O maior risco que podemos ter na produção avícola é não ter um programa de biosseguridade, parte fundamental de qualquer empresa avícola para reduzir a entrada de enfermidades nos lotes de aves.
As medidas de biosseguridade são descritas para prevenir e evitar a entrada de patógenos que podem afetar a sanidade, o bem estrar e os rendimentos técnicos das aves.
Del Pino (2000), define que a biosseguridade são práticas estabelecidas para impedir a disseminação de doenças nos estabelecimentos avícolas. Que se pratica mantendo a granja de tal forma que se tenha uma circulação mínima de microorganismos através de seus limites. A biosseguridade é a prática mais barata e efetiva para o controle das doenças sendo que nenhum programa de prevenção de doenças funciona sem a sua prática.
O estado sanitário dos lotes de aves constitui um dos fundamentos da indústria avícola e isto nos obriga a possuir conhecimentos de como enfrentar as enfermidades, conhecer sobre elas, saber como se disseminam e, por sua vez, como devemos controlá-las. Por esse motivo existe a biosseguridade, para se ter produções sadias e econômicas. (Card y Nesheim, 1970).
- Isolamento;
- Controle de trânsito;
- Higienização, controle de vetores e tratamentos de resíduos;
- Quarentena, medicações e vacinações;
- Monitoramento laboratorial, confecção de registros e comunicação de resultados;
- Erradicação de enfermidades;
- Auditorias;
- Educação continuada;
- Plano de contingência
Isolamento
Localização
É um dos primeiros aspectos que se tem em conta na hora de estabelecer um programa de biosseguridade e talvez um dos fatores mais importantes. Em certas situações o êxito ou o fracasso de um programa de biosseguridade vai depender da localização da granja e seu isolamento.
Independentemente da correta orientação da granja e dos aviários em função da altitude e da latitude da região, todo aviário deve ser construído o mais longe e isolado de outros setores com aves de idades diferentes (distância mínima 300 m) ou de outras granjas de aves (distância mínima 3 Km). Assim mesmo, a granja deve se manter a mais distante e isolada possível de qualquer centro urbano, planta de abate, lixão etc.
A granja deve ter uma cerca perimetral, se possível de alambrado, que impeça a entrada de pessoas e veículos não autorizados e também a entrada de outros animais.
O setor deve ter uma cerca perimetral que permite delimitar a unidade e impedir o ingresso de pessoas, veículos e equipamentos. Estas cercas podem ter características especiais que permitam um melhor controle de roedores e evitem a entrada de animais menores.
Características dos aviários
É necessário contar com um bom isolamento do teto, assim como das paredes, não somente para favorecer a manutenção das condições ambientais de temperatura e umidade adequadas, mas também para que se possa implementar um programa de biosseguridade.
Os aviários climatizados devem evitar ou minimizar o risco de entrada de contaminantes pela entrada ar. O aviário deve estar o mais isolado possível e devemos ficar atentos para a direção dos exaustores de ar, para evitar que os mesmos eliminem a poeira para a portaria e ou para estrada interna da granja. Este isolamento deve ser construído para impedir o acesso de animais selvagens, insetos e roedores. A estrutura deve estar cercada (mínimo de 2 m de altura) em seu perímetro e com somente 2 entradas, uma para entrada do pessoal e outra para entrada de veículos, permanecendo as portas e portões fechados todo o tempo. Manter uma zona limpa de 10 metros por fora da cerca livre de vegetação, isto inibe a circulação de roedores que não circulam em terreno limpo e aberto.
Controle de trânsito
Controle de visitas e dos funcionários
As pessoas que devem ter todos os cuidados são os funcionários e estes devem evitar contatos com aves de fundo de quintal e outras aves antes de entrar na granja. As medidas devem estender aos veterinários e gerentes que devem tomar cuidados máximos, pois visitam mais de uma granja e podem ter visitado granjas com problemas.
Por isso devem respeitar um fluxo de visitas das granjas com lotes de animais mais jovens para os mais velhos, havendo risco, se necessário fazer vazio sanitário.
As salas de chuveiros devem estar separadas por áreas limpas e sujas, com o movimento em um único sentido. É obrigatório, por lei, o uso de um livro de controle de visitas, onde se especifique o nome da pessoa, da empresa, do motivo da visita, a data da visita e se teve contato com outras aves e animais.
Controle de aves de fundo de quintal nas propriedades dos vizinhos
Controle de aves de fundo de quintal nas casas dos funcionários
Antes da contratação de cada funcionário, o pessoal de recursos humanos da empresa deve visitar a casa do futuro funcionário para verificar se não existem aves de fundo quintal ou outros tipos de aves na casa. Se possível, no contrato de trabalho devem constar regras específicas de biosseguridade e que o funcionário deve sofrer penalidades se a auditoria da empresa, depois de contratado, constatar a presença de aves de fundo de quintal. No mínimo, uma vez a cada 3 meses, um representante da empresa deve fazer esta visita na casa dos funcionários.
