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Laringotraqueíte Infecciosa das Galinhas: “Controle eficaz priorizando a Segurança do Plantel”

Escrito por: Jorge Chacón - M.V. MSc. PhD Serviços Veterinários – Ceva Saúde Animal - Brasil
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Ceva Lariingotraqueíte

Embora muitos esforços tenham sido realizados para controlar eficazmente a Laringotraqueíte infecciosa das galinhas (LTI), a doença continua desafiando granjas avícolas de produção de carne e ovos, com novas áreas geográficas relatando surtos severos.

Os perigos bem documentados associados ao uso de vacinas vivas contra a LTI, e novas informações que revelam aspectos biológicos do vírus da LTI (VLTI), explicam a manutenção dos problemas em países que usam vacinas vivas.

 

VACINAS VETORIZADAS

Vacinas vetorizadas foram disponibilizadas com a expectativa de conferir proteção contra a doença, e sem os problemas de segurança associados às vacinas vivas desenvolvidas por passagem em embrião de galinha (CEO) ou cultivo celular (TCO).

Porém, as vacinas vetorizadas teriam se mostrado insuficientes em algumas situações, principalmente em granjas de múltiplas idades.

 

Novas informações obtidas em testes experimentais e monitorias controladas vêm permitindo o desenho de programas mais eficazes. Em granjas de múltiplas idades, o objetivo é estabelecer um programa customizado que atenda às necessidades de cada tipo de estabelecimento, muitas vezes sendo necessário um programa que confira proteção precoce, robusta e duradoura.

Neste material serão apresentadas informações que sustentem o desenho de programas de controle mais efetivos que priorizem a segurança do plantel.

II. ASPECTOS BIOLÓGICOS

Geralmente, quando se detecta a circulação do VLTI sem sinais clínicas da doença, não se implementa um programa vacinal porque se acredita que a circulação de um vírus de baixa virulência não está afetando sanitariamente a granja.

Porém existem perigos de não conter esta circulação viral nas granjas, mesmo na ausência de sinais clínicos.

Laringotraqueíte Infecciosa das Galinhas: “Controle eficaz priorizando a Segurança do Plantel”

INCREMENTO DA VIRULÊNCIA

Nas granjas comerciais e não comerciais circulam vírus de baixa e alta virulência, que podem ser discriminados clínica e molecularmente.

Os vírus de baixa virulência circulam mais lentamente, mas quando eles aumentam sua virulência através de passagens in vivo, aumentam sua capacidade infectante,propagando se mais rapidamente.

Kotiw e col. (1995) demostraram experimentalmente que vírus de baixa virulência aumentam sua virulência após passagens em aves, chegando a causar traqueíte e hemorragias após a terceira e oitava passagem, respectivamente.

Tabela 1. Lesões histopatológicas em traqueia de aves inoculadas com passagens
consecutivas de vírus de baixa virulência (Adaptado de Kotiw e col. 1995)

 

RECOMBINAÇÃO VIRAL

Trabalhos científicos conduzidos na última década têm revelado um novo aspecto que pode explicar a manutenção da doença, principalmente em países que usam vacinas vivas.

Com o uso de técnicas moleculares, observou-se que vírus de campo e de origem vacinal, podem se recombinar, resultando em vírus recombinante, que pode ter maior virulência.

III. LIMITAÇÕES PRÁTICAS DO USO DAS VACINAS
1. VACINAS VIVAS

Além dos já conhecidos riscos de segurança atrelados ao uso de vacinas vivas (reação pós-vacinal, transmissão lateral, reversão da virulência, criação de aves portadoras, recombinação viral), existem outras implicações de aspecto prático que limitam o uso destas vacinas.

APLICAÇÃO INDIVIDUAL

A vacina TCO deve ser aplicada unicamente via ocular, e simultaneamente (no mesmo dia) em todo o lote para evitar reações pós-vacinais decorrentes da passagem viral de aves vacinadas para as não vacinadas.

Esta prática é difícil de realizar em granjas de postura automatizadas de vários pisos e com grande número de aves por lote, devido à crescente limitação de disponibilidade de mão de obra qualificada.

