Ícone do site aviNews Brasil, informações avicultura

Como escolher o probiótico para meu plantel?

Escrito por: Gabriel Jorge Neto - CEO da Cinergis Saúde e Nutrição Animal Diretor da GhenVet Saúde Animal
PDF
probiótico

Como escolher o probiótico para o meu plantel?

Em 20 de julho de 2020, a Agência FAPESP divulgou que a União Europeia (CEE) reuniu, em um painel, especialistas de 28 instituições de diferentes países para definir os conceitos de MICROBIOMA e MICROBIOTA.

O Brasil foi representado pelo GCCRC (Centro de Pesquisa em Genômica Aplicada às Mudanças Climáticas) que é um órgão de pesquisa em engenharia (CPE), constituído pela FAPESP e EMBRAPA, na UNICAMP.

Foi, então, definido que:

Nessa ocasião, a CEE criou o “Microbiome Support” para definir a prioridade nas pesquisas em MICROBIOMA, que serão financiadas pela “Horizon Europe” (programa de pesquisa da CEE), estimadas em cem bilhões de euros até 2027. (https://www.microbiomesupport.eu/)

Isso demonstra a crescente importância que o MICROBIOMA e a manipulação da MICROBIOTA têm para a saúde humana e animal e para os meios de produção industrial e agrícola.

O uso de microrganismos (MICROBIOTA) e seus substratos (MICROBIOMA) trará grandes melhorias para a saúde humana e animal, produtividade agrícola e industrial e, também, para a culinária e produção de alimentos e bebidas fermentadas.

Viveremos uma nova era de intenso progresso.

E como nós podemos aproveitar isso?

Estamos apenas iniciando o uso de probióticos na avicultura, com muito marketing e pouca ciência. São poucos produtores e técnicos que conhecem as verdadeiras oportunidades que o futuro nos reserva com todos os modos de uso dessa tecnologia.

Objetivos do uso de probióticos

Podemos escolher probióticos e bactérias para muitas estratégias diferentes e benéficas para sua produção, como por exemplo:

  1. Melhoria do ambiente nos galpões e controle de insetos.
  2. Colonização precoce.
  3. Controle de Salmonella spp. e Campylobacter spp.
  4. Produtividade e saúde intestinal.
  5. Aumentar a produção de ácido butírico no intestino.
  6. Desativar micotoxinas ou metabólitos intestinais.

Exploraremos abaixo as quatro primeiras.

1) Melhoria do ambiente nos galpões e controle de insetos

A colocação de Bacillus subtilis, bactéria habitante natural do solo, em sua forma esporulada na cama do galpão, é um procedimento interessante pois favorece a melhoria ambiental. Essa bactéria é uma das mais utilizadas em agricultura e melhora a produtividade em hortaliças, grãos, etc.

Uma completa revisão, com análise paramétrica, sobre os processos de tratamento de cama de aviários nesses últimos 21 anos, foi publicada em maio (TOLEDO et al., 2020), abrangendo 5.891 trabalhos publicados com importantes conclusões sobre os diversos tratamentos.

Cal Hidratada

O uso de cal hidratada, classificada no grupo dos alcalinizantes, pode causar piora da conversão alimentar e aumento de mortalidade, além de ser perigoso para quem a manipula. Nas visitas aos clientes, tenho ouvido relatos de casos de cegueira parcial em funcionários durante o processo de colocação de cal na cama dos aviários.

Existem hoje alternativas naturais e sustentáveis de produtos modernos e eficientes, que não são corrosivos e não causam problemas nenhum à saúde humana, compostos de algas marinhas naturais com ingredientes nanoparticulados e alto conteúdo de alginatos.

Se adicionarmos terra de diatomáceas em sua forma cilíndrica enriquecidas com Bacillus subtilis, teremos também o combate ao Alphitobius diaperinus (cascudinhos) e melhoria ambiental, favorecendo o crescimento e a sanidade das aves.

Piso de Terra

Quando temos piso de terra nos galpões, há a formação de galerias pelos cascudinhos e a permanência de insetos que podem estar positivos para Salmonella entérica. Essa é uma das principais causas da manutenção de swab de arrasto (propés) positivos para salmonelas nos galpões.

Se, além do combate com inseticidas, colocarmos entre o piso e a cama 50 a 100 gramas por metro quadrado de terra de diatomáceas (micronizadas e cilíndricas) enriquecida com Bacillus thuringiensis, (bactéria considerada inseticida biológico) teremos um reforço significativo no combate desses insetos que dura por todo o ciclo de criação de um lote.

2) Colonização precoce nos pintos de um dia

Essa estratégia é importante para controle de salmonelas e outras bactérias e para formar uma microbiota favorável ao desempenho e saúde do plantel.

