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É possível mitigar a ocorrência de Peito Amadeirado em frangos de corte através de estratégias nutricionais?

Escrito por: Liris Kindlein - Departamento de Medicina Veterinária Preventiva, Faculdade de Veterinária - Universidade Federal do Rio Grande do Sul , Raquel Araujo, - Especialista em Serviços Técnicos
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Novus qualidade de carne

Os defeitos musculares são enfermidades emergentes na avicultura mundial há mais de uma década.

Sabe-se que o peito amadeirado é definido pela ocorrência de áreas pálidas e com rigidez aumentada do músculo do peito, tipicamente em sua porção cranial, entretanto o endurecimento pode ser encontrado por toda a musculatura, em casos mais graves.

Histologicamente pode ser observada uma substituição do tecido muscular por conjuntivo, sendo esta ou através da fibrose ou por um acúmulo deste tecido no interstício.

 

A mitigação de defeitos musculares peitorais pode ser feita através de:

nutrição,

ambiência,

manejo,

genética e, até mesmo,

status imunitário e sanitário do animal com controle de desafios e bem-estar durante o seu período de produção.

 

Neste contexto, a utilização de agentes antioxidantes dietéticos como estratégia nutricional tem por objetivo equilibrar os níveis de pró-oxidantes e antioxidantes para a função de proteção e reparo celular.

Frangos que possuem uma elevada taxa de crescimento muscular resultam em aumento da demanda metabólica e circulatória, levando a um maior risco de acúmulo de produtos residuais metabólicos nos tecidos musculares.

Assim, aumenta-se o estresse oxidativo, podendo ocorrer por produção excessiva de radicais livres (pró-oxidantes) ou até mesmo por redução das defesas antioxidantes.

Em níveis celulares, pode gerar:

dano oxidativo,

lipidose,

injúria de tecido,

estabelecimento de inflamação no tecido e

eventual degeneração do tecido muscular.

 

Sabe-se que fatores como gordura oxidada na dieta e estresse calórico podem fazer com que haja aumento de estresse oxidativo nos tecidos, podendo levar a eventuais aumentos de incidência de defeitos musculares e miopatias.

Sabe-se, ainda, que uma dieta com antioxidantes, vitaminas e oligoelementos biodisponíveis, por exemplo, zinco, cobre, manganês e selênio, diminuem o estresse oxidativo no tecido animal.

O estresse oxidativo se dá através de lesões como a hipertrofia, gerando um baixo aporte de oxigênio, e a hipóxia faz com que na mitocôndria, onde ocorre o metabolismo normal de formação de energia, se obtenha a formação de espécies reativas de oxigênio.

Assim, ocorre redução incompleta de oxigênio, transformando-se em superóxido, em peróxido de hidrogênio e em radical hidroxila. Através da ação das espécies reativas de oxigênio há oxidação dos ácidos graxos poli-insaturados (PUFAs), em processo denominado peroxidação lipídica, ocasionando o dobramento anormal, lise e perda de atividade enzimática das proteínas e gerando também a quebra de DNA, consequentemente surtindo danos celulares.

DEFESA ANTIOXIDANTE

No momento do estresse celular ativa-se a defesa antioxidante, com a função de inibir e reduzir os danos causados pelas espécies reativas de oxigênio.

Esta defesa ocorre por dois sistemas:

os enzimáticos (superóxido dismutase (SOD), glutationa peroxidase (GPx) e catalase (CAT)) e

os não-enzimáticos (suplementação dietéticas de compostos que têm funções nesses sistemas, como vitaminas, minerais, compostos fenólicos e glutationa).

 

Para os mecanismos de defesa dos antioxidantes existem três tipos:

os antioxidantes preventivos, que suprimem a formação de radicais livres;

os antioxidantes varredores, que eliminam os radicais livres para suprimir a iniciação em cadeia e/ou quebrar as reações de propagação em cadeia;

os antioxidantes reparadores, que reconhecem, degradam e removem proteínas modificadas por oxidação, evitando o acúmulo de proteínas oxidadas.

O zinco, cobre, manganês são microminerais com múltiplas funções, agindo de maneira positiva na:

capacidade de absorção de nutrientes,

redução do gasto energético decorrente da renovação celular,

aumento da atividade enzimática e antioxidante,

melhora da resposta imune,

modulação positiva da microbiota intestinal e

estímulo a efeitos sistêmicos que promovem melhor desempenho dos animais.

 

Mais especificamente sobre a capacidade antioxidante destes microminerais tem-se que os três atuam em mecanismos de proteção através, por exemplo, da superóxido dismutase dependente do manganês (MnSOD) e da superóxido dismutase cobre-zinco dependente (CuZnSOD).

Tal mecanismo de ação é relevante pois sabe-se que o aumento do estresse oxidativo devido à insuficiência circulatória e hipóxia no tecido muscular de frangos de corte de linhagens de alta e média performance relaciona-se com a incidência de peito amadeirado.

