Conceito e fundamento sobre biosseguridade com ênfase no cascudinho
Sendo medidas voltadas para a proteção de populações animais, são aplicadas nos diferentes componentes do ambiente, aspecto que difere da clínica e patologia.
Abaixo, tem-se a ilustração da sequência de atuação da biosseguridade em saúde animal. Assim,
Diagnóstico clínico é de suspeição da doença sendo o alvo do trabalho o animal doente pela adoção de medidas como tratamento, isolamento ou sacrifício; Diagnóstico patológico se refere à confirmação da suspeita e o alvo do seu trabalho é o animal morto, doente sacrificado ou parte destes. Os materiais coletados são sangue, soro, excretas, fragmentos de órgãos, etc. O diagnóstico epidemiológico se refere ao diagnóstico das causas que levam à ocorrência de doenças e o alvo de seu trabalho é a população animal e representado pelas medidas de biosseguridade. As causas são: água, dejetos, restos de animais, ar, roedores, artrópodes (moscas, mosquitos, cascudinhos, ácaros, piolhos), animais de vida livre (domésticos e silvestres), veículos de circulação externa, pessoas, vestuário, etc.
Na Figura 1 está ilustrada a sequência de diagnóstico
Quando se pretende a prevenção ou o controle de determinada doença, é fundamental conhecer as características do agente etiológico, sua ecologia e as estratégias de transmissão.
Originário da África, apresenta distribuição geográfica cosmopolita, considerado uma praga dos grãos armazenados que se adaptou nos galpões de aves e de difícil controle a despeitos de se dispor de métodos físicos e químicos.
O ciclo de vida se completa em 55 dias a temperatura de 27°C, adultos podem sobreviver até aproximadamente 400 dias e cada fêmea produz cerca de 2.000 ovos durante a vida (SILVA, 2005).
É lícito estimar que, durante o tempo de alojamento de frangos de corte, uma fêmea de cascudinho produz 30 ovos e admitindo uma infestação de 1.000 cascudinhos, o total de larvas produzidas é de aproximadamente 30.000. Assim, a população durante 1 alojamento aumenta em progressão geométrica.
Flutuação da população de cascudinhos: sucessivos alojamentos com retirada de cama ou não, larvas migram para tuneis subterrâneos e os adultos para frestas, tuneis nas paredes, etc. A reutilização da cama favorece aumento gradativo da população a cada lote de aves (ARENDS, 1987; GEDEN, 1989) e requer controle adequado.
Locais preferenciais dos cascudinhos: em galpões de piso de cimento a presença é mais significativa sob os comedouros (faixa de 30º C). Em aviários de terra, sua distribuição é mais uniforme e sem relação com a temperatura. De modo geral, o cascudinho se desenvolve melhor em piso de terra batida comparativamente ao piso de concreto (UEMURA et al., 2008).
Ação direta na saúde das aves: larvas causam lesões na pele e tecidos da ave ocasionando hemorragia, anemia, infecções secundárias, estresse e morte (CHERNIAKI-LEFEER et el., 2006). Larvas e adultos causam obstrução intestinal porque as aves não digerem a quitina pela ausência de quitinase (ELOWNI & ELBIHARI 1979) e podem levar a eventual lesão ao longo da mucosa intestinal.
Os cascudinhos também causam danos à estrutura das instalações, pois as pupas mastigam e perfuram materiais como pilares de madeira, isopor, fibras de vidro e painéis de isolamento de poliestireno comprometendo sistema de aquecimento e elevando os custos com reparo das instalações em aproximadamente 67% comparando com instalações sem cascudinhos (GEDEN & HOGSETTE, 1994).
Pelo fato de o cascudinho ser uma praga na avicultura, a busca por meios eficazes e eficientes de controle tem sido incessante, razão pela qual, estudos sobre comportamento e resistência do besouro são importantes para se alcançar uma adequada estratégia de controle.
- CONTROLE QUÍMICO COM INSETICIDAS:
- CONTROLE PELO EMPREGO DE PRODUTOS NATURAIS
- METILXANTINA (MTX) COMO INSETICIDA
Dentre os inseticidas naturais, mencione-se 1,3,7 trimetilxantina (cafeína), alcalóide lipossolúvel extraída do café (Coffea arábica) e integrante da classe dos compostos conhecidos como metilxantinas.
Na larva, a MTX atua inibindo a esterase (hormônio juvenil) alterando sua expressão gênica responsável pelo desenvolvimento larvar, pela atuação nos ovários, corpo gorduroso e intestino. Assim sendo, a cafeína reduz a população de larvas do cascudinho.
No adulto, a MTX causa imobilidade motora por supressão da dopamina (neurotransmissor envolvido no controle da motilidade). Portanto, a cafeína reduz a população de adultos do cascudinho.
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- AÇÃO SOBRE LARVAS:
Esterases são enzimas presentes em todos os organismos desempenhando múltiplos papéis como envolvimento em vários processos fisiológicos, incluindo a atividade neuronal (HAREL et al., 2000) no metabolismo do hormônio juvenil de insetos (GU & ZERA, 1994).
Na atividade neuronal, a acetilcolina é liberada na fenda sináptica, liga-se a receptores transmembrana e gera a transmissão de sinal, posteriormente, a acetilcolinesterase hidrolisa a acetilcolina, cessando o estímulo (POHANKA, 2012).
NISHI et al (2010) confirmam os dados da literatura que mostram que a cafeína inibe o padrão de expressão gênica das esterases.
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- AÇÃO SOBRE ADULTOS
Atua de forma dose dependente (isto é, quanto maior a dose, maior e mais precoce é o efeito), sendo que a concentração de 1 mg/mL de água é letal para as larvas.
A METILXANTINA revelou ser potencialmente eficaz no controle do coleóptero adulto de Tribolium castaneum na forma de fumigação, repelente e ação por contato e que a duração do tratamento apresenta importância significante no controle desta praga. A inibição de certas enzimas como carboxilesterase apresenta papel fundamental na toxicidade como inseticida para adultos.
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- MEDIDAS GERAIS PARA MITIGAR RISCO DE AUMENTO DA POPULAÇÃO DE CASCUDINHOS:
Vale ressaltar que estes insetos voam cerca de 1.500 metros, então é importante adotar um manejo sanitário de controle não apenas nos intervalos entre lotes (PREVIATO, 2009), mas sim, complementar com medidas de controle com inseticidas não tóxicos durante o alojamento.
Considerando que o aumento da população ocorre durante a fase de alojamento em progressão geométrica (1 fêmea:30 larvas/dia; 100 fêmeas:3.000 larvas; 1.000 fêmeas:30.000 larvas/dia), é recomendável complementar com a aplicação de inseticidas durante a fase de alojamento desde que não sejam tóxicos nem para as aves e nem para o homem.
biosseguridade com ênfase no cascudinho Referências sob consulta da autora