Muitos produtores se orgulham por haver atravessado ondas de calor, ou frio intenso, sem registrar mortalidade no aviário, como se isso fosse prova de uma ambiência eficiente. Porém, segundo a especialista Gabriela Pereira, isso não quer dizer que as aves saíram ilesas.
“Não fazemos climatização para que a galinha não morra. Fazemos para tirar o máximo desempenho da nutrição e genética que usamos”, alertou ela, durante palestra no II Seminário Hy-Line White América Latina.
Gerente Técnica da Plasson do Brasil, Gabriela foi direta ao afirmar que o setor ainda toma decisões importantes com base na sorte. “Temos que deixar de fazer manejo baseado na sorte. Quando não há controle, é o acaso que define o desempenho. E a gente sabe o preço que se paga por isso.”
Ela lembrou que os efeitos do estresse térmico vão muito além da mortalidade visível. Ofegação, condenações respiratórias, desequilíbrio metabólico e imunossupressão estão entre as consequências de se manter aves fora da zona de conforto térmico.
“A galinha começa uma compensação fisiológica para contornar o problema e pode acabar morrendo. Se não morre, já perdeu desempenho. E desempenho perdido não volta.”
A decisão errada começa na recria
Gabriela destacou que o sucesso produtivo de uma linhagem longa — como a Hy-Line W-80 — depende de decisões tomadas nas primeiras semanas. “O sucesso da produção começa na recria. Se faço uma recria bem feita, com imunidade e uniformidade, tenho uma ave pronta para suportar desafios.”
Segundo ela, o ambiente térmico dos primeiros dias “grava” na ave memórias fisiológicas que influenciam toda a vida produtiva. “O que você der à galinha nas primeiras semanas é o que ela vai carregar para o resto da vida. Se você der estresse, ela vai compensar o ciclo inteiro.”
Uma das críticas mais contundentes foi ao uso de soluções equivocadas para problemas estruturais. “Vendemos mais exaustores, gastamos mais energia elétrica e fazemos com que a galinha sofra”, alertou.
De acordo com a especialista, não adianta aumentar o número de ventiladores se o isolamento for ruim ou se os inlets estiverem mal posicionados. “O ar tem que entrar por onde queremos e sair por onde queremos. Precisa entrar com velocidade para se misturar com o ar quente que já está no aviário e fazer a distribuição correta. Isso só acontece com isolamento bem-feito e projeto coerente.”
Ela citou um exemplo de mortalidade por acúmulo de dióxido de carbono após uma vacinação, gerado por ausência de ventilação adequada.
“O frio traz prejuízos, mas o calor mata. E a gente está matando aves por não entender que o controle ambiental não é só ligar exaustor.”
Gabriela reforçou que cada tipo de ventilação tem seu papel específico no sistema:
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Ventilação mínima, usada no inverno ou quando a temperatura está abaixo da desejada.
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Ventilação de transição, quando a temperatura se aproxima da meta, mas ainda exige troca de ar.
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Ventilação túnel, para dias quentes e ambientes com alta exigência de troca térmica.
“O ponto principal da ventilação mínima é transformar fisicamente o ar frio de fora em algo aproveitável dentro do galpão. O ar precisa entrar com velocidade, se misturar com o ar quente e seguir para os exaustores.”
Ela lembrou que muitos projetos ainda ignoram essas transições e usam o mesmo padrão o ano inteiro. “Tem regiões em que a gente chega e tem galinha morrendo de frio, mas o produtor acha que está tudo bem porque não tem termômetro mostrando 5 graus.”
Durante a palestra, Gabriela usou uma analogia didática para explicar a diferença entre umidade absoluta e umidade relativa, e como isso impacta a ambiência.
“O ar quente é como uma esponja — absorve umidade. O ar frio é como uma pedra — não segura nada. Então, se eu trago ar frio para dentro do galpão e não gero movimento, ele não consegue fazer a troca. E aí a ave sofre.”
Ela explicou que o movimento do ar precisa ser planejado de acordo com o volume do aviário, velocidade de entrada, e posição dos inlets. “Quanto mais largo o galpão, maior a velocidade de entrada do ar. Isso muda totalmente o que acontece lá dentro.”
Ambiência é conceito, não equipamento
Para Gabriela, o maior erro do setor é tratar ambiência como gasto ou como compra de maquinário. “Somos vendedores de conceitos. Muito mais que vender exaustor ou painel, queremos ajudar o produtor a entender como cada decisão afeta o desempenho do lote.”
Ela citou o projeto feito em parceria com a Hy-Line em uma granja modelo como exemplo de que planejamento técnico supera improvisos e soluções paliativas.
E finalizou com um alerta direto. “Se a galinha saiu da zona de conforto térmico, você já teve prejuízo. Mesmo que ela não morra.”
O II Seminário Hy-Line White para América Latina ocorre pela primeira vez no Brasil, reunindo mais de 300 participantes do Brasil e América Latina, com foco técnico em genética, nutrição, manejo, sanidade e inteligência de mercado.