Controle de entrada dos veículos
Os meios de transporte são pontos críticos que devemos ter em conta devido ao grande número de utilização dos mesmos e em diferentes circunstâncias. Usamos meios de transporte para: transporte de matrizes, de pintos de 1 dia ou procedentes da recria, para a retirada das aves para abate, transporte de ração e para transporte dos funcionários e de visitantes.
Os caminhões de ração devem ser dedicados para o transporte de ração das granjas de matrizes e, se possível, instalar silos externos na cerca da granja para evitar entrada nas mesmas. Quando os caminhões precisam entrar nas granjas, os motoristas não devem descer do veículo. Antes da entrada dos caminhões, estes devem ser lavados e a granja deve ter equipamento de lavação e ou rodolúvio com solução de desinfetante.
Controle de entrada de animais estranhos nos aviários
Higienização, controle de vetores e tratamentos de resíduos
Limpeza e desinfecção dos aviários e dos equipamentos
Sem uma boa limpeza e desinfecção dos aviários não podemos atingir o objetivo final de um programa de bioseguridade, que é a manutenção de um aviário livre de microorganismos que possam causar doenças.
Além das limpezas diárias e de rotina, que estão em função das aves, devemos aproveitar os vazios sanitários dos aviários, ou intervalos entre lotes, para fazer um ponto de corte das contaminações que possam ficar do lote anterior. Evite que fiquem resíduos de esterco, fezes, penas, poeira e qualquer outro resíduo orgânico do lote anterior, que possam entrar em contato com o próximo lote, uma vez que alguns patógenos morrem facilmente, mas outros conseguem sobreviver se as condições são ótimas e, principalmente, se estão em presença de matéria orgânica.
Abaixo enumeramos algumas atividades que são importantes de serem executadas na limpeza e desinfecção do intervalo entre lotes:
- Desmontar os equipamentos do aviário (comedouros, bebedouros, retirar forro dos ninhos) de tal modo que facilite a limpeza e lavação do aviários e destes equipamentos. Se a região e ou local permita, pode-se colocar para fora do aviário para que sejam lavados e sofram a ação da luz do sol, que também funciona como desinfetante;
- Retirar todo o esterco e ou cama das aves e levar para um local o mais longe possível da granja. Em caso de problemas sanitários devemos fermentar a cama por um mínimo de 10 dias, para isso devemos cobrir toda a cama com lona plástica e a cama deverá atingir temperatura de 56 a 60º Celsius de no mínimo 3 dias para depois retirar da granja. Com isso, diminuímos a pressão de contaminação de lotes da granja com fluxo de veículo retirando o esterco;
- Varrer de forma criteriosa e sacar os restos de cama e fezes, raspando com espátula ou enxada restos que não conseguimos retirar com a vassoura. Também devemos limpar a seco as lâmpadas e iluminarias, tetos, partes fixas de diferentes equipamentos, de ventiladores, persianas etc.;
- Limpar com água com grande pressão. Muito importante é usar bombas que ofereçam pressões de no mínimo 3650 libras/polegada2 ou 250 bares, pois o que limpa é a pressão de água e não volume. Para a limpeza com água devemos seguir algumas regras fundamentais: primeiro molhar com água, segundo lavar e por último enxaguar. Com a limpeza úmida vamos conseguir reduzir as partículas de poeira e resíduos de matéria orgânica do interior dos aviários, suas estruturas internas e seus respectivos equipamentos. Se possível recomendamos o uso de água quente, pois a mesma tem maior capacidade de arrastar restos de sujeiras e gorduras. Depois de lavar o aviário devemos eliminar os restos de detergentes pois os mesmos podem neutralizar a ação dos desinfetantes que serão usados mais tarde. É muito importante realizar bem as tarefas de limpeza para que o desinfetante possa exercer sua correta função, por isso antes de desinfetar devemos realizar uma verificação da limpeza. E para isto pode se checar 10 pontos de cada estrutura, ou seja, 10 pontos das cortinas, 10 pontos dos pisos, 10 comedouros, 10 bebedouros, etc. por aviário. Havendo resíduos de cama, fezes e ou poeira, devemos refazer a lavação destas partes para somente após liberar a desinfecção;
- Uma vez limpo e seco o aviário devemos realizar a desinfecção. A aplicação dos desinfetantes pode ser úmida e ou de fumigação. A maioria dos desinfetantes atuam bem numa temperatura ambiente de 20 a 22º C.
