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Experiências no controle da Bronquite Infecciosa no Brasil

Escrito por: Jorge Chacón - M.V. MSc. PhD Serviços Veterinários – Ceva Saúde Animal - Brasil
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Conteúdo disponível em: Español (Espanhol)

A indústria avícola brasileira destaca-se pela alta produtividade e competitividade no cenário mundial. Este destaque é consequência de vários fatores que incluem, entre outros:

Infraestrutura moderna dos aviários;

Produção interna de insumos alimentícios de alta qualidade;

Estado sanitário medianamente controlado em relação aos países da região.

As doenças infecciosas podem ter efeitos catastróficos sobre a avicultura industrial pelo seu impacto na produtividade, mortalidade e restrições comerciais. A indústria avícola brasileira encontra-se livre da Influenza aviária de alta e baixa patogenicidade, vírus velogênico da doença de Newcastle e Salmonella pullorum. Já as granjas de matrizes e frango de corte estão livres do vírus da Laringotraqueite infecciosa, Mycoplasma gallisepticum e Hepatitis causado por Adenovirus.

Nos últimos anos, os principais desafios sanitários foram causados pelo vírus da Bronquite infecciosa (BI) e Salmonelas paratíficas que afetam a exportação de carne de frango. Embora a BI dificilmente leve a taxas de mortalidade superiores a 10%, ela causa elevadas perdas econômicas devido aos múltiplos parâmetros que são afetados, muitas vezes não sendo mensuráveis. 

Uma publicação do Banco Mundial de 2011 coloca a BI como a segunda doença que leva a maiores prejuízos econômicos na avicultura industrial mundial, apenas o vírus de Influenza de alta patogenicidade leva a maiores perdas que a BI.

Esta publicação tem como objetivo resumir os principais acontecimentos que levaram o país a adotar novas estratégias de controle.

1. Descrição do problema

Embora os planteis avícolas do país foram intensamente vacinados com a cepa Massachusetts desde 1980, problemas sanitários suspeitos de BI continuavam sendo descritos em granjas de frango de corte, matrizes e poedeiras comerciais em todo o país.

Os resultados sorológicos e de isolamento confirmavam o diagnóstico clínico e mostravam que vírus da BI (VBI) era o causador destes desafios

Na tentativa de aliviar os problemas sanitários:

frangos de corte eram vacinados no incubatório e revacinados na granja;

aves de vida longa recebiam doses de vacina viva cada 8 semanas nas fases de recria e produção mais o uso de até duas doses de vacina inativada

 

Contudo, os problemas de BI continuavam sendo relatados.

2. Caracterização do agente causal

VBI tem um genoma propenso a processos de mutações e recombinações. Alterações genéticas no gene da espícula (S) levam à aparição de novos vírus, chamados de “variantes”. Estes vírus variantes são na maioria de vezes inadequadamente neutralizados por vacinas preparadas com cepas geneticamente diferentes aos vírus circulantes no campo.

É sabido que existe uma correlação positiva entre o nível de semelhança genética dos vírus vacinais e de desafio com o nível de proteção cruzada.

Toda esta informação levou a conclusão de que era necessário caracterizar molecularmente os VBI que eram isolados de quadros clínicos em lotes vacinados com a cepa Massachusetts.

A disponibilidade e uso de técnicas moleculares nos permitiu a caracterização molecular dos VBI circulantes no Brasil desde mediados da década passada.

Os primeiros vírus sequenciados mostraram ser geneticamente diferentes à cepa vacinal Massachusetts e outras cepas Norte-americanas e Europeias.

Finalmente era identificado geneticamente o vírus variante causante de grandes disturbios sanitários e prejuizos econômicos no Brasil .

3. Epidemiologia 

O primeiro estudo epidemiológico conduzido em nível nacional revelou uma alta prevalência e distribuição geográfica de vírus variantes no Brasil. Surpreendentemente, vírus detectados em todas as regiões avícolas brasileiras; originados de granjas de frango de corte, postura e matrizes; e envolvidos em quadros respiratórios, renais, reprodutivos, e de baixa produtividade eram causados pelo mesmo vírus.

Esta alta semelhança molecular entre os vírus detectados nos permitiu chamar estes vírus variantes como genótipo BR.

“Assim, uma nova cepa da BI era detectada, caracterizada e reportada no mundo”. (Chacón et al., 2011)..

As análises moleculares também revelaram que o vírus BR é geneticamente diferente de todas as cepas detectadas em outros continentes (Tabela 1).

 

Tabela 1. Semelhança genética entre isolados BR e cepas representativas após análise do gene S1 completo do VBI (nucleotídeos e aminoácidos (2003-2008)

Trabalhos publicados até o momento continuam confirmando a circulação de dois cepas virais dominantes no Brasil: cepa BR e Massachusetts (Gráfico 1). Outras publicações científicas mostraram que o vírus BR estava circulando no Brasil pelo menos desde a década de 1970, antes da introdução da cepa vacinal Massachusetts.

