As exportações brasileiras de carne e produtos avícolas em 2022 – Um texto de Osler Desouzart (osler@odconsulting.com.br)
O ano de 2022 foi favorável para as exportações brasileiras de carne de frango e seus derivados, atingindo um total de 4.822.384 toneladas, um aumento de 4,61% em relação a 2021. O mais relevante foi o aumento de 27,39% no valor dessas exportações (US$ 9.762 milhões) graças aos melhores preços médios obtidos, que evoluíram de US$ 1.662 por tonelada em 2021 para US$ 2.024 ptm no ano que se encerrou.
O detalhamento da composição das exportações brasileiras de frango pode ser encontrado na Tabela I.
A Tabela II mostra a evolução percentual de cada uma das categorias. A maior evolução nos preços médios foi registrada pelo frango inteiro, que foi a única categoria de produto que sofreu uma queda em volume, refletindo a redução progressiva das importações da Arábia Saudita. Esse fato foi parcialmente compensado pela posição que os Emirados Árabes Unidos passaram a ocupar como o segundo maior receptor em volume de frango brasileiro e o terceiro em valor.
Geralmente, inicio os treinamentos que dou a executivos de empresas com uma apresentação intitulada “As coisas mudam”, que conclui com uma verdade imutável e atemporal: “as coisas continuarão a mudar e a mudar cada vez mais rápido”. O frango inteiro que substituiu o frango vivo agora está sendo substituído por partes de frango, e essas partes serão substituídas por apresentações que permitem que o consumidor as prepare desde que saiba como ligar um forno. Em suma, o frango inteiro continuará perdendo terreno, mesmo que seja ajudado por males protecionistas, como é o caso das exportações brasileiras.
A Tabela III mostra o avanço progressivo dos cortes de frango, que se tornaram, de longe, a categoria de produto mais importante e estão ganhando importância a cada ano.
Os Gráficos I e II mostram o destino das exportações brasileiras por região do mundo, liderado tanto em volume quanto em valor pela Ásia e seguido pelo Oriente Médio. Nas estatísticas de organizações internacionais, os países do Oriente Médio são classificados como parte da Ásia, o que aumentaria a importância dessa região não apenas para as exportações de frango, mas também como o principal destino de todas as exportações do agronegócio brasileiro.
Dos 169 países que importaram carne de frango e seus produtos, os valores variam de quase nada (US$ 10,00 – amostra de embarque com certeza) a US$ 1,35 bilhão (14,1% do valor total exportado) comprados pelo Planeta China, seguido pelo Japão US$ 961 milhões, EUA US$ 952 milhões. e US$ 844 milhões da Arábia Saudita, que reduziu as compras de frango inteiro, mas continua sendo um dos maiores importadores de carne de frango e seus produtos.
Os gráficos de Pareto III e IV abaixo listam os quinze maiores importadores em volume e valor, e confesso que tive que resistir à tentação de publicar a lista completa dos países importadores, seguindo o conselho de um editor de uma revista de agronegócios: menos escrita = mais leitores.
Observe nesses gráficos que apenas dois países europeus estão incluídos entre os quinze maiores importadores de carne de frango e seus produtos, a saber, a Holanda (3,5% do volume e 4,9% do valor) e o Reino Unido após o Brexit (2% do volume e 3,0% do valor). % do valor).
Correndo o risco de ser excessivo, listarei nas Figuras V e VI os quinze principais importadores de frango inteiro, que, conforme mostrado na Tabela III acima, representa 20% do total de nossas exportações de carne de frango.
É interessante notar a forte queda nas importações sauditas de frango inteiro (Gráfico VII), também menos acentuada nos cortes de frango, o que explica a queda desse país para o quarto lugar como destino do frango brasileiro.
As partes ou cortes de frango dominam o consumo na maioria dos países e isso se traduz nas vendas externas brasileiras, que representam pouco menos de 70% (ver Tabela III) do total das exportações de carne de frango. A Figura VIII lista os quinze principais importadores dessa categoria de produto em termos de tonelagem. Observe que, desses quinze, sete estão na Ásia, quatro no Oriente Médio, dois na América Latina e dois na África.
