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O setor avícola e os desafios para alimentar o mundo em 2050

Escrito por: Priscila Beck
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Jan Henriksen, CEO da Aviagen

Nos dias 15 e 16 de maio o tema foi pauta central da Conferência FACTA, cuja tradição de 30 anos é antecipar o debate de temas desafiadores para o setor  avícola.

Desde que a ONU (Organização das Nações Unidas) anunciou que a população mundial deverá chegar a 9,8 bilhões de pessoas em 2050, o mundo vem discutindo sobre o desafio de alimentar tanta gente. Segundo levantamento da FAO (Food and Agriculture Organization), a produção de alimentos precisará aumentar 70% para poder suprir a demanda desse crescimento populacional, que será maior nos países em desenvolvimento, com uma concentração de 70% da população em área urbana e níveis de renda maiores do que os atuais.

Em pouco tempo a Índia se tornará o Estado mais populoso do mundo, superando a China, e a Nigéria poderá desbancar os Estados Unidos do terceiro lugar em 2050.

Desde então, a atenção de inúmeros setores produtores de alimentos está voltada para essa projeção, inclusive a da indústria avícola. Nos últimos dias 15 e 16 de maio, inclusive, o tema foi pauta central da última edição da Conferência FACTA (Fundação APINCO de Ciência e Tecnologia Avícolas), cuja tradição de 30 anos é antecipar o debate de temas desafiadores para o setor avícola.

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Jan Henriksen, CEO da Aviagen, falou sobre os desafios do setor avícola para alimentar o mundo

Jan Henriksen, CEO da Aviagen, foi o responsável pela palestra magna da Conferência Facta, quando destacou que entre os desafios do setor avícola para atender a essa demanda estão: a falta de terras agricultáveis, o aumento das barreiras comerciais, a necessidade de adaptação do setor às disrupções e ampliação de investimentos em biossegurança.

Eficiência produtiva

Segundo ele, a carne de frango é saudável, nutritiva, tem preço acessível e apresenta uma das menores pegadas de carbono entre as proteínas animais produzidas em grande escala. Porém, ainda há muitos desafios a serem superados.

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Henriksen destacou a necessidade de aumentar a eficiência na produção devido à redução de áreas agricultáveis para produzir grãos, não só para a alimentação humana, mas para a produção de ração animal e combustível. “Todas as empresas de genética do mundo estão melhorando em 2 a 3% a taxa de conversão, a sobrevida das aves é melhor e isso tem nos permitido preservar milhares de hectares de terra“, observou.

Desafios Comerciais

As barreiras comerciais foram o segundo ponto destacado pelo CEO, que exaltou recentes medidas de grandes potências mundiais como Estados Unidos e China.”Precisamos criar uma compartimentalização para podermos negociar país a país“, observou Henriksen. “Mas isso demanda muito tempo, dinheiro e a nossa capacidade de negociar com todos“, completou.

As disrupções como produção de carne de laboratório e hamburguer vegetariano, entre outras tendências, também foi levantada por Henriksen. “Acho que isso não é um problema, mas temos que trabalhar com todas as tecnologias para saber como nos adaptarmos a essas tendências”, destacou. “Os jovens nos pressionam pelo bem-estar animal, nós estamos selecionando ‘aves felizes’ e essa é a nossa vantagem em relação à carne de laboratório”, completou.

Ao mesmo tempo, o CEO destacou que a produção de aves de crescimento lento não é capaz de atender à demanda mundial por proteína animal, devido à quantidade de carne que é consumida no mundo hoje. Segundo ele, trata-se de um tipo de produção que reduz em cerca de 25% a capacidade de alojamento num lote de 30 mil aves, gerando ainda um custo adicional de até US$ 30 milhões em ração.

Biossegurança

Como ponto primordial de atenção do setor, Henriksen destacou a biossegurança. Ele chamou a atenção para os ocorrências de Influenza Aviária, mas destacou o problema da PSA (Peste Suína Africana), que afeta principalmente a China, e a Salmonella.

A indústria americana está em pânico porque tem Salmonellla em 90% da sua produção“, destacou Henriksen. “Se não levarmos isto a sério, vamos prejudicar nossa relação com a geração mais nova, que está muito mais atenta ao nosso sistema de produção“, completou.

Sobre a PSA, o CEO lembrou o anúncio do governo chinês de eliminação de 22% da população suína do país, o  que representa entre 400 e 450 milhões de cabeças de animais. No  mundo existem cerca de 800 milhões de cabeças de suínos.

“Se isso estiver correto, não haverá carne suína e nem carne suficiente para preencher essa lacuna e, em alguns meses, isso vai ser uma loucura”, completou Henriksen. “Eu acho que o Brasil tem um futuro brilhante nos próximos anos porque vocês verão muitos chineses vindo comprar (carne) e não haverá produção suficiente para atendê-los”, completou.

Desmistificar

Por fim, o CEO da Aviagen destacou  a importância do setor desfazer preconceitos históricos relacionados à produção da carne de frango. Ele apresentou pesquisas que apontam que 72% das pessoas acreditam na utilização de esteroides e hormônios na produção de frangos e 70% acham que existem frangos transgênicos.

Deveríamos estar abertos e mostrar como lidamos com o bem-estar animal e tratamos tudo com muito respeito“, alertou. “Quem não quiser fazer da maneira correta tem que cair fora, precisamos retirar as pessoas que não querem trabalhar direito e consertar tudo isso, ou vamos perder clientes sob o meu ponto de vista“, completou.

Concluindo, Jan Henriksen, falou sobre a importância de o setor atrair novos talentos. “Precisamos dos melhores talentos do mundo todo para nos ajudar a encontrar as soluções, caso contrário, não poderemos alimentar as pessoas em 2050“, alertou. “Temos que dar a eles a liberdade de pensar ‘fora da caixa’ sobre como podemos resolver esse problemas“, concluiu.

A  Conferência

A Conferência FACTA WPSA-Brasil 2019 marcou os 30 anos da criação da FACTA. O evento reuniu profissionais e acadêmicos que acompanharam uma rica programação construída em torno do desafio do setor avícola na tarefa de alimentar o mundo até 2050, como novidades em automação, redução do uso de antibióticos e controle da Salmonella.

Irenilza Naas, presidente da FACTA, ao lado de Mario Penz, Diretor Global para Contas Estratégicas da Cargill Animal Nutrition

Segundo Irenilza de Alencar Nääs, presidente da FACTA, a avicultura é uma das áreas em ciência e tecnologia que está realmente colhendo o que plantou nos últimos 30 anos, já que o Brasil figura como um dos maiores produtores e o maior exportador mundial de carne de frango, considerada uma proteína animal de alta qualidade.

“Temos grupos de pesquisa nacionais que estão sempre interagindo com o segmento e focados em solucionar, e até se antecipar, a problemas que eventualmente se apresentem nos setores da cadeia de produção”, destacou. “O que nós buscamos na Conferência é justamente manter os profissionais atualizados, incentivar a pesquisa, sempre buscando temas de ponta e prospectando o futuro para nos mantermos atualizados”, finalizou.

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