A Doença Infecciosa da Bursa (IBD sigla do inglês “Infectious Bursal Disease”) ou, mais comumente, doença de Gumboro, está amplamente distribuída no mundo apesar do uso compulsório de vacinas e da maior biosseguridade. Destaca-se entre o grupo das cinco principais doenças de maior importância para a avicultura global, levando a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) a listar a IBD como uma doença notificável com importância em 2017.
Uma das razões da alta prevalência da doença e da persistência do vírus da IBD é a alta resistência viral, sobrevivendo em aviários na ausência de aves durante os períodos de vazio sanitário.
Práticas rotineiras de limpeza e desinfecção não conseguem eliminar totalmente as partículas virais infecciosas da cama e dos aviários.
A IBD é causada por um Avibirnavírus que se replica e danifica a Bursa de Fabricius de frangos e galinhas.
Os efeitos podem variar de inexistentes a graves, dependendo da patogenicidade da cepa viral de Gumboro envolvida, podendo ser necessária uma observação meticulosa e avaliações minuciosas em laboratório e a campo para determinar com exatidão o agente causador.
Em razão à alta resistência do vírus IBD e a sua permanência no sistema de produção, apesar dos esforços realizados na limpeza e desinfecção das instalações, a vacinação assume um papel importantíssimo no controle da doença de Gumboro.
COMO É UM PROGRAMA DE VACINAÇÃO ADEQUADO?
AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DE UM PROGRAMA DE VACINAÇÃO BEM SUCEDIDO:
Assegura a proteção contínua das aves contra a infecção em nível de granja: ‘Prevenção da Infecção’.
Protege contra sinais clínicos da doença: ‘Proteção Clínica’.
Previne a replicação de vírus selvagens na bursa e a contaminação do ambiente: ‘Redução da excreção de vírus IBD em campo’.
Evitar o “aumento da pressão de infecção” – diminui a circulação e quantidade de vírus de campo no ambiente, ciclo após ciclo;
Interrompe (para) a evolução do vírus IBD para uma forma que poderia escapar do programa de prevenção (produção de vírus variantes).
QUAIS TECNOLOGIAS DE VACINAS DISPONÍVEIS ATUALMENTE?
Temos atualmente disponíveis para imunização de frangos de corte três grupos de vacinas:
Produzidas com vírus vivo atenuado. Esse tipo de vacina possui limitações em relação a idade de aplicação, pois devem ser aplicadas após a queda dos títulos de anticorpos maternais (AcM), caso contrário a vacina é neutralizada e não atinge a sua função de imunizar as aves.
Outra limitação importante é a via de aplicação: a administração geralmente é via água de bebida e recomenda-se a utilização de mais de uma dose, cobrindo assim possíveis falhas de vacinação. É muito difícil garantir que todas as aves consumam água com solução vacinal (uma dose completa da vacina). Falhas de 30 a 50% na vacinação via água de bebida são comumente encontradas.
A desuniformidade de títulos maternais do lote impossibilita a “pega” vacinal homogênea. Desta forma, a imunização e proteção do lote não será uniforme. Apesar de serem muito efetivas em condições controladas, como nos ensaios em laboratório, as vacinas convencionais apresentam enorme possibilidade de falhas quando aplicadas a campo.
Produzidas a partir de vírus geneticamente modificado (“o vetor”), cujo genoma contém gene de IBDV específico (“o doador”) que codifica a proteína VP2 do capsídeo do IBDV. Atualmente, somente o Herpesvírus de Perus (HVT) é utilizado como vetor. Desta maneira, quando o HVT recombinante (rHVT; vetor) é aplicado nas aves, ele se replicará e expressará a proteína VP2 (do IBDV) em sua superfície e estimulará o organismo da ave a produzir uma resposta imune contra esta proteína e assim, contra IBDVs de campo que eventualmente infectem as aves nas granjas.
O máximo desenvolvimento da imunidade contra a Doença de Gumboro com este conceito vacinal ocorre lentamente e estará completo somente ao redor das 4 semanas de idade das aves vacinadas. Mesmo após esse máximo de proteção ser alcançado, as aves nunca estarão completamente protegidas contra o IBDV de campo pela simples razão de que a Bursa de Fabricius das aves nunca será colonizada por uma cepa vacinal do vírus IBDV.
E igualmente, o meio-ambiente de produção (galpões de frangos) nunca será colonizado uniformemente por uma cepa vacinal do IBDV que substitua as cepas presentes no campo. |
Consiste na suspensão de uma cepa vacinal viva atenuada do IBDV misturada em laboratório, em proporções muito específicas, com uma solução de anticorpos específicos contra a cepa vacinal. Dessa forma, o vírus vacinal (sempre uma cepa de maior invasividade, ou seja, intermediaria plus ou forte) é recoberto por estes anticorpos (que se unem a seus receptores na superfície do vírus) e forma-se o que é denominado de Complexo Imune (vírus vacinal unido a anticorpos).
Estes anticorpos unidos ao vírus tem a função primordial de proteger a partícula viral do reconhecimento pelos AcM na circulação do pintainho vacinado. Um certo tempo após a aplicação da vacina (in ovo ou SC) os complexos imunes se desfazem e o vírus vacinal, totalmente viável, entra na corrente sanguínea.
Este processo ocorre continuamente a partir dos 7-9 dias de idade das aves. Se ainda houver títulos suficientemente neutralizadores de AcM circulantes, as partículas virais vacinais liberadas dos complexos imunes serão neutralizadas até que o catabolismo normal dos AcM induza a queda do título e os vírus vacinais possam então colonizar e replicar-se na BF, imunizando as aves totalmente.
A segurança das vacinas de Complexo Imune, para o tipo de aves industriais às quais são recomendadas, é igual à das vacinas vivas do tipo intermediárias ou intermediárias plus ou fortes. Todas as aves serão vacinadas uniformemente e apresentarão uma “pega” vacinal a campo no momento ideal.
Ao induzir tal magnitude de proteção, as vacinas de Complexo Imune agregam uma enorme vantagem adicional no sentido de que aumentam significativamente a resistência dos lotes de frangos contra uma infecção de campo, bem como uma redução significativa na excreção de vírus no ambiente no caso de que aves vacinadas se infectem a campo. Desse modo, o conceito de vacinas de Complexo Imune proporciona uma colonização muito efetiva do ambiente com a cepa vacinal do IBDV e uma total parada do ciclo da Doença de Gumboro no sistema de produção de frangos.
As vacinas de Complexo Imune tiveram papel preponderante no controle da doença de Gumboro no Brasil; com a introdução desse tipo de vacina, há 15 anos, foi possível alcançar uma proteção ampla da doença. Atualmente mais de 70% dos frangos no Brasil são imunizados com esse tipo de tecnologia. As vacinas de Complexo Imune com adequado balanço antígeno-anticorpos se mostraram a escolha mais acertada, uma vez que combinam inúmeras vantagens, como:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A doença de Gumboro é um problema latente na avicultura moderna, motivo de perdas importantes para o setor. Para o controle efetivo da doença é necessário entender que o programa de imunização contra Doença de Gumboro se inicia na granja de matrizes e finaliza com a aplicação de uma dose completa de uma boa vacina nos pintos de corte.