Efeito da reação pós vacinal de diferentes cepas contra a Doença de Newcastle
A Doença de Newcastle (DN) é uma infecção viral altamente contagiosa que afeta o sistema nervoso, respiratório e digestório das aves (FLORES et al. 2006), transmitida principalmente pelo contato direto entre as aves. Esta doença está presente no mundo todo, inclusive no Brasil de forma endêmica. Pode gerar grandes perdas econômicas na avicultura industrial com eliminação de milhares de aves e restrições nas importações e exportações (RAUW et al. 2009).
A principal forma de prevenção da DN é a vacinação, atualmente as vacinas comerciais que existem disponíveis contra a DN são vacinas vivas atenuadas, vacinas inativadas e vacinas vetorizadas (BERMUDEZ et al. 2003, MARANGON et al. 2006).
- Tipos de Vacinas contra DN
As vacinas inativadas são comumente destinadas a imunização de aves de ciclo longo, onde exige a permanência do antígeno por mais tempo a fim de promover uma resposta imune duradoura, assim, não são muito utilizadas no Brasil.
Pesquisas moleculares proporcionaram o desenvolvimento de um novo grupo de vacinas, as chamadas vacinas vetorizadas, que diminuem as reações pós-vacinais, reduzem a excreção de vírus no campo, sem a interferência de anticorpos maternais por período prolongado (> 70 semanas), e não interferem na resposta imune para outras enfermidades (PALYA et al. 2014).
No sistema respiratório um dos órgãos mais afetados é a traqueia, pode-se notar alterações em sua mucosa e submucosa, quanto mais graves essas alterações, piores serão as reações pós vacinais. Quando as aves têm um dano ou injúria da mucosa respiratória, o epitélio perde capacidade funcional para limpar as partículas inaladas, permitindo que bactérias, como por exemplo, Escherichia coli, possam colonizar e danificar o trato respiratório inferior e, em alguns casos, invadir a corrente sanguínea e causar septicemia (ABDUL-AZIZ et al., 2016).
- Material e Métodos
Rocha et al. (2022) realizaram um estudo testando as principais vacinas contra a Doença de Newcastle disponíveis no mercado, simulando condições de criação de frango de corte à campo por meio da avaliação da resposta vacinal no epitélio traqueal.
As vacinas foram:
- Vacina vetorizada cepa Sorotipo3 lentogênica pneumotrópica (Vectormune ND HVT ®), aplicada por via subcutânea;
- Vacina da cepa PHY.LMV.42 lentogênica enterotrópica (Cevac Vitapest L®), administrada pela via ocular e spray;
- Vacina da cepa La Sota lentogênica pneumotrópica (Newcastle LaSota®), administrada pela via ocular e spray.
Nas demais vacinas ocorreram espessamentos significativos, esses espessamentos da mucosa traqueal ocorrem devido ao processo de replicação das cepas vacinais lentogênicas pneumotrópicas que possuem tropismo respiratório, replicando-se especialmente na mucosa da traqueia e causando lesões inflamatórias que promovem o espessamento da mesma (ABDUL-AZIZ e ARP 1983).
Para análise histomorfométrica da mucosa traqueal foi utilizado o protocolo de Nunes et al. (2002), sendo as lâminas observadas e fotografadas em objetiva de 40X em um microscópio óptico trinocular DM500 Leica®. As mensurações da espessura da mucosa traqueal, foram realizadas em dez diferentes pontos equidistantes 100µm entre si, utilizando o software Image J®. – colocar uma letra A no início da seta e B no término da seta.
Dentre as aves vacinadas com a cepa PHY.LMV.42 por via ocular ou por via spray, somente no 14º dia pós-vacinal verificou-se aumento na espessura traqueal, principalmente devido à inflamação local. Já aos 21 dias a via ocular apresentou diminuição da espessura da mucosa traqueal, isso pode ter ocorrido porque permite que a ave ingira a vacina através da fenda palatina, dessa forma, um maior número de partículas virais chega ao epitélio entérico (BORNE e COMTE, 2003).
Aos 14 dias a cepa La Sota via ocular apresentou maior espessura da mucosa traqueal comparada ao Sorotipo 3 (p<0,05), mantendo sua maior agressividade (Figura 2).
Já aos 21 dias foi possível observar que os animais vacinados com cepa PHY.LMV.42 por via ocular e com a cepa La Sota por via spray apresentaram maior espessamento da mucosa da traqueia comparada ao Sorotipo 3 (p<0,05), sendo visível a qualidade superior da Sorotipo 3 em provocar um menor espessamento da mucosa (