Em termos de valor das exportações de cortes/partes de frango, os quinze principais importadores respondem por 80,2% do total das exportações, sendo seis deles na Ásia, cinco no Oriente Médio, dois nas Américas e um na África.
Observe que nas categorias de produtos apresentadas até agora (frango inteiro e partes) não há países europeus. Eles dominam completamente a categoria de carne salgada, liderados pela Holanda, que mais uma vez confirma seu status de plataforma para o comércio internacional europeu. Juntamente com o Reino Unido e a Alemanha, esses três países respondem por 96,4% do volume de carne de frango salgada (veja a Figura XII) e 88,9% do valor exportado nessa categoria.
Cinco países europeus estão entre os principais clientes do Brasil para produtos industrializados de carne de aves, três da América do Sul, um número igual de países do Oriente Médio, dois da África e dois da Ásia. É interessante notar que a Grã-Bretanha e a Holanda são o destino de quase 60% do volume e 66% do valor das vendas externas brasileiras de produtos industrializados.
Em resumo, 2022 foi um bom ano para as exportações brasileiras de frango e o país consolida sua posição como o segundo maior produtor e principal exportador de carne de frango do mundo. Até 2023, as previsões de várias fontes internacionais situam o crescimento das exportações brasileiras entre um mínimo de 2,7% e um máximo generoso de 6%. Vou apoiar a máxima latina “virtus in medium est” (a virtude está no meio).
Já afirmei em várias ocasiões que o Brasil é uma potência global do agronegócio localizada em um país que não conta internacionalmente e contra o qual é possível exercer um protecionismo descarado com a garantia de que o país não tem como retaliar. E doces na política internacional são sempre reservados para aqueles que não se comportam e sabem atirar pedras, especialmente na versão atômica de hoje.
No entanto, em 2022, o país exportou carne de frango para 169 países e fechar as portas para esses mercados teria efeitos graves sobre os preços e o fornecimento internacional, já que o Brasil é responsável por pouco mais de 30% das exportações globais de carne e produtos de frango.
Isso não isenta o país de grande preocupação e cuidado com os episódios de HPAI que se alastram pelo mundo e atingem os países vizinhos da América do Sul, seis dos quais fazem fronteira com o Brasil (Argentina, Bolívia, Colômbia, Peru, Venezuela e Uruguai).
Nossa associação, a ABPA (Associação Brasileira da Proteína Animal), mobiliza o setor e a ciência avícola brasileira para aumentar os níveis de prevenção, cuidados e biossegurança. Atualmente, há várias conferências organizadas por diferentes entidades científicas sobre biossegurança, sobre HPAI e avanços na prevenção e contenção de episódios.
Ainda assim, os riscos de a doença chegar ao Brasil são altos. Os protecionistas, especialmente a União Europeia que sofre de Alzheimer seletivo, esquecerão sua coleção de episódios e agitarão bandeiras de alerta com horror, alegando que o Brasil é a raiz de todos os males. Já aprendemos com sua matriz energética que a velha máxima “faça o que eu digo, não o que eu faço” permanece eternamente nova.
Entretanto, muitos países não correrão o risco de comprometer seu abastecimento e adotarão as medidas de salvaguarda cientificamente recomendadas, mas manterão o fluxo de compras das regiões e compartimentos brasileiros não afetados pela doença. Temos motivos para nos preocupar, mas se temos um mérito no agronegócio deste país pobre e rico, é o de sermos resilientes.
Em janeiro de 2023, as exportações brasileiras de carne de frango (considerando todos os produtos, tanto in natura quanto processados) totalizaram 420,9 mil toneladas, informa a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). O número é um recorde para o mês e supera em 20,6% o total exportado no primeiro mês de 2022, com 349,1 mil toneladas. O resultado em dólares das exportações do mês atingiu US$ 856,6 milhões, 38,9% superior ao registrado no mesmo período do ano.
Mesmo assim, não é com tranquilidade que encaramos as projeções para 2023, pois todo o histórico de surtos de HPAI mostra que a disseminação da doença para os países vizinhos é inevitável. Esperamos estar errados, mas os fatos e dados indicam que essa afirmação é mais um desejo do que uma realidade.
Fonte: Um texto de Osler Desouzart (osler@odconsulting.com.br)