 

APLICAÇÕES TARDIAS

 

 

As vacinas CEO e TCO só podem ser usadas a partir da segunda e quarta semana de vida, respectivamente.

Isto é uma grande limitação destas vacinas, desde que os desafios no campo são cada vez mais precoces, onde os lotes se infectam desde a terceira e quarta semana de vida.

Para que os lotes estejam adequadamente protegidos contra os desafios, eles terão que desenvolver uma sólida imunidade antes do
contato com o vírus de campo.

INTERFERÊNCIA COM OUTRAS VACINAS RESPIRATÓRIAS

As vacinas CEO e TCO não podem ser aplicadas junto com outras vacinas vivas respiratórias para evitar uma forte reação pós vacinal.
A indicação é de que essas vacinas sejam aplicadas pelo menos 2 semanas antes ou depois de outra vacina viva com tropismo respiratório.

Além das potenciais reações pós-vacinais decorrentes da aplicação de múltiplas vacinas vivas respiratórias, existem trabalhos científicos que mostram a interferência e queda de proteção quando se usam de forma simultânea vacinas vivas contra a Doença de Newcastle (DN), Bronquite infecciosa (BI), Metapneumovirose (MPVA) e Laringotraqueíte infecciosa (LTI).

Esta limitação é uma das principais causas de fracasso de programas vacinais em granjas de postura comercial que usam vacinas vivas de LTI, pois, estas granjas devem aplicar num período inferior às 15 semanas, diversas vacinas vivas contra DN, BI, AMPV e Mycoplasma gallisepticum.

Considerando-se pelo menos duas doses dessas vacinas, e mais as vivas de Laringotraqueíte Infecciosa, seriam 9 vacinas vivas a serem administradas num período curto, o que sem dúvida prejudica a proteção do lote para estas doenças e dificulta o manejo das aplicações.

2. VACINAS VETORIZADAS
A principal limitação das vacinas vetorizadas quando comparadas à vacina CEO é a capacidade de controle da excreção viral medida por PCR quantitativo.

INÍCIO DA PROTEÇÃO

As vacinas vetorizadas para LTI usando vetor HVT da doença de Marek (rHVT LT), não se caracterizam por induzir uma rápida resposta imune. No campo, se observaram casos de LTI em granjas com desafios precoces e vacinados apenas com rHVT LT.

Há pouca informação sobre o início de proteção deste tipo de vacinas e, as observações de campo, mostram que o principal benefício protetivo das vacinas rHVT LT é a longo prazo.

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INTERFERÊNCIA VACINAL
Estudos experimentais têm mostrado que as vacinas de Bouba podem ser aplicadas com segurança e eficácia em intervalos entre elas de pelo menos quatro semanas.

Em algumas situações a pré-imunização com uma vacina convencional de Bouba têm afetado a eficácia da vacina de Bouba vetorizada de LTI (rFP LT) aplicada duas semanas depois da primeira vacina de Bouba. Esta prática realizada por desconhecimento
tem levado à falha de eficácia das vacinas rFP LT.

As limitações individuais das vacinas, podem ser corrigidas quando elas são administradas de forma combinada. A necessidade de imunização precoce ou duradoura, ou ambas, podem ser atingidas com um programa que inclua o uso de mais de um tipo de vacina com revacinações aplicadas estrategicamente.

IV. DESENHO DE PROGRAMAS VACINAIS
O desenho do programa vacinal requer conhecimento:
Da situação da granja frente à doença;

Dos benefícios e limitações das vacinas disponíveis;

Dos benefícios do uso combinado destas vacinas.

 

INFORMAÇÕES NECESSÁRIAS

As vacinas vetorizadas permitem maior flexibilidade para elaborar programas vacinais. Para o desenho de um programa vacinal eficiente, vários critérios devem ser conhecidos e respeitados:

Nível ou pressão de desafio;

Idade ou momento de infecção dos lotes;

Intervalo entre as revacinações de reforço;

Qualidade de aplicação das vacinas;

Controle de outros agentes infecciosos circulantes na granja;

Interferência com outras vacinas do mesmo vetor (vacinas vetorizadas) ou com outras vacinas respiratórias (vacinas vivas);

Particularidades da granja (relacionamento epidemiológico/proximidade entre lotes de diferentes idades).