QUALIDADE DA CARCAÇA

Além da capacidade antioxidante, outros pontos influenciam a qualidade da carcaça.

Os microminerais são importantes:

no desenvolvimento da integridade da pele,

na manutenção de sua integridade,

afetam positivamente a resposta imunológica em situações de desafios ambientais,

participam do processo de cicatrização e remodelação do tecido.

permitem o crescimento e desenvolvimento ósseo adequados na área de crescimento e integridade do esqueleto,]

reduzem a incidência de claudicação, ou fraturas durante o processamento,

 

Em particular, o zinco é importante no desenvolvimento de colágeno e queratina, o cobre é importante nas ligação cruzadas entre estas proteínas e o manganês é importante no desenvolvimento da cartilagem.

Obviamente, uma maior ou menor efetividade dos microminerais nestas diversas funções dependem da biodisponibilidade destes que pode ser definida de maneira simplificada como:

A proporção de um nutriente ingerido de uma fonte específica que é absorvida e utilizada pelo organismo.

Sabidamente os minerais são susceptíveis a antagonismos no trato gastrointestinal (principalmente na faixa de mais baixo pH), podendo interagir negativamente entre si, com outros nutrientes e com fatores não nutritivos. Desta forma há redução de absorção e aumento de excreção.

MINERAIS ORGÂNICOS

Para evitar este efeito e buscando uma nutrição de precisão, a utilização de minerais orgânicos tem sido cada vez mais relevante.

O termo mineral ‘orgânico’ se refere ao simples fato do primeiro estar ligado ao material orgânico, ou seja, a ligante(s) que apresenta(m) moléculas de carbono em sua estrutura, fazendo com que a molécula orgânica sirva como veículo e proteção ao metal até seu ponto de absorção (intestino).

Contudo, para que haja efetividade, deve-se considerar, além do ligante:

a força de ligação metal-ligante,

número de ligações,

estabilidade da molécula às mudanças de pH,

peso molecular etc.

 

Portanto, os minerais orgânicos não são todos iguais e suas características impactam na biodisponibilidade e na efetividade da nutrição.

 

ESTUDO

Em estudo recente, Kuttappan et al. (2021) avaliaram fontes de minerais orgânicos reconhecidos pela organização americana Association of American Feed Control Officials (AAFCO) como:

Quelato Metal Metionina Hidroxi Análoga (resultante da reação de um sal metálico com hidróxi análogo de metionina, HMTBa, na relação molar de 1 metal para 2 moles de HMTBa, formando ligações covalentes coordenadas e anéis heterocíclicos, Mintrex®).

O valor nutricional do ligante (metionina) foi considerado na formulação. Neste estudo, os autores concluíram que intervenções nutricionais incluindo os quelatos Mintrex® Zn, Mintrex® Cu e Mintrex® Mn, Se orgânico e etoxiquina…

Podem melhorar o desempenho e aumentar a integridade da carcaça, reduzindo problemas como peito amadeirado, de forma independente ou com efeito aditivo.

A combinação dos quelatos Mintrex® com etoxiquina:

reduziu o estresse oxidativo no tecido muscular e

aumentou a porcentagem de filés normais (ausência de peito amadeirado) em frangos alimentados com dieta contendo gordura oxidada (KUTTAPPAN et al., 2021).

 

Em adição, para animais sob estresse térmico moderado, os quelatos Mintrex®:

reduziram a incidência de lesões na cabeça da tíbia,

arranhões na pele,

calo de peito e

aumentou a incidência de filés normais.

 

Quando tais quelatos foram combinados com etoxiquina e selênio orgânico houve:

aumento adicional na incidência de filés normais e

redução do estresse oxidativo no tecido.

 

Este efeito é provavelmente obtido através da melhora simultânea do status antioxidante endógeno e exógeno, reduzindo o estresse oxidativo e melhorando o processo de cicatrização tecidual dos frangos (KUTTAPPAN et al., 2021).

Neste sentido, é importante ressaltar que os minerais orgânicos foram suplementados em substituição aos inorgânicos e em níveis reduzidos, devido a sua maior biodisponibilidade, e que altos níveis de minerais inorgânicos podem ser pró-oxidantes.

Portanto, embora diversos fatores influenciem e potencializam os danos musculares e a severidade de peito amadeirado, estratégias nutricionais adequadas também devem ser consideradas para garantir a obtenção de um tecido muscular, buscando a mais íntegro e mitigação de miopatias.

REFERÊNCIAS

KUTTAPPAN, V, A. et al. Nutritional Intervention Strategies Using Dietary Antioxidants and Organic Trace Minerals to Reduce the Incidence of Wooden Breast and Other Carcass Quality Defects in Broiler Birds Frontiers in Physiology. v. 12, 2021.

Demais referências sob demanda.

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