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Como combater a salmonela na avicultura?

Escrito por: Priscila Beck
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simpósio Salmonela congresso de ovos da apa

Problemas relacionados ao impacto da salmonela na saúde pública e as exigências sanitárias de países importadores vêm consumindo altos níveis de energia dos produtores avícolas do Brasil e do mundo.

Não é por menos, que salmonela foi o tema central do Simpósio que, na manhã de 26/3, reuniu mais de 600 pessoas no auditório do XVII Congresso de Ovos da APA, em Ribeirão Preto (SP).

Produtores de ovos e técnicos do setor puderam conhecer aspectos relacionados à epidemiologia da salmonela, princípios básicos de biosseguridade e ferramentas de controle.

As informações e orientações foram apresentadas pelo professor titular do Departamento de Patologia Veterinária da Unesp, Ângelo Berchieri Júnior; pelo médico veterinário Edir Nepomuceno Silva, que compõe o Conselho Curador da FACTA; e pela médica veterinária Anderlise Borsoi, que é professora da Universidade Tuiuti, do Paraná.

Atualmente existem mais de 2,6 mil sorovares identificados de salmonela, todos considerados potencialmente patogênicos. Entre 2014 e 2017, o Sistema de Vigilância Epidemiológica de DTA (Doenças Transmitidas por Alimentos) do Ministério da Saúde, informou a notificação de 85 surtos relacionados à salmonela, com a ocorrência de 3.433 doentes e dois óbitos registrados.

O controle e monitoramento de Salmonella spp. em carne de frangos e perus é realizado no Brasil conforme a Instrução Normativa nº 70, de 6 de outubro de 2003, atualizada por meio da IN nº 20, de 21 de outubro de 2016. A nova normativa apresenta medidas específicas de controle em relação à presença dos sorovares SalmonellaTyphimurium e Salmonella Enteritidis.

As iniciativas têm o objetivo de reduzir a prevalência da bactéria, contribuindo para melhorar a proteção ao consumidor.

Epidemiologia

Ângelo Berchieri Júnior é professor titular do Departamento de Patologia Veterinária da Unesp

O professor Dr. Angelo Berchieri chamou a atenção para a transmissão da salmonela via vertical na avicultura de postura, ou seja, da reprodutora para a progênie. “Na maioria dos casos que se tornaram polêmica, a Salmonella veio pela via vertical“, alertou

A transmissão vertical preocupa, segundo o pesquisador, porque quanto mais cedo o animal se infecta, por mais tempo excreta a salmonela e contamina a granja. “Em todos os segmentos, desde bisavós, é importante resolver em cima, no início”, destacou.

Além das aves de um dia de vida, Berchieri também destacou a entrada da salmonela na granja via ração. Segundo ele, os componentes de origem animal são uma importante fonte, assim como deve-se atentar para os grãos, atraentes para aves e roedores intrusos, que por sua vez podem acabar contaminando os componentes de origem vegetal.

As fezes são outro importante foco de transmissão de salmonelas, segundo o professor. “São toneladas de fezes e em 1g pode haver 100 milhões de bactérias”, observou. “Se as fezes não tiverem tratamento adequado, vão disseminar a salmonela em toda a região, já que são usadas como esterco”, alertou.

Berchieri chamou atenção ainda para os veículos e seres humanos, que deslocam-se de um lugar a outro. “É preciso ter consideração muito grande pelo veículo porque está bastante associado com a disseminação do tifo aviário“, destacou. “E há casos ainda em que o tifo aviário foi levado de um galpão para outro pelo próprio veterinário, ao fazer necropsia“, completou.

O professor apresentou estudos que demonstram a existência de salmonelas em caixas de transporte, teoricamente, limpas e desinfetadas. Chamou a atenção ainda para os resíduos de limpeza e desinfecção de abatedouros, incubatórios e granjas, que podem contaminar cursos d’água usados por animais selvagens e seres humanos.

As carcaças, segundo Berchieri, são o ponto mais importante no ciclo epidemiológico do tifo aviário. “Depois que a ave morre, o que estava no intestino espalha para tudo e os animais têm o hábito de bicar tudo“, alertou.

O recado final do professor em sua palestra foi sobre a necessidade de preparação técnica da mão de obra. “O trabalho mais importante é com o ser humano porque ele vai fazer a diferença, colocar em prática a metodologia“, destacou. “O que imaginarmos numa granja depende do ser humano e, por isso, ele tem que ter qualidade, auto estima, ter amor por trabalhar numa granja“, concluiu.

