Há mais de um ano, o governo chinês se recusa a entregar, aos Estados Unidos, amostras de laboratório de um vírus de Influenza que evolui com rapidez. A informação é trazida pelo New York Times da última quinta-feira (30/8), a quem servidores federais de saúde informaram que as amostras são necessárias para o desenvolvimento de vacinas e tratamentos.
Segundo o Jornal, as solicitações de servidores governamentais e instituições de pesquisa norte-americanas seriam persistentes, porém a China não forneceu as amostras do vírus Influenza A (H7N9). O referido vírus é parte de um subgrupo que normalmente circula entre as aves, podendo ser transmitindo para humanos.
Até recentemente a referida troca de amostras foi uma rotina, segundo as regras estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Alguns cientistas, segundo o New York Times, temem que o intercâmbio de suprimentos médicos e informação possa diminuir devido às disputas comerciais entre Estados Unidos e China. Isso poderia criar obstáculos à prevenção do que eles classificam como próxima ameaça biológica.
O panorama é “diferente da escassez de alumínio e grãos de soja”, destacou Michael Callahan, especialista em doenças infecciosas da Escola de Medicina de Harvard – NYT. “Por em risco o acesso dos Estados Unidos a patógenos de outros países e terapias para atacá-los prejudica a capacidade da nossa nação para se proteger de infecções que podem se propagar pelo mundo em questão de dias”, afirmou 0 NYT.
Os especialistas concordam que é provável que a próxima pandemia mundial provenha de um agressor reincidente: a Influenza. E o vírus H7N9 é um dos candidatos. Desde que surgiu na China, em 2013, o vírus se espalhou por granjas avícolas, até evoluir para uma cepa com um grau patógeno muito alto, que pode infectar os humanos e chegou a levar 40% de suas vítimas à morte.
Se a referida cepa chegar a ser transmitida entre humanos, as vacinas sazonais fornecerão de pouca a nenhuma proteção, segundo a matéria do NYT. O Jornal chega a destacar que, em essência, os norte-americanos não têm nenhum grau de imunidade.
“A influenza pandêmica é a doença que se propaga em maior velocidade”, declarou ao NYT Rick Bright, diretor da Autoridade para o Desenvolvimento e Pesquisa Biomédica Avançada, una agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos, que supervisiona o desenvolvimento de vacinas. “Não há nada que a possa conter ou gerar atrasos. Cada minuto é de vital importância”, asseverou.
Segundo um acordo estabelecido pela OMS, os países participantes devem transferir “de maneira rápida” amostras de influenza com potencial pandêmico aos centros de pesquisa designados. O mais comum é que esse processo – que envolve trâmites, aprovação de várias agências e um transportador autorizado – necessite de vários meses, de acordo com Larry Kerr, diretor de ameaças pandêmicas e emergentes do Departamento de Saúde e Serviços Humanos.
No entanto, mais de um ano depois de uma onda devastadora de infecções de H7N9 assolar a Ásia – foram reportados 766 casos, quase todos na China -, os Centros para Prevenção e Controle de Doenças (CDC) continuam esperando várias amostras virais, segundo confirmaram, ao NYT, o Conselho de Segurança Nacional e a OMS.
Cientistas do Departamento de Agricultura enfrentaram tantas dificuldades para que a China lhes fornecesse as amostras de influenza que pararam de solicitá-las por completo, segundo informou anonimamente ao NYT um servidor público não autorizado a falar sobre o assunto.
Ao menos quatro instituições de pesquisa vêm dependendo de um pequeno grupo de amostras de H7N9 relativo a casos ocorridos em Taiwan e Hong Kong (as quatro pediram para não serem identificadas por medo de tensionar mais as relações). A Embaixada da China em Washington não respondeu a reiteradas solicitações de declarações feitas pelo Jornal. O Centro Chinês para Controle e Prevenção de Doenças também não respondeu às preguntas sobre a transferência, segundo o NYT.
De acordo com os pesquisadores, quando o vírus H7N9 apareceu pela primeira vez na China, o governo chinês forneceu informações em tempo hábil. No entanto, as comunicações foram piorando de forma gradual.
Alguns cientistas que buscam compreender a evolução do vírus, mencionaram ao NYT que é preciso uma pesquisa intensa sobre um surto súbito de infecções ocorrido durante a onda ocorrida em 2016 e 2017.
As recentes tensões comerciais poderiam piorar o problema
Em abril, o Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos divulgou uma lista com produtos que estariam sujeitos a tarifas, entre eles produtos farmacêuticos como vacinas, medicamentos e dispositivos médicos. Até agora, nenhum desses produtos chegou às listas finais de tarifas.
No entanto, as negociações comerciais com a China terminaram em 23 de agosto com poucos sinais de progresso, o que aumenta a probabilidade de tarifas adicionais.
Os Estados Unidos dependem da China não só para as amostras de Influenza H7N9, como também para suprimentos médicos, como mecanismos plásticos de gotejamento para soluções salinas intravenosas, assim como ingredientes para certos fármacos oncológicos e anestésicos. Alguns desses são entregues por meio de um modelo de produção “just in time”; não há reservas, o que pode ser perigoso se for interrompido o fornecimento, destacaram servidores da saúde ao NYT.
Os cientistas acreditam que os altos funcionários de comércio de ambos os governos consideram que as amostras virais são como qualquer outro produto de laboratório, podendo não estar familiarizados com seu papel vital na segurança global.
“Os países não são donos de suas amostras virais, como não o são das aves no céu”, afirmou ao NYT Andrew Weber, que supervisionou os programas de defesa biológica do Pentágono durante o governo de Obama – NYT.
“Considerando que esse vírus da Influenza é uma ameaça potencial para a humanidade, é escandaloso não compartilhá-lo de imediato com a rede global de laboratórios da OMS, como os CDC. Muitas pessoas poderão morrer desnecessariamente se a China se nega a dar acesso internacional às amostras” – NYT.
Conteúdo reproduzido, com algumas alterações, do NYT