 

SITUAÇÕES EPIDEMIOLÓGICAS

O desenho do programa vacinal vai depender principalmente do nível de desafio (desafios severos precisam de programas mais intensos) e do momento da infecção (infecções precoces necessitam de proteção rápida).

Em granjas de múltiplas idades, conhecer o momento ou idade de infecção dos lotes é importantíssimo para definição dos programas: desafios precoces requerem intensa imunização nas primeiras semanas de vida do lote, enquanto, programas que confiram maior duração da imunidade são fundamentais em casos de desafios tardios na fase de produção.

A transmissão lateral do VLTI durante um surto não é tão rápida como acontece com surtos de Bronquite infecciosa ou da Doença de Newcastle, o que permite a implementação de medidas preventivas rápidas em aviários vizinhos e não infectados.

Gráfico 1. Situações epidemiológicas de granjas comerciais frente aos desafios da Laringotraqueíte Infecciosa

Laringotraqueíte Infecciosa das Galinhas: “Controle eficaz priorizando a Segurança do Plantel”

 

CONTROLE DE FATORES ESTRESSANTES

O VLTI é um agente primário que estabelece infecções latentes, criando aves portadoras assintomáticas que irão eliminar vírus quando sofrerem estresse fisiológico.
Desta forma, mudanças severas de temperatura, ambiência deficiente, manejo intenso e infecções por outros agentes patológicos favorecem a reativação dos vírus latentes, sua disseminação e propagação no aviário e na granja.

Granjas que apresentam desafios descontrolados de Bronquite infecciosa e Mycoplasma gallisepticum têm maior dificuldade de controlar a LTI.

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V. ESTRATÉGIAS VACINAIS

1-IMUNIZAÇÃO PRECOCE

As vacinas vetorizadas rHVT LT e rFP LT têm diferentes comportamentos e cinética. A vacina rFP LT induz resposta imune humoral mais rápida que as vacinas rHVT LT.

Esta característica explica o maior sucesso de controle de desafios muito precoces com a vacina rFP LT/gB aplicada no incubatório quando comparada às vacinas rHVT LT.

A vacina rFP LT/gB pode ser aplicada desde o incubatório, e um recente estudo controlado mostrou que a imunidade humoral estimulada quando aplicada no primeiro dia é tão eficiente quanto a aplicação na quarta semana de idade.

Gráfico 2. Resposta humoral de aves vacinadas com rFP LT/gB ao primeiro dia e as 4 semanas de idade (Chacón e col. 2021)

2. REVACINAÇÃO

Existiam dúvidas sobre o benefício da revacinação com a vacina rFP LTI/gB devido à menor intensidade da reação tissular no local de aplicação logo após a aplicação da segunda vacina de Bouba. Contudo, estudos têm mostrado uma resposta humoral intensa logo após a aplicação da segunda dose da vacina rFP LT/gB.

Um estudo conduzido pela Universidade da Carolina do Norte mostrou que a revacinação com rFP LT/gB induze um aumento de anticorpos para o vetor Bouba e para o inserto LTI (Gráficos 3 e 4).

 

 

 

 

 

A disponibilidade de kits de ELISA que detectam anticorpos induzidos por vacinas vetorizadas tem ajudado a conhecer e entender aspectos até pouco tempo desconhecidos.
Recentemente, num estudo se aplicaram três vezes a vacina rFP LT/gB e os lotes mostraram aumento significativo de anticorpos após cada revacinação (Gráfico 5).
Estes resultados sugerem que a revacinação aumentaria e prolongaria a resposta imune contra LTI. Esta teoria se mostra alinhada com diversas observações de campo, que mostram lotes melhor protegidos quando receberam revacinações com esta vacina.

Gráfico 5. Resposta humoral de aves vacinadas três vezes com rFP LT/gB (Chacón e col. 2021)

 

 

 

 

Este efeito “booster” que aumenta a resposta imune após a revacinação funciona apenas quando nas vacinações se utilizam vacinas vetorizadas que carregam o mesmo gene do VLTI (rHVT LTI/gB e rFP LTI/gB).

