Novos cálculos financeiros sugerem que os custos envolvidos com prevenção, tratamento e perdas produtivas devido à coccidiose podem chegar em torno de 14 bilhões de dólares americanos globalmente ao ano (Blake et al., 2020a).
A maioria dessas drogas continua em uso até os dias de hoje, o que levou a inúmeras avaliações de resistência ou perda de sensibilidade (Yadav and Gupta, 2001; Conway et al., 2001; Peek and Landman, 2003; Bafundo et al., 2008; Arabkhazaeli et al., 2013; Zhang et al., 2013; Lan et al., 2017).
O uso contínuo de anticoccidianos tem o potencial de levar a alterações genéticas nas Eimerias mas, infelizmente, ainda não temos métodos moleculares práticos para avaliar essas alterações (Blake et al., 2020b).
TESTES DE SENSIBILIDADE
Por isso, os testes de sensibilidade aos anticoccidianos (ASTs) precisam ser realizados in vivo, o que restringe a escolha de muitas drogas e diferentes cepas de Eimeria para o teste (Peek and Landman, 2011).
Os parâmetros avaliados em ASTs podem variar entre:
O AST vem sendo pouquíssimo utilizado no Brasil, mas nos EUA e na Europa, em função de uma maior disponibilidade de recursos e proximidade entre a indústria farmacêutica e as universidades, os testes de sensibilidade aos anticoccidianos são realizados com maior frequência para nortear a escolha da molécula a ser administrada. Eles representam a forma mais viável de avaliar a eficácia de um fármaco anticoccidiano em provas exigidas pelas autoridades regulatórias para registro ou extensão de bula (Chapman, 1997; Naciri et al., 2003; Peek and Landman, 2003).
FERRAMENTAS DISPONÍVEIS
Na avicultura moderna, o controle efetivo da coccidiose está relacionado ao bom uso das ferramentas disponíveis, sendo:
seguida por vacinas e produtos alternativos (Blake et al., 2017; Fatoba and Adeleke, 2018).
Considerando o aumento da população humana e a crescente necessidade por proteína de frango, os anticoccidianos foram e continuarão sendo parte fundamental:
PESQUISA CIENTÍFICA
Buscando ampliar a compreensão da situação atual de resistência aos anticoccidianos utilizados no Brasil, a equipe técnica de Avicultura da Zoetis recentemente publicou um trabalho científico no Poultry Science que avaliou:
Além de avaliar a sensibilidade dos parasitas a essas drogas, foram analisados outros aspectos, como:
Veja abaixo a tabela mais relevante do trabalho que demonstra as diferenças nos resultados de conversão alimentar entre os diferentes produtos avaliados.
Os Efeitos combinados indicam quantos por cento cada molécula reduziu a conversão alimentar em relação ao grupo controle positivo (com desafio e sem moléculas). O intervalo de confiança indica qual o efeito esperado na redução da CA, dentro do limite superior e inferior. Quanto mais negativo esse número, maior a redução na conversão, o que indica melhor aproveitamento do alimento.
NÍVEIS DE SENSIBILIDADE
Estes resultados identificaram:
Mesmo que algumas moléculas continuem a não perder totalmente sua eficácia, a troca frequente, baseada em estudos de sensibilidade, pode identificar oportunidades de ganhos de performance e econômicos.
NICARBAZINA
Isso chama a atenção, pois em avaliações similares realizadas nos EUA e na Europa é muito comum o tratamento com nicarbazina se destacar frente aos demais anticoccidianos (Mathis et al., 1984; Mcdougald et al., 1986; Bafundo et al., 2008).
Embora a nicarbazina seja reconhecidamente a molécula mais eficaz no controle da coccidiose, isso pode estar mudando. O motivo pode estar no fato de que os programas de anticoccidianos brasileiros têm utilizado a nicarbazina pura, ou associada a outro ionóforo continuamente, sem fazer rotação.
Os mecanismos de desenvolvimento de resistência das Eimerias frente à nicarbazina são ainda pouco compreendidos (Chapman, 1997), mas vale a pena um aprofundamento nesse ponto com ampliação do número de AST em outras regiões brasileiras para verificar a extensão dessa ocorrência.
MAIORES EFEITOS
As moléculas que apresentaram os maiores efeitos sobre GP, CA, e escores de lesão neste estudo foram decoquinato e lasalocida. Uma hipótese para esse resultado seria que essas drogas estariam “descansadas” pela baixa frequência de uso nos programas de anticoccidianos e que houve a restauração da sua sensibilidade (Chapman and Jeffers, 2015).
Esse efeito de restauração de sensibilidade foi observado com salinomicina, após 5 lotes criados sob diferentes programas de drogas e uso de vacina.
No programa Dual
Enquanto na rotação:
Estritamente falando, rotacionar entre um ionóforo monovalente e outro pode ser considerado rotação, porém levando em consideração que pode existir resistência cruzada dentro de uma mesma classe de ionóforos (Weppelman et al., 1977), a relevância desse tipo de rotação poderia ser questionada (Gussem, 2007).
A rotação de moléculas, quando utilizada de forma racional, deve considerar as diferentes classes dos anticoccidianos (ionóforos monovalentes, glicosídicos, divalente e sintéticos) de modo a restaurar a eficácia das drogas que temos disponíveis, pois promove um período de descanso entre moléculas e entre as classes de anticoccidianos (Chapman and Jeffers, 2015).