Como avaliar corretamente a redução de Salmonella spp. em frangos de corte
1. Entendendo o ciclo de Salmonella spp. nos aviários
Este material trata especificamente das salmonelas paratíficas, um grupo de enterobactérias que colonizam predominantemente o trato gastrointestinal das aves, geralmente sem causar sinais clínicos evidentes. É importante diferenciar essas salmonelas das espécies sistêmicas, como Salmonella Gallinarum (SG) e Salmonella Pullorum (SP), que têm epidemiologia e impacto distintos.
Quando um lote de aves apresenta presença de salmonelas paratíficas, a bactéria não permanece restrita ao organismo dos animais. Grande parte é eliminada pelas fezes e se acumula na cama do aviário, onde pode permanecer viável por longos períodos, mesmo após a retirada das aves ou o abate.
> Ciclo simplificado de salmonelas paratíficas em aviários:
Como avaliar corretamente a redução de Salmonella spp. em frangos de corte
2. Fatores que influenciam a excreção de Salmonella spp.
A excreção de salmonelas paratíficas pelas aves varia conforme:
- Sorotipo envolvido: alguns possuem maior capacidade de persistência ou virulência;
- Idade da infecção: infecções precoces tendem a gerar excreção prolongada;
- Status imunológico: a imunidade inata, vacinação (ativa ou passiva) e infecções prévias impactam a dinâmica de excreção.
Esses fatores influenciam diretamente o risco de contaminação ambiental e devem ser considerados na interpretação dos resultados.
3. Papel da cama na epidemiologia da infecção
A cama representa um dos principais reservatórios de Salmonella spp. no ambiente de criação, já que as aves vivem sobre ela e em contato direto com suas próprias fezes.
Um ponto interessante, frequentemente observado no campo, é que lotes positivos criados em camas novas tendem a apresentar maior incidência de positividade para Salmonella spp. em comparação com lotes criados em camas reutilizadas, desde que estas não estejam altamente contaminadas.
O que ocorre é que camas novas, por serem inócuas do ponto de vista microbiológico, não oferecem competição natural contra patógenos, facilitando a colonização inicial da Salmonella spp.. Já camas reutilizadas podem conter uma microbiota competitiva mais estabelecida, que ajuda a limitar o desenvolvimento de patógenos, desde que não estejam carregadas de contaminação.
> Contudo, é fundamental entender que:
- A reutilização de cama contaminada sem tratamento e monitoramento adequado mantém o risco ambiental elevado;
- A presença de Salmonella spp. na cama pode refletir contaminações de lotes anteriores, dificultando determinar o momento exato da introdução da bactéria;
- Todo lote positivo para Salmonella spp. deve ser seguido por medidas de substituição ou tratamento da cama, com monitoramento eficaz.
Ao interpretar as análises ambientais para Salmonella spp., é essencial considerar:
- A dinâmica de sobrevivência prolongada da bactéria na cama;
- A influência do tipo de cama (nova ou reutilizada);
- A necessidade de ações preventivas e corretivas baseadas em resultados.
A cama representa uma importante fonte de infecção e pode refletir tanto o status sanitário do lote atual quanto de lotes anteriores.
4. Ferramentas de controle: probióticos e vacinas
As principais estratégias para reduzir a presença de Salmonella spp. nas aves incluem:
Como avaliar corretamente a redução de Salmonella spp. em frangos de corte
Atenção: essas ferramentas atuam principalmente no organismo das aves, mas não eliminam a contaminação ambiental preexistente.
5. Avaliação da eficácia: a importância de uma visão integrada
Para medir corretamente os resultados de um programa de redução de Salmonella spp., recomenda-se:
Como avaliar corretamente a redução de Salmonella spp. em frangos de corte
6. Exemplo ilustrativo
- Cama já contaminada antes do novo lote ser alojado;
- O novo lote recebe probióticos ou vacina — aves protegidas, mas Salmonella spp. ainda presente e detectável na cama.
Resultado: ambiente positivo, aves potencialmente negativas, o que reforça a necessidade de avaliação em outros pontos para se medir o desempenho dos produtos.
7. Conclusão
Para avaliar corretamente a eficácia de um programa de redução da Salmonella spp. em frangos de corte, é fundamental entender que as diferentes análises refletem momentos distintos da contaminação.
As análises realizadas no frigorífico oferecem um retrato mais imediato e atualizado, enquanto as análises ambientais têm caráter cumulativo, podendo revelar a presença da bactéria resultante de eventos anteriores.
Portanto, o monitoramento eficaz deve considerar:
- Dados do frigorífico;
- Análises nas aves;
- Monitoramento criterioso do ambiente;
- Histórico da granja;
- Compreensão dos fatores que influenciam a excreção bacteriana.
Análises ambientais, especialmente da cama, são indicadoras importantes da contaminação acumulada, mas devem ser interpretadas junto aos resultados das aves e do frigorífico para uma conclusão confiável.
8. Referências Técnicas
- Cox, N. A., Richardson, L. J., & Buhr, R. J. (2005). Persistence of Salmonella on poultry farms and potential for cross-contamination to broiler flocks. Journal of Applied Poultry Research, 14(4), 594–600.
- Instrução Normativa nº 20/2016 — MAPA (Brasil): Estabelece o Programa de Controle de Patógenos em frigoríficos de frango (Salmonella e Campylobacter).
- Berghaus, R. D., et al. (2013). Environmental Salmonella prevalence and detection in broiler production. Poultry Science, 92(3), 453–460.
- Dittoe, D. K., et al. (2018). Influence of probiotics and competitive exclusion products on Salmonella in poultry. Journal of Applied Poultry Research, 27(1), 1–11.