Pode ser feita:

À medida que a legislação sobre segurança alimentar endurece, a colonização precoce será prática obrigatória nas criações pois ajuda a criar uma microbiota benéfica com um microbioma favorável à saúde intestinal.

3) Controle de salmonelas, produtividade e saúde intestinal

A formação de uma microbiota saudável passa obrigatoriamente por uma colonização intestinal com bactérias selecionadas.

E o uso de um probiótico composto por muitas espécies de bactérias é essencial já que o intestino das aves é colonizado por mais de 1.500 espécies e cepas diferentes.

Para isso podemos utilizar, como na União Europeia, diversos probióticos compostos por uma única espécie de bactéria (obrigatório para uso na CEE) ou, como no resto do mundo, probióticos compostos por múltiplas cepas.

A técnica “Spot-on-the-lawn” permite que se selecione qual probiótico multi-cepas será utilizado em sua integração. Essa técnica mostra, por exemplo, que o Bacillus subtilis não forma halo de inibição para Salmonella spp.

Para isso, é necessário acrescentar ao probiótico as bactérias residentes e secretoras.

Então, o probiótico deve ter em sua composição diversas espécies de bactérias:

I) as residentes e láticas;
II) as ambientais (não residentes);
III) as láticas que desativam micotoxinas; e
IV) as que incrementam a produção de ácido butírico.

Somente assim você estará utilizando todo o potencial dos probióticos.

As bactérias ambientais, não residentes (gênero Bacillus) devem ser esporuladas, e

As bactérias láticas (gênero Lactobacillus, Enterococcus, Pediococcus etc) devem ser obrigatoriamente micro encapsuladas para resistirem à peletização e aplicações de salmonelicidas nas rações.

Peletização

O processo de peletização submete a ração a temperaturas elevadas no condicionador das peletizadoras e as bactérias láticas não resistem por muito tempo a temperaturas acima de 80 graus Celsius.

Quando as encapsulamos com técnicas modernas, sua resistência térmica aumenta e elas resistem ao processo de peletização, perdendo um a dois logs em sua concentração na ração. Assim, temos de micro encapsular estas bactérias e aumentar sua concentração nos probióticos.

Quando se usa 100 gramas de probiótico por tonelada de ração, devemos adicionar 1010 UFC/g de cada bactéria probiótica para que a ração tenha 10⁶ UFC/g antes da peletização e 10⁴ UFC/g após a peletização. Essa concentração é suficiente para, em uso contínuo, maximizar os resultados benéficos.

Quando também utilizamos expander, devemos obrigatoriamente adicionar o probiótico após a peletização já que as bactérias láticas não resistem a esse processo.

Salmonelas

Após selecionar as espécies de bactérias probióticas efetivas contra salmonelas pelo “Spot-on-the-lawn”, seu fornecedor deve comprovar:

Depois desta seleção é que você deve discutir preço, pois há ofertas no mercado brasileiro que não respeitam esses critérios e podem custar muito menos, mas não trazem os benefícios esperados.

Se esses cuidados na escolha do probiótico forem rigorosamente seguidos, sua criação terá saúde intestinal e o uso de antibióticos curativos raramente precisará ser utilizado, trazendo melhores performances e mais segurança alimentar para o consumidor.

Referências:

DOMINGOS, I.; VELLANO, I.H.B.; MORAES, A.C.I.; ALTARUGIO, R.; ANDREATTI FILHO, R.L.; OKAMOTO, A.S. Measurement of in vitro inhibition by Lactobacillus spp. against Salmonella Heildeberg. International Journal of Poultry Science, p.184-188, 2018.

OKAMOTO, A.S.; ANDREATTI FILHO, R.L.; MILBRADT, E.L.; MORAES, A.C.I.; VELLANO, I.H.B.; GUIMARÃES-OKAMOTO, P.T.C. Bacterial communication between Lactobacillus spp. Isolated from poultry in the inhibition of Samonella Heidelberg- proof of concept. Poultry Science. v.97, p.2708-2712, 2018.

RITTER, A.C.; FOLMER CORREA, A.P.; VERAS, F.F.; BRANDELLI, A. Characterization of Bacillus subtilis available as Probiotics. Journal of Microbiology Research. v.8(2), p.23-32, 2018.

TOLEDO, T.S.; ROLL, A.A.P.; RUTZ, F.; ROLL, V.F.B.; DALLMANN, H.M.; DAI PRÁ, M.A.; LEIVAS LEITA, F.P. An assessment of the impacts of litter treatments on the litter quality and broiler performance: a systematic review and meta-analysis, 2020.

VAN IMMERSEEL, F.; VERMEULEN, K.; ONRUST, L.; EECKHAUT, V.; DUCATELLE, R. Nutritional modulation of microbial signals in the distal intestinal tract and how they can affect broiler health. Proceedings of the 21st European Symposium on Poultry Nutrition, p. 53-57, 2017.

PDF
PDF
Sair da versão mobile