De amostras de ar a modelagem de risco: especialistas apresentam novas estratégias para detecção precoce da Influenza Aviária
A importância de adotar métodos inovadores de vigilância para antecipar riscos da Influenza Aviária foi evidenciada no painel sobre detecção precoce, realizado durante o Fórum Internacional da FAO em Foz do Iguaçu. Reunindo diferentes perspectivas, o debate contou com apresentações de Philip Claes, oficial regional da FAO para a Ásia e o Pacífico, Krista DiLione, bióloga de vida silvestre do USDA (Serviços de Vida Silvestre dos Estados Unidos), e Irene Iglesias, epidemiologista veterinária do CISA/INIA, na Espanha.
- Cada um destacou caminhos práticos para transformar vigilância em ferramenta efetiva de proteção ao setor produtivo e à saúde pública. Abrindo o painel, Philip Claes defendeu a ampliação do uso de amostras ambientais, como ar, água e superfícies de mercados e abatedouros, para aumentar a rapidez e reduzir custos no monitoramento.
O especialista demonstrou como novas tecnologias permitem detectar o vírus sem a necessidade de manipular animais, ampliando a biossegurança e facilitando a coleta em locais de difícil acesso. Segundo ele, testes portáteis de PCR já foram validados em países asiáticos, e o sequenciamento de nova geração (NGS) começa a transformar a vigilância.
“Hoje é possível sair do campo com o genoma completo de uma amostra em até sete horas”, afirmou. “Se ficarmos presos a fronteiras pré-definidas, nada vai mudar”, completou.
Claes apresentou ainda evidências de que amostras ambientais são confiáveis. Segundo ele, em 12 visitas a mercados no Camboja, sempre que aves testaram positivo, o vírus também foi detectado em amostras de ar. Para ele, a combinação de NGS (sequenciamento de nova geração) com amostras ambientais dá ao setor “superpoderes” para antecipar surtos, a partir de maior agilidade, menor custo e maior abrangência.
Vigilância Ativa
Na sequência, Krista DiLione trouxe a experiência dos Estados Unidos, onde a vigilância ativa de aves silvestres se mostrou decisiva para antecipar surtos. Segundo ela, o primeiro registro de H5N1 nos EUA, em dezembro de 2021, veio justamente de amostras colhidas em áreas previamente identificadas como de maior risco e, desde então, mais de 7 mil aves aparentemente saudáveis foram detectadas com o vírus.
“Os benefícios da vigilância ativa superam os custos iniciais”, afirmou. Ela explicou que a estratégia não exige amostrar todas as populações, mas sim priorizar espécies e regiões com maior probabilidade de ocorrência. Ela explicou que modelos matemáticos combinam dados ecológicos, temporais e espaciais para guiar o trabalho.
“Começamos com as melhores informações disponíveis, mesmo que imperfeitas, e a cada ciclo os modelos se tornam mais precisos”, explicou. DiLione detalhou ainda que diferentes métodos de captura são usados conforme a época do ano – de aves vivas capturadas em campo a aproveitamento de material de caça, em cooperação com autoridades estaduais.
Questionada sobre países de baixa renda, ela sugeriu adaptar as metas, como reduzir o número de áreas amostradas, aumentar a prevalência mínima aceitável ou trabalhar com níveis de confiança mais baixos. “O importante é ser transparente sobre as limitações e começar pelo que é possível”, disse.
- Encerrando o painel, a epidemiologista espanhola, Irene Iglesias, apresentou experiências do CISA/INIA voltadas à difusão animal e à aplicação de análises epidemiológicas no planejamento de políticas públicas. Sua participação online reforçou a importância de alinhar ciência e gestão para que dados de vigilância realmente orientem medidas preventivas e de resposta.
Após as apresentações, os organizadores conduziram os participantes a sessões de trabalho em grupos, voltadas a discutir soluções práticas para melhorar a detecção precoce em aves comerciais, silvestres e outros animais. O objetivo é transformar a diversidade de abordagens mostradas no painel em recomendações aplicáveis na estratégia global da FAO para influenza aviária.
A aviNews Brasil é o único veículo de comunicação a realizar a cobertura presencial do Fórum Internacional, trazendo informações sobe os discursos e debates diretamente de Foz do Iguaçu. A cobertura, viabilizada a partir do apoio da MSD Saúde Animal, pode ser acompanhada no site, redes sociais e no Canal agriNews Play Brasil no youtube.