Ícone do site aviNews Brasil, informações avicultura

Brasil pode dobrar capacidade energética do diesel importado com biogás de granjas, aponta especialista

Escrito por: Priscila Beck
PDF
Luciane Fornari Biogás

Transformar um dos maiores passivos ambientais da avicultura em uma fonte estratégica de receita e sustentabilidade foi a proposta defendida por Luciane Fornari, CEO da PlanET Biogás Brasil, durante o painel Avicultura Sustentável e Saudável, realizado na Conbrasul Ovos 2025. Em sua palestra, Luciane apresentou projeções contundentes sobre o potencial energético do setor, afirmando que os resíduos da produção animal brasileira poderiam gerar biogás em volume suficiente par originar até 40 bilhões de litros equivalentes de biometano por ano.

A executiva ressaltou que esse volume seria suficiente para dobrar a quantidade de diesel importado pelo Brasil em 2023, quando somou cerca de 23 bilhões de litros, segundo dados da própria Petrobrás.

“Estamos falando de um potencial energético já disponível nas nossas granjas, mas que ainda é pouco aproveitado. Os resíduos da cadeia da produção agropecuária não são um problema — eles são ativos do nosso negócio”, destacou.

Luciane relembrou que a tecnologia do biogás não é nova, mas ainda enfrenta entraves no Brasil, especialmente na forma de organização dos produtores e no entendimento do valor estratégico dos resíduos. Para ela, o caminho passa por projetos regionalizados, com análise criteriosa da matriz de resíduos disponível em cada propriedade.

“É preciso entender que cama de frango, resíduos de laticínios e até capins e vegetais disponíveis localmente podem compor um blend valioso para geração de energia. Mas isso exige visão técnica e planejamento”, afirmou.

A executiva apresentou ainda estimativas por região. Apenas no Sul do país, o potencial de produção de biogás chega a 5,5 bilhões de metros cúbicos por ano. No Sudeste, são 4,3 bilhões; no Centro-Oeste, 1,9 bilhão; no Nordeste, 1 bilhão; e no Norte, 600 milhões de metros cúbicos.

Somadas, essas regiões representariam um volume energético suficiente para transformar a matriz logística do agronegócio, fortemente dependente do diesel.

Luciane também destacou que a partir de 2026, todas as distribuidoras de gás no país serão obrigadas a incluir pelo menos 1% de gás de origem renovável em suas redes. Segundo ela, essa exigência regulatória abre espaço para que o setor agropecuário se torne um dos principais fornecedores de biometano. “Essa é uma janela de oportunidade. Quem estiver preparado vai ocupar espaço e gerar receita”, avaliou.

Ao apresentar casos reais, Luciane Fornari demonstrou que a viabilidade já é concreta. Citou, por exemplo, uma empresa brasileira de logística que, ao converter parte da frota para o uso de biometano, passou a economizar até R$ 3 por litro, em comparação com o diesel.

Outro exemplo veio de uma usina de pequeno porte que, mesmo com capacidade limitada, conseguiu gerar até R$ 180 mil mensais com a produção de gás renovável.

Na avaliação de Luciane, a demora em adotar essas soluções não se justifica diante do cenário atual. Ela comparou o momento vivido pelo biogás ao início do programa do etanol no Brasil, nos anos 1970.

“Naquela época, muita gente duvidava da viabilidade do álcool como combustível. Hoje ele é parte estruturante da nossa matriz energética. Com o biogás, o caminho pode ser semelhante — e já começou”, defendeu.

O encerramento da fala foi um chamado à ação. Para a palestrante, não basta que a tecnologia exista: é preciso que os produtores, cooperativas e empresas do setor passem a enxergar a gestão de resíduos como parte central da estratégia de crescimento. “Estamos falando de energia, de economia e de autonomia. É hora de deixar de ver o resíduo como um problema e passar a tratá-lo como solução”, concluiu.

PDF
Sair da versão mobile