Biosseguridade

Edir Nepomuceno Silva é médico veterinário e compõe o Conselho Curador da FACTA

Os princípios básicos de biosseguridade foram abordados pelo médico veterinário Dr. Edir Nepomuceno da Silva. Segundo ele, melhorar a ambiência e a seguridade é uma questão econômica, já que transfere conceito à produção, mas não agrega valor ao produto final.

Segundo Nepomuceno, trata-se de um processo multifatorial, que envolve toda a cadeia produtiva e é preciso eleger o que fazer para não se perder. Ele apontou cinco pontos que classificou como princípios básicos.

“Vocês têm que eleger onde vão gastar dinheiro”, salientou Nepomuceno. E chamou atenção sobre o erro de se usar antibiótico em casos de salmonela. “O uso de qualquer tipo ou dose de antibiótico, em qualquer fase da produção, é altamente contraindicado para salmonela”, alertou.

Ferramentas

Anderlise Borsoi é médica veterinária , professora da Universidade Tuiuti, do Paraná.

A professora Dra Anderlise Borsoi falou sobre ferramentas de controle da salmonela, destacando que não há dúvidas de que a biosseguridade é a mais importante de todas, porém precisa ser bem executada. Segundo a pesquisadora, a principal ferramenta são as decisões adotadas, seguidas pelas ações e produtos a serem utilizados.

“Precisamos tomar a decisão de encarar a salmonela”, salientou.

Anderlise apresentou uma lista de ferramentas destacando que a eficácia de cada uma depende da granja, da empresa avícola, de quem fornece a ração, a pintainha e se é usada da maneira correta.

Das ferramentas apontadas, Anderlise destacou quatro: probiótico, prebiótico, vacina e antibiótico.

Sobre os probióticos, cuja primeira definição data de 1965 e a mais atual de 2013, a professora destacou cinco itens que, se estiverem no protocolo da empresa, são ponto positivo:

Anderlise também apresentou cinco critérios a serem considerados em relação aos prebióticos, cuja primeira e última definições são de 1995 e 2016, respectivamente:

Sobre  o uso de aditivos, a orientação de Anderlise é para ponderar se todos funcionam para poedeiras. Ela sugere elencar produtos que tenham sido testados em poedeiras.

Já quanto ao uso de antibióticos, ela salienta que são usados para tratamento de infecções secundárias e não eliminam toda a salmonela. As vacinas, segundo Anderlise, devem ser aplicadas como ferramenta de auxílio, devendo estar sempre acompanhadas da adequação da biosseguridade.

“Quanto mais vacina usamos, mais demonstramos que somos incompetentes em biosseguridade”, salientou.

Outro ponto destacado pela pesquisadora refere-se à diferença entre a microbiota intestinal de frango de corte e poedeiras. Ela destacou, inclusive, a diferença da microbiota em cada parte do intestino e linhagem de galinha.

“Conhecer a microbiota é importante porque a diferença de microbiota pode ser um fator crítico”, destacou Anderlise. Sobre a relação do uso de antibióticos e a microbiota intestinal das aves, a professora apresentou um estudo no qual as poedeiras foram expostas a tetraciclina ou estreptomicina em prazo longo e curto.

Segundo o estudo, em 24 horas ocorreu a diminuição, ou desaparecimento, de mais de 50% das unidades taxonômicas operacionais bacterianas, ou seja, dos tipos bons de bactérias no intestino.

É importante observar que o estrago é feito em 24 horas e a recuperação da microbiota exige 12 dias“, alertou.

Entre as principais ferramentas a serem adotadas, segundo Anderlise, estão:

  1. Programa de gerenciamento de granjas que usem intervenções em múltiplos estágios da produção de ovos para evitar a contaminação por Salmonella;
  2. Ter manual de boas práticas para o produtor, lembrando que a ave morta é o maior fator para se espalhar Salmonella;
  3. Limpeza meticulosa das instalações entre lotes e durante lotes, com uso de desinfetante eficiente;
  4. Aditivos e vacinas podem ser usados para aumentar a resistência das poedeiras à colonização;
  5. Cada empresa tem que ter um plano de ação. Não tem receita única para Salmonella. Elas se adequam e revivem nos dando mais trabalho;
  6. Adotar produtos tecnicamente comprovados para poedeiras.

 

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