3. SINERGISMO VACINAL – USO COMBINADO

Na tentativa de controlar desafios de campo muito precoces e intensos (desde os 35 dias de idade e com mais de 20% de mortalidade), e criar resistência rápida e robusta, granjas passaram imunizar os lotes desde o incubatório, usando as vacinas rHVT LTI/gB e rFP LTI/gB aplicadas simultaneamente.

Este protocolo se mostrou muito eficiente, controlando surtos em locais onde estas mesmas vacinas usadas de forma separada não eram 100% eficientes. Essa prática validada no campo tem sustento científico através de dois trabalhos que demostraram experimentalmente o benefício da aplicação simultânea destas vacinas.

Experimentos conduzidos por Palya e col (2010), e Guy e col (2016) mostraram maior proteção contra doença clínica e excreção de vírus de campo quando as vacinas rHVT LT/gB e rFP LT/gB (ambas expressando a proteína B viral) foram aplicadas juntas, do que quando administradas separadamente, comprovando um claro efeito sinérgico benéfico.

Gráfico 6. Proteção clínica e contra excreção viral em aves vacinadas com rHVT LT/gB (VTM HVT LT) e rFP LT/gB (VTM FP LT) de forma separada e combinada (Palya e col.2010)

Inclusive, no estudo conduzido por Guy e col. (2016) a administração simultânea das vacinas rHVT LT/gB e rFP LT/gB conferiu nível de proteção semelhante à conferida pela vacina viva CEO.

Tabela 2. Proteção clínica e contra a replicação de vírus de desafio LTI em aves vacinadas com diferentes programas vacinais (Guy e col. 2016)

Em outro estudo controlado, aves que receberam estas duas vacinas vetorizadas no incubatório, mostraram maiores títulos de anticorpos, que se mantiveram estáveis, quando se compararam com aves que receberam apenas a vacina rFP LT/gB.
Estes estudos experimentais validam o observado no campo, que mostram o benefício da aplicação simultânea das vacinas vetorizadas rHVT LTI/gB e rFP LTI/gB.

Gráfico 7. Resposta sorológica de aves vacinadas com rHVT LTI/gB e rFP LTI/gB de forma simultânea e separada

 

 

 

4. SINERGISMO VACINAL – USO SEPARADO

Outro cenário comum em granjas de postura são os casos de surtos na fase de produção de ovos. Nestes casos, há necessidade de programas que estimulem proteção duradoura.
Rosenberger e col. (2012) concluíram que programas usando a vacina rHVT LT/gB no incubatório com reforço da vacina rFP LT/gB conferiram proteção duradoura até as 60 semanas, superior a programas que incluem apenas uma destas vacinas usadas de forma separada.

Tabela 3. Duração da proteção conferida por rHVT LT/gB e rFP LT/gB usadas de forma separada e combinada (Rosenberger e col. 2012)

5. MONITORIA DA VACINAÇÃO

Hoje a disponibilidade de kits de ELISA sensíveis e com capacidade de detectar anticorpos induzidos pelas vacinas vetorizadas permite mensurar a resposta imunológica humoral do programa vacinal utilizado, o que por sua vez permitirá:

Avaliar o processo de vacinação,

Predizer o nível de resistência induzido pelo programa vacinal.

 

A flexibilização do uso de vacinas vetorizadas sem restrições, a disponibilidade de testes sorológicos sensíveis que discriminam entre anticorpos induzidos por vírus vivo e vacinas vetorizadas, associados à maior disponibilidade de informação, têm contribuído ao maior entendimento da biologia do agente infeccioso e do comportamento das vacinas.

Isso, por sua vez possibilitou o desenho de programas com o uso exclusivo de vacinas vetorizadas que se mostram muito eficazes para controlar casos intensos de alta mortalidade e infecções precoces.

“Existem ainda vários aspectos desconhecidos e misteriosos da Laringotraqueíte Infecciosa. Contudo, a doença está sendo melhor controlada com o uso estratégico de vacinas vetorizadas que não representam nenhum risco à segurança do lote. “
Isto é uma conquista da área científica geradora de dados, e da indústria avícola que está sabendo utilizar melhor as tecnologias modernas”.

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