Como a colibacilose aviária é uma doença bastante crítica e com grande impacto econômico na produção de frangos de corte, convidamos uma especialista no assunto para responder as principais dúvidas sobre o tema.
Com vasta experiência em doenças aviárias e infecções causadas por enterobactérias, Dra. Terezinha Knöbl atua no Laboratório de Medicina Aviária do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP).
Na parte 1 da nossa entrevista, ela trouxe detalhes sobre os problemas causados pelas cepas patogênicas de Escherichia coli (as APECs). Agora, reservamos um espaço para quem quer se aprofundar ainda mais no assunto.
Neste artigo, Dra. Terezinha aborda questões relacionadas ao potencial patogênico das cepas de E. coli, marcadores de virulência, genes de resistência e fala sobre como isolar uma APEC em exame de rotina. Confira a parte 2 desta conversa!
1) Biocamp – Quais são os marcadores de virulência de uma cepa de E. coli que nos dá indícios de seu potencial patogênico?
Dra. Terezinha Knöbl – Existem diversos protocolos para estabelecer o potencial de patogenicidade. No entanto, a APEC é um patotipo muito diverso, com mais de 25 marcadores distintos. O protocolo mais utilizado para diagnóstico de cepas virulentas é o de Johnson et al. (2008), que pesquisa a presença de 5 fatores de virulência considerados preditivos mínimos:
Adicionalmente, estudos que correlacionam a presença e ausência (por deleção) de genes de virulência com a patogenicidade em embriões ou pintos de 1 dia de idade destacam a importância dos genes relacionados à captura de ferro, da presença do plasmídio ColV, da adesina termossensível tsh e da proteína iss (increased sérum survival). Alguns marcadores de virulência relacionam APEC a outros patotipos de ExPEC, como é o caso dos genes usp, papC e cnf (comuns em E. coli uropatogênica) ou sfa, ibeA e kps (presentes em E. coli associada à meningite). Esses marcadores sugerem o risco zoonótico de uma cepa de APEC.
2) Biocamp – Sabendo que a E. coli pode ser um contaminante de origem fecal da amostragem ou um agente secundário, como definir se a APEC é o agente etiológico de um quadro clínico?
Dra. Terezinha Knöbl – Alguns pontos são fundamentais para considerar uma APEC como agente etiológico de um quadro clínico. O isolamento deve ter sido realizado de um sítio extraintestinal e em condições adequadas de assepsia. Não pode haver indício de contaminação fecal na coleta ou no transporte da amostra. A ave deve ter lesões sugestivas de colibacilose. Normalmente mais de uma ave com as mesmas lesões resultam no isolamento de um mesmo agente.
Existem modelos fenotípicos que correlacionam a virulência com a patogenicidade, mas esses modelos utilizam animais e, por razões éticas, só devem ser empregados em situações específicas. Sob o ponto de vista de diagnóstico molecular, deve se considerar como agente primário quando o isolado possuir os fatores de virulência de APEC e pertencer ao filogrupo G descrito por Clermont et al (2019). Isolados pertencentes aos filogrupos B2, D ou F também costumam ser patogênicos.
Nos casos de oportunismo, em que cepas comensais atuam como agentes secundários, os isolados são classificados preferencialmente nos grupos A ou B1. Outras formas de classificação incluem a sorotipagem, considerando que determinados sorogrupos — como O78, O2, O1 e O21 — remetem classicamente aos casos de colibacilose aviária.
Mais recentemente a técnica de MLST se mostrou útil na identificação de sequencias dominantes em surtos de colibacilose. Isolados de APEC têm participação primária quando a linhagem predominante pertencer ao grupo formado por ST117, ST95, ST23, ST140 e ST428/429. Alguns outros STs também podem acometer as aves e são considerados potencialmente zoonóticos, tais como ST73, ST69 e ST131.
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