É necessário seguir as normas de segurança de uso do fabricante, como a hora de aplicação, a dose, a diluição, tempo de espera, a proteção dos funcionários quanto ao uso dos equipamentos de proteção individual (EPIs – luvas, máscaras, botas, etc).
Banhos dos funcionários e visitantes
Todas as pessoas que trabalham e que necessitam entrar nas granjas e nos aviários devem seguir os procedimentos como:
- Averiguar com o responsável pela granja se pode entrar;
- Registrar o nome no livro de controle de entrada;
- No caso de visitantes, respondendo um questionário para permitir a entrada.
Uma vez realizados os procedimentos, o funcionário/visitante será enviado aos vestiários onde devemos tirar a roupa, sapatos e objetos pessoais, depois ir à sala de banho. Antes de iniciar o banho, realizar a higiene bucal com antisséptico bucal durante 30 segundos aproximadamente.
Este procedimento pode ser adotado na entrada da granja e ou incubatório em situações de prevenção. O banho deve ser orientado por um funcionário interno responsável, principalmente no caso de visitantes. No banho, o funcionário ou o visitante deve lavar bem a cabeça, as narinas e assoar o nariz 3 vezes depois passar um pouco de espuma. Atenção deve ser dada as mãos e os pés e as unhas, onde devemos escovar bem e usar sabonete. Use roupa, botas, máscara, boné, protetor de ouvidos. E sempre faça a desinfecção com álcool gel e use pedilúvio e ou troque de botas para entrar nos aviários.
Desinfecção dos veículos, materiais e equipamentos:
Os caminhões de ração, devem exclusivos para as granjas de matrizes e se possível colocar silos de ração de barreiras para evitar a entrada do caminhão dentro dos núcleos. Os caminhões devem ser submetidos a uma limpeza para retirar a lama dos paralamas, a poeira da superfície e desinfecção rigorosa antes de entrar na granja. Os veículos devem usar o arco de desinfecção e ou desinfecção por mangueira com bomba que permita realizar uma boa desinfeção.
Higienização da ração
Higienização da água
Realizar controles periodicamente, coletando amostras em diferentes pontos: poço, caixa de água, bebedouros. Utilizar um produto higienizante para a água como o cloro e controlar de forma periódica a presença de desinfetante da água de bebida.
Controle de Roedores
Os ratos podem ser transmissores de patógenos que causam problemas na sanidade das aves, entre os quais destacamos as Salmonellas, que podem ser um desastre para as aves matrizes e sua progênie.
O risco pode ser pela chegada de ratos de outras granjas ou aviários e/ou pela disseminação da contaminação via fezes na ração. Devemos monitorar os roedores para manter a infestação a níveis muito baixos e/ou, se possível, evitar a presença dos mesmos e para isso devemos usar raticidas a cada 15 dias em pontos fixos e numerados para que em cada monitoramento seja possível determinar o consumo e ou a presença dos ratos.
Controle de Insetos
O uso de produtos inseticidas adulticidas e larvicidas devem ser intensos no período de vazio sanitário e nos demais períodos devemos um controle com aplicações a cada 15 dias para evitar um crescimento da população de insetos.
Quarentena, medicações e vacinações
É necessário seguir o calendário e o programa de vacinações que foi estabelecido pelo veterinário, pois as vacinas a serem aplicadas estão conforme o histórico e os desafios da região. O funcionário encarregado pela equipe de vacinação deve ter um conhecimento das vacinas (dose, forma de aplicação, intervalos entre as vacinas etc). Utilizar sempre material desinfetado, como seringas e agulhas limpas e esterilizadas por temperatura. Devemos registrar todos os dados pertinentes como a data de vacinação, o lote da vacina, tipo de vacina e data de validade.
Conservar as vacinas em temperatura adequada e recomendada pelo fabricante, no caso de vacinação em spray devemos interromper a ventilação do aviário durante a vacinação e no caso de vacinação na água de bebida, usar água sem cloro ou desinfetantes.
Monitoramento laboratorial, registros e comunicação de resultados
Monitoramento laboratorial e comunicação de resultados
O programa de biosseguridade deve ser averiguado e monitorado para confirmar a presença ou ausência de determinado patógenos nos lotes de aves. Usamos os procedimentos de laboratório para avaliar a imunidade que as aves conseguiram com as vacinas aplicadas. Para isso usamos, no laboratório, os testes de Aglutinação Sorológica Rápida e Lenta, Elisa, Inibição da Hemaglutinação, Bacteriologia para Salmonella, PCR, PCR Real Time.
