabelecida entre a agricultura alimentar e energética é um fator muito relevante. Há algum tempo os grãos tradicionalmente utilizados na alimentação animal e humana, como milho e soja, têm encontrado uma outra destinação que é a produção de energia, com os combustíveis renováveis.

Evidentemente, se temos mais de um competidor no mercado, o produto tende a encarecer, inflacionar. Isso já ocorreu nos EUA com o milho, que custava menos de U$ 2.00 o bushel em meados dos anos 2000. Quando a política climática americana foi colocada em prática, além da adição crescente de etanol de milho à gasolina, ocorreu também uma disparada no preço do milho, que se estabeleceu num patamar que é o dobro do valor praticado anteriormente.

No Brasil ocorre uma situação parecida. E os setores privado e acadêmico têm buscado alternativas, entre as quais os cereais de inverno. Especialmente na região Sul, tem-se buscado dinamizar e aumentar a área plantada de cerais como o trigo, triticale, sorgo, aveia e centeio, que são culturas que podem somar-se ao milho e a soja.

Por outro lado, a produção do etanol de milho gera um subproduto, ou produto derivado, que é o DDGS (grãos secos de destilaria com solúveis) ou DDG (grãos secos de destilaria), que tem um coeficiente nutricional apropriado. Dependendo da sua formulação, ele pode ser mais proteico ou enérgico.

Algumas novidades são relativas à quebra de barreiras relacionadas ao consumo de farinhas de insetos, que já são muito aceitas no oriente e começam a ser acrescentadas no ocidente. É uma alternativa muito recente, mas é um ingrediente que tende a crescer no mercado, principalmente pelas preocupações com o aquecimento global e sustentabilidade dos insumos utilizados.
Afora isso, têm-se também os aditivos, que já são respaldados por estudos robustos, que demonstram sua eficácia. Determinados aditivos, como enzimas, minerais proteinados e aminoácidos sintéticos podem substituir parcialmente os grãos na dieta, mantendo o desempenho zootécnico dos animais.

O uso desses aditivos auxilia na mitigação dos danos ambientais, como na redução da descarga orgânica despejada no solo e nos rios, como redução da emissão dos gases de efeito estufa.

Recentemente o Mapa abriu consulta pública para atualizar a legislação sobre a inspeção e fiscalização de produtos destinados à alimentação animal. Como você vê essa questão?

É uma proposta moderna do Ministério, batizada de autocontrole, que eu vejo com bons olhos. A atuação do Mapa era realizada de forma paternalista, determinando ao produtor como executar a produção na agricultura, pecuária, item primário, ou nutrição.

É evidente que mais antigamente essa prática era compulsória, mas o Brasil se tornou uma potência tecnológica e voltada à agropecuária, tornando o modelo paternalista desnecessário.
A função primária do Mapa e do fiscal agropecuária é auditar o processo e confirmar se o que foi elaborado respeitou a regra vigente. O Ministério é o órgão regulador, já o como fazer é responsabilidade e autonomia do produtor.
Os estabelecimentos/produtores irão desenhar o seu processo, os seus procedimentos de acordo com suas especificidades. O auditor fiscal federal estará muito mais municiado e com tempo para avaliar os resultados da produção, comparando-os com aquilo que está estabelecido em lei.

Afora isso, o autocontrole também contempla uma digitalização, modernização e automação dos processos, a exemplo de outros segmentos industriais. Essa modernização irá facilitar e agilizar sobremaneira a emissão de certificados e outros documentos oficiais e o processo de auditoria, pois o fiscal estará acompanhando on-time e on-line o que acontece na produção.

Então, sim, é uma evolução que acontece no Brasil, mas não é uma novidade ou exclusividade brasileira. Diversos países desenvolvidos e maduros já têm essa prática.

Quais são as perspectivas e alternativas para os produtos enfrentarem o desafio do transporte de grãos?

O Brasil é um país de dimensões continentais e tem uma matriz agrícola e pecuária bem estabelecida. No passado, considerando essas peculiaridades geográficas, havia uma correlação dessa matriz agropecuária. Com o tempo, isso foi se modificando e a pecuária de corte, assim como a produção de grãos foram se estabelecendo na região Centro-Oeste.
Já a avicultura e suinocultura, embora venham migrando para a região Centro-Oeste, ainda se concentram no Sul. Além disso, há um certo descompasso na região Sul porque quando se colhe, não há tanta demanda e é preciso expedir o excedente pra a armazenagem na região Centro-Oeste. E quando a região chega no ápice da produção de proteína animal, acaba tendo que importar grãos da região Centro-Oeste.

Existem algumas tendências que já estão em movimento, como a migração da produção pecuária mais ao norte, visando vencer essa distância com os bolões de produção de milho e soja. Também estimular e dinamizar a semeadura dos cereais de inverno no Sul para atender à demanda.

Tem um outro fator também, que depende de como a análise é feita. Por muito tempo se insistiu que o Governo abrisse um canal de transporte, distribuição, batizado de Arco Norte. O objetivo era facilitar a saída e desafogar os portos das regiões Sudeste e Sul, atendendo aos clientes externos pelas remessas partindo do Norte, o que de fato aconteceu.

Apesar da iniciativa positiva, de certa forma a nova rota se tornou mais um concorrente à demanda doméstica dos grãos para alimentação animal, pois facilitou o escoamento pelo Arco Norte e isso se torna um fator de preocupação para a nossa produção pecuária.

Tem um outro fator importante. A atual capacidade de armazenamento do que se produz, infelizmente fica na casa de 30 a 35% e isso é uma preocupação. Na tentativa de reduzir essa discrepância tem havido um movimento do governo para financiar o aumento da capacidade/ área de armazenagem.

A capacidade de armazenagem de toda a safra daria ao produtor mais competitividade no mercado, porém, para atingir esse patamar é necessário bastante capital investido. Esse é mais um dos fatores que acaba entrando no composto de preocupações relacionados à produção dos grãos e da pecuária.

Há também a demanda por renovação de frotas, equipamentos e instalações. Do ponto de vista do dinheiro privado, o aumento da taxa de juros vai dificultando os investimentos que, inclusive, precisam ser volumosos, demandam capital estrangeiro e necessitam vencer outras barreias de ordem política, pois demandam decisões legislativas no Congresso Nacional, e até do Judiciário.

Sendo assim, são desafios razoáveis a serem enfrentados para, de fato, um dia equacionar essa demanda.

Os incentivos, como zerar as tarifas de importação do milho e soja, farelo e óleo, oriundos de fora do Mercosul, assim como a autorização de importação de milho geneticamente modificado dos EUA devem perdurar, ou há perspectivas de ajuste entre produção e demanda de grãos para 2022?

A safra americana promete ser generosa, enquanto que as lavouras de soja argentina e brasileira devem sofrer bastante por conta da estiagem que deve abater a região meridional. Outrossim, a CONAB tem uma previsão de recuperação da produtividade do milho, principalmente da segunda safra.

Muito embora devamos entender que estamos num momento em que o patamar de preço para os grãos já se posicionou em um outro degrau. E que a indústria tem que se adequar ao novo cenário, que pode realmente levar a um aumento nos preços dos alimentos, algo que já está sendo observado.

De maneira geral, há perspectivas muito boas. As projeções são muito favoráveis a uma recomposição nos estoques, principalmente do milho, que preocupava muito os produtores.

 

 

PDF
PDF
Sair da versão mobile