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Aves reagem às micotoxinas, mesmo quando não detectadas, alerta especialista sobre perdas silenciosas na qualidade dos ovos

Escrito por: Priscila Beck
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Dietas aparentemente seguras podem estar comprometendo o desempenho de poedeiras e degradando a qualidade dos ovos, mesmo sem qualquer evidência clínica visível de presença de micotoxinas.

A afirmação é de Augusto Heck, gerente de risco para micotoxinas da DSM-Firmenich, durante palestra no II Seminário Hy-Line White para América Latina. Segundo ele, as chamadas micotoxinas mascaradas — ou modificadas — não são detectadas nos testes convencionais, mas ativam respostas no organismo das aves, gerando prejuízos contínuos.

“O animal reage à toxina mesmo quando ela não é detectada”, salientou Heck. “E a resposta metabólica tem custo”, completou.

Heck destacou que essas perdas, muitas vezes, são absorvidas pelo produtor como variações normais, sem que se perceba a real origem. Entre os principais efeitos ocultos, citou imunossupressão, atrofia de moela, lesões orais, fígado gorduroso, deformação da gema e perda de espessura da casca.

“A conversão do ovo piora e a qualidade também, mesmo sem alteração visível na dieta”, disse.

Dados levantados pela DSM-Firmenich mostram que seis em cada dez amostras de ingredientes analisadas na América Latina apresentam múltiplas micotoxinas, sendo zearalenona e deoxinivalenol (DON) as mais prevalentes — com índices acima de 60%. Em alguns casos, segundo Heck, há amostras com mais de quatro micotoxinas combinadas, o que potencializa os efeitos negativos.

O especialista lembrou que “essas toxinas não causam apenas perda de desempenho. Elas comprometem o sistema imune e abrem espaço para infecções secundárias, como salmonella”.

“A zearalenona tem ação estrogênica. Pode afetar a viabilidade embrionária, gerar lesões reprodutivas e interferir na conversão de ovo”, explicou. “Já o deoxinivalenol deprime o consumo voluntário de ração. As fumonisinas atuam sobre a integridade intestinal e favorecem translocação bacteriana.”

Segundo ele, a presença de toxinas pode interferir inclusive na formação da casca e da gema, mesmo quando os níveis estão dentro dos limites legais. “Isso afeta a espessura, o formato e a resistência da casca. É um tipo de prejuízo que muitas vezes o produtor não relaciona à ração.”

Heck também alertou para a ineficácia de algumas estratégias comuns de mitigação. Ele apresentou dados de um estudo com 32 adsorventes de micotoxinas disponíveis no mercado, mostrando que a maioria tem baixa eficácia para toxinas como DON e zearalenona.

Segundo dados apresentados por ele, produtos com menor conteúdo de cinzas foram menos efetivos, e apenas alguns atingiram níveis de absorção acima de 70%.

“Usamos enzimas que convertem toxinas como fumonisinas ou zearalenona em metabólitos inativos, de maneira seletiva e irreversível”, disse. “Essa é a estratégia mais eficaz para as toxinas que os adsorventes não conseguem neutralizar.”

No encerramento, o especialista reforçou que a avaliação de risco deve considerar a combinação de ingredientes, a origem das matérias-primas e o histórico regional de contaminação. “Não se trata de esperar sintomas clássicos. A perda de qualidade de casca e gema, por exemplo, já deve ser considerada um sinal de alerta”, concluiu.

II Seminário Hy-Line White para América Latina ocorre pela primeira vez no Brasil, reunindo mais de 300 participantes do Brasil e América Latina, com foco técnico em genética, nutrição, manejo, sanidade e inteligência de mercado.

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