Mas o vírus BR não é exclusivo do Brasil, ele já foi detectado em países vizinhos como Argentina e Uruguai. Estudos de epidemiologia moleculares devem continuar sendo realizados no subcontinente para confirmar a presença desta cepa em outros países.

Gráfico 1: Vírus da BI circulantes no Brasil entre 2010 a 2015

4. Patogenicidade

Estudos experimentais foram conduzidos em aves SPF e comerciais para confirmar a patogenicidade do vírus BR.

Trabalhos conduzidos por Chacón et al., 2014 e Fernando et al., 2017 reproduziram a doença de forma experimental. Os sinais clínicos e alterações macro e microscópicas em tecidos respiratórios e renais demostraram a patogenicidade do vírus BR, o que explica a mortalidade e baixa produtividade dos lotes afetados por este vírus no campo.

Fotos 1: Sinais clínicos e alterações microscópicas em aves desafiadas com o vírus BR (Chacón et al., 2014)

Foto 2: Alterações microscópicas em traqueia e rim de aves desafiadas com o vírus BR (Fernando et al., 2017)

Posteriores estudos experimentais demonstraram a ineficácia da cepa vacinal Massachusetts para proteger a ave contra o desafio pelo vírus BR.

A cepa Massachusetts conferiu proteção parcial contra sinais clínicos e ciliostase.

Porém, as aves vacinadas excretaram para o ambiente a mesma quantidade de vírus de desafio que as aves não vacinadas. Isto mostrou a incapacidade da vacina Massachusetts de reduzir a pressão de infecção nas granjas.

5. Impacto produtivo e econômico

Após confirmação da circulação do vírus BR, empresas avícolas quantificaram as principais perdas econômicas que a doença causava.

Tabela 2. Principais perdas causadas pelo vírus BR em matrizes e
frangos de corte, Estado de Paraná (Assayag et al., 2012).

6. Implementação de novos programas vacinais

Os resultados das pesquisas moleculares, epidemiológicas, patológicas e de proteção, mais as avaliações econômicas sobre as perdas causadas pelo vírus BR permitiram o registro no Brasil de uma vacina viva (Cevac IBras) e uma vacina inativada polivalente para matrizes (Cevac Maximune Pro) contendo a cepa BR. A seguir, especificações sobre a forma de uso destas vacinas:

Frangos de corte:

é suficiente apenas uma dose da vacina viva cepa BR no incubatório. Não se recomenda a revacinação no campo com qualquer vacina viva de BI.

Poedeira comercial:

se recomenda o uso de três doses da vacina viva cepa BR na fase de recria. A revacinação durante a fase de produção depende do nível de pressão de infecção, pois no momento não há uma vacina inativada com cepa BR disponível para as poedeiras comerciais.

Matrizes:

três doses da vacina viva cepa BR durante a fase de recria e uma dose de vacina inativada contendo a cepa BR é suficiente para conferir proteção eficiente e prolongada por tudo o ciclo produtivo do lote, sendo desnecessário a revacinação na fase de produção.

Tabela 3. Programas vacinais usando vacinas viva e inativada com cepa BR

 

7. Avaliação dos programas vacinais implementados

Cumprido um ano desde a comercialização da vacina viva com cepa BR, as empresas avícolas reportam evidentes benefícios sanitários e produtivos.

Frangos de corte

Os benefícios sanitários, produtivos e econômicos podem ser observados na granja e no incubatório.

 

Tabela 4. Principais benefícios observados na granja e no abatedouro de lotes de frango de corte vacinados com vacina viva BR no incubatório.

Poedeiras 

Os benefícios da vacina viva com cepa BR são claramente observados nas fases de recria e produção.

Figura 1. Peso corporal durante a fase de recria de lotes de poedeiras imunizadas com diferentes programas vacinais.

 

Matrizes

Os benefícios do programa vacinal que incluem o uso de vacinas viva e inativada com cepa BR incluem vantagens:

Produtivas

As empresas usando o programa com cepa BR relatam melhoras em todos os indicadores de produtividade e econômicos (redução da mortalidade, eliminação da antibioticoterapia, aumento da produção de ovos por ave alojada, aumento de ovos e pintinhos vendáveis por ave alojada). Estes dois últimos itens são explicados pela evidente melhora da qualidade da casca. Lotes consecutivos com vacinas BR estão atingindo indicadores de produtividade acima do padrão da linhagem (Gráfico 2).

Figura 2. Principais indicadores de produtividade em matrizes pesadas usando diferentes programas vacinais (lotes de 100. 000 aves as 65 semanas de idade)

Conveniência

Com o programa baseado em vacinas BR, as empresas diminuiram o número de vacinações na granja. Não existe mais a necessidade de vacinação com vacina viva na fase de produção de ovos.

 

M.V. MSc. PhD. Jorge Chacón – pesquisador membro da equipe do Laboratório da Patologia Aviária da Universidade de São Paulo (USP) que conduziu os primeiros trabalhos de caracterização molecular, epidemiologia, patogenicidade e proteção contra a Bronquite Infecciosa no Brasil. O autor do artigo junto com o Prof. Antonio Piantino denominou o vírus variante do Brasil como vírus BR.

 

 

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