Comunicação de Resultados
A comunicação dos resultados deve ser rápida e usar os dados para gerenciar o programa de biosseguridade.
Erradicação de Doenças
Devemos fazer uma amostragem para o laboratório com o objetivo de verificar a eficácia dos processos de limpeza e desinfecção, depois da completa desinfecção. Podemos avaliar a carga microbiológica de enterobacterias, presença de salmonella etc.
O vazio sanitário é o melhor momento para erradicar uma enfermidade da granja de matrizes e para isso, quando existe um lote com problema sanitário (por exemplo salmonella spp) e, devido ao pouco tempo que os funcionários têm para fazer uma limpeza mais detalhada, devem os veterinários e os gerentes de produção discutir e acertar a saída antecipada do lote positivo em uma ou duas semanas. Com este aumento do período é possível limpar e desinfetar os aviários e seus equipamentos de maneira muito melhor e, com isto, evitar a recontaminação do próximo lote.
Controle de resíduos, animais mortos e materiais
A granja deve contar com um sistema de manejo para os resíduos conforme legislação ambiental da região onde está construída. A compostagem é um procedimento aprovado na maioria dos órgãos ambientais e sendo bem manejados resultará na correta decomposição das aves mortas e dos resíduos da granja. Hoje em dia existem os desidratadores, que também oferecem bons resultados por aplicar alta temperatura na mortalidade e nos restos de ovos gerados e descartados na granja, reduzindo o volume a ser compostado.
Auditorias
Podemos dividir esta avaliação de forma didática:
- do processo e aplicação dos procedimentos operacionais;
- do controles e entrada de materiais;
- do controle de vetores (ratos e insetos);
- das instalações e do bem-estar animal.
E com os resultados podemos estabelecer uma nota para cada granja e também identificar quais os pontos que necessitamos melhorar.
Educação contínua
Plano de Contingência
As empresas avícolas devem estabelecer um plano de contingência para as emergências, ou toda vez que ocorra uma doença grave nas aves. Este plano deve contar procedimentos extras e necessários até que se tenha os resultados de laboratório que o lote está positivo ou negativo e com este plano podemos bloquear a disseminação da doença para outros lotes até que se elimine as aves se for o caso. Para isso descrevemos alguns pontos importantes.
Medidas de emergências em caso de enfermidades infecciosas:
- Isolamento do aviário e ou do núcleo: devemos isolar o núcleo até a confirmação dos testes do laboratório.
- Funcionários: os funcionários devem trabalhar somente nestes aviários isolados. A visita do supervisor, técnico e ou do veterinário, devem ser somente em último caso e por último. Visitar de preferência nas sextas feiras e ou sábado para fazer vazio sanitário. Realizar a separação dos funcionários do aviário e ou do setor por horário e ou por tempos diferentes de trabalho dos demais funcionários.
- Calçados e roupas: antes de entrar no aviário, calçar as botas de PCV e passar no pedilúvio e ao sair passar no pedilúvio, lavar as botas na parte externa e passar no pedilúvio. A roupa deve ficar sem contato com as outras roupas dos outros funcionários e devem ser desinfetadas antes de lavar. Pedilúvios: utilizar em todos os aviários do núcleo e lavar e desinfetar as botas na saída e entrada da sala de serviço do aviário.
- Materiais que entram no núcleo: devem ser desinfetados e ou fumigados. Não permitir a saída de materiais deste núcleo.
- Aves mortas: as aves mortas devem ser recolhidas tão logo seja possível e em bolsas plásticas e levar para incinerar e ou colocar em buraco profundo e enterrar.
- Caminhões e outros veículos: devem chegar por último e depois desinfetar na saída. Se possível o veículo deve sair por outro caminho e ou estrada para não cruzar com os outros veículos.
- Ovos: coletar os ovos separados e fumigar na saída dos aviários. Os ovos devem ser transportados e manipulados em separados na granja e no incubatório. Ovos sujos e de cama devem ser eliminados enquanto não se tenha o resultado final do laboratório.
Conclusões:
Quando estabelecemos os pontos críticos de controle de um Programa de Biosseguridade e estes são monitorados corretamente, verificamos que o êxito é observadoquando diminuem os problemas sanitários, os índices de mortalidades, os gastos com medicamentos e a melhora na qualidade dos produtos, como ovos férteis e os pintinhos produzidos.
Os procedimentos de limpeza, desinfecção, desinfestação, desratização e os demais devem descrever a realidade prática das atividades da granja e, para isso, os funcionários devem participar com sugestões para a criação destes procedimentos.
A Biosseguridade deve fazer parte da cultura da empresa, a tal ponto que todos possam contribuir para o sucesso do programa.
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Referencias Bibliográficas
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