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Alternativas de cereais para substituição parcial do milho na ração de aves – Parte II

Escrito por: Dr. Elir Oliveira - Pesquisador do IDR/PR
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alternativas de cereais para substituição do milho parte dois
Na edição anterior trouxemos algumas alternativas de cereais para substituição parcial do milho, acompanhe mais algumas alternativas.

GRÃOS DE AVEIA BRANCA

Ao longo dos anos, as pesquisas em aveia granífera foram bem sucedidas, obtendo novas cultivares que apresentam características desejáveis tais como:

elevado potencial produtivo,

com grãos apresentando alta qualidade alimentar e industrial e

ampla adaptação agronômica conforme as condições edafoclimáticas.

Em experimentos conduzidos em quatro estados (RS, PR, SP e SC), avaliando o desempenho de 23 cultivares de aveia a produtividade média foi de 5.418 kg/ha de grãos, sendo que em várias localidades diversas cultivares apresentaram produtividades entre 9,0 e 10,0 t/ha de grãos (L Ngaro et al., 2016).

Entretanto, em anos que apresentaram condições climáticas desfavoráveis, os autores registraram produtividade média de 3.872 kg/ha, sendo que houve localidades em que algumas cultivares apresentaram produtividades de até 6,0 t/ha (L Ngaro et al., 2019).

Embora a principal finalidade da produção de aveia branca é o consumo humano, também é usado para alimentação animal pela facilidade de armazenamento, altos teores de fibra solúveis e palatabilidade associado à sua qualidade nutricional.

Isso justifica faz com que a cultura deva ser incentivada para ocupação de áreas de pousio de inverno também como planta melhoradora do solo em sistemas de rotação de culturas.

A possibilidade de uso de grãos de aveia na formulação de ração de frango apresenta grande potencial de uso. Com relação ao milho, a aveia branca apresente um menor teor de energia metabolizável para aves, em média 2.976 kcal/k (Rostagno et al., 2017).

Entretanto, comparado ao milho, a aveia apresenta teor e qualidade da proteína muito superior, maior teor de lisina, metionina, treonina, triptofano entre outros aminoácidos essenciais e minerais como fósforo, cálcio e ferro.

Os teores de proteína bruta de grãos de aveia branca oscilam entre 12,3 a 19% (Restle et al., 2009; Molin, 2011; Hawerroth et al., 2011), sendo que os valores mais altos correspondem aos grãos de aveia sem casca. Cabe destacar que o processo de descasque de grãos de aveia é viável disponibilizando produto de excelente qualidade, com teores de proteína até três vezes superior ao milho, o que possibilita ainda a redução de farelo de soja na composição de ração de aves.

Fonte: Coppi Industrial

Atualmente o mercado disponibiliza máquinas de descasque de grãos de aveia práticas e eficientes com capacidade de 1,5 – 10 tonelada/hora. Considerando que o percentual de casca nos grãos de aveia é de 21-24%, o processo de descasque gera uma quantidade significativa de coproduto que também pode ser utilizada na ração animal.

Segundo Scholey et al. (2020), a casca de aveia levemente moída melhora o desenvolvimento do intestino, especialmente da moela. Os autores afirmam que aveia incluindo dietas com alguns restos de casca são uma maneira econômica de usar aveia como matéria-prima, maximizando o desempenho das aves.

Trabalhando com dietas de frango de corte com inclusão de 0, 40 e 100 g/kg de casca de aveia em dieta baseada em trigo, com e sem inclusão de suplementação enzimática à base de ß-glucanase, protease e xylanase, Hetland e Svihus (2001) observaram aumento significativo no consumo de ração pelas aves quando a casca de aveia branca foi inserida, sendo que não houve diferença de ganho de peso dos frangos entre os tratamentos.

Os resultados desses autores corroboram com aqueles obtidos por Wallis et al. (1985). Considerando o trabalho de Brum et al. (2000) com o uso de triticale na formulação de ração de frango de corte, é possível nível de substituição de até 75% do milho na dieta. Entretanto, estudos para determinação do nível de substituição do milho por grãos de aveia descascados são essenciais.

SORGO, MILHETO E TRIGO MOURISCO

Além dos cereais de inverno, o sorgo granífero (Sorghum bicolor), milheto granífero (Pennisetum glaucum) e trigo mourisco (Fagopirum sculentum) são espécies de verão que apresentam grande potencial para substituição parcial ou total do milho na formulação de rações para aves, suínos e ruminantes.

O sorgo e milheto são plantas mais resistentes a déficit hídrico, apresentam menor custo de produção, não exigem a moagem ou trituração prévia como componente de rações de aves.

Estudos conduzidos por Shelton (2014) mostraram que a substituições em até 100% do milho na ração de frango de corte não afetaram a qualidade, o rendimento de carcaça e a conversão alimentar das aves.

O mourisco pode ser utilizado como cultura em períodos de entressafra pós-soja e antes da semeadura do trigo, aveia ou triticale. Pode substituir o milho em até 30% nas rações de monogástricos e ruminantes.

A utilização de grãos de sorgo, especialmente de milheto e mourisco, como componentes de rações para aves em substituição parcial ou total do milho ainda requer mais estudos que indiquem maior potencial de uso.

CONSOLIDAÇÃO DA PRODUÇÃO DE NOVAS FONTES

Ao longo dos anos os órgãos de pesquisas e empresas de sementes disponibilizaram modernas cultivares das espécies elencadas, acompanhadas da tecnologia de produção. Entretanto, ainda há vários gargalos que precisam ser superados para a consolidação das alternativas com a adoção pelos produtores rurais em parceria com as indústrias de ração no quesito comercialização.

Os produtores só plantam essas culturas se houver garantia de comercialização via contrato com preços compatíveis. Na outra ponta, as indústrias só assumem compromisso se houver escala e qualidade do produto, considerando a logística de cada empresa para recepção do produto.

Por final, uma parte fundamental da engrenagem são os profissionais da nutrição que tratam da formulação de rações. São eles que têm a competência para selecionar os ingredientes disponíveis para cada ração de forma segura, que garanta o melhor desempenho zootécnico e qualidade do produto final. Também é com a participação dos nutricionistas que as empresas poderão estabelecer os preços possíveis de serem acordados e pagos aos produtores.

A mitigação da vulnerabilidade da indústria de proteína animal pela excessiva dependência do milho envolve toda a cadeia produtiva do setor.

Referências sob consulta junto ao autor.

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