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Os produtores de frango chineses esperavam de 2020 um ano excelente. Mas um bloqueio sem precedentes de pessoas e bens para conter o surto de coronavírus afetou o ciclo de vida curto, mas intenso, das aves.
A situação ameaça a produção de carne no país mais populoso do mundo, que já enfrenta um enorme déficit de carne suína. Inclusive, em 2019 a produção de aves da China aumentou 12%, para 22,39 milhões de toneladas, numa tentativa de diminuir a lacuna causada pela escassez de carne de porco pela peste suína africana, que devastou o rebanho doméstico.
Cerca de metade das galinhas da China é criada por produtores individuais, envolvidos em apenas uma, ou duas etapas da cadeia de frangos, em vez de operações integradas. E isso os tornou vulneráveis às restrições à movimentação de animais e à escassez de mão-de-obra resultantes dos esforços de Pequim para conter a propagação de um novo coronavírus, que matou mais de 2.200 pessoas e infectou cerca de 75.000.
Muitas estradas para aldeias em todo o país ainda estão bloqueadas, dificultando a entrega de alimentos e o movimento de aves, apesar dos esforços do governo para aliviar problemas de indústrias vitais, como alimentos.
Algumas fábricas de alimentos para animais e abatedouros ainda estão fechados, enquanto outras estão começando a reabrir, após feriados prolongados, mas operando abaixo da capacidade. Isso atrapalhou o fluxo de uma cadeia de suprimentos, que começa com a venda de pintos de um dia, pelo incubatórios às granjas de produção, passa pela distribuição de frangos para produtores e termina com o abate de aves engordadas, tudo em menos de um ano.
“Cada passo precisa funcionar no mesmo ritmo, caso contrário, haverá desequilíbrio”, disse à Reuters Pequim, Pan Chenjun, analista sênior do Rabobank.
Pan Xingle, que produz galinhas sob contrato com um abatedouro, no condado de Yi, província de Hebei, ainda aguarda o abate de 16.000 aves com mais de 50 dias de idade. O abatedouro acaba de reabrir após um feriado prolongado e há uma fila de produtores aguardando o abate de suas aves.
Frangos de corte usados por cadeias de fast-food e cantinas públicas, atingem seu peso máximo de 2,6 kg (5,7 lb) em cerca de 40 dias.
“Disseram-me que precisaria esperar pelo menos mais 10 dias”, disse Pan. Isso significa que o produtor não reabastecerá sua granja com novos pintinhos por mais um tempo, prejudicando os negócios de alguns dos 45 milhões de produtores que criam ‘matrizes’ na China.
Abaixo do Custo
Atualmente, os preços dos pintos de um dia vendidos por esses produtores estão abaixo do custo, variando de 1,4 yuan a 2,5 yuan (cerca de 20 a 35 centavos de dólar) por pintinho. O preço médio no ano passado foi de 6,8 yuan.
Zhang Yanguang, gerente da granja de produção Beijing Lvyan Poultry Center, localizada em uma vila no noroeste da capital, disse que mesmo que ele possa vender seus pintinhos, as estradas para a vila ainda estão bloqueadas e os caminhões não podem entrar nem sair pelo coronavírus.
Pior ainda, a maioria dos abatedouros do nordeste e noroeste da China ainda está fechada, então ele também não pode se livrar de aves de descarte. “Todo o mercado está fechado”, disse ele, estimando que a capacidade de abate está atualmente em torno de apenas 30%.
Se a pressão às granjas como a de Zhang continuar após este mês, isso poderá forçar o fechamento de alguns negócios, disse a analista do Rabobank, Pan Chenjun, atingindo os incubatórios mais acima na cadeia, que aumentam o estoque de avós para produzir as matrizes.
“Então os incubatórios terão que destruir pintinhos de um dia, ou ovos”, disse ela.
Com escolas e muitas fábricas e restaurantes ainda fechados pelo coronavírus, a menor produção de frango e ovos ainda não é um problema. Porém, quando os negócios retornarem, os suprimentos poderão diminuir, disse Pan.
É provável que o efeito da crise gerada pelo coronavírus seja observado no segundo e terceiro trimestres, disse uma autoridade do Ministério da Agricultura chinês no início desta semana. Desafios semelhantes estão enfrentando os produtores de ovos, que são incapazes de colocar ovos frescos no mercado, nem substituir suas galinhas de descarte.
Essa situação poderia ajudar agricultores como Li Shunji, da província de Shandong, no norte, que está vendendo seus ovos com prejuízo, porque ele não tem mais acesso aos grandes mercados de Pequim e Tianjin. Mas, ele ainda tem preocupações, já que, enquanto esperava receber um novo lote de pintinhos, se preocupou com a interrupção do transporte.
“Eles são tão frágeis nessa fase. Movê-los pode levar à morte, ou reduzir sua produtividade no futuro. Mas eu não posso fazer nada. Vou ter que esperar”.
Reportagem de Hallie Gu e Dominique Patton. Reportagem adicional da redação de Beijing; Editando por Raju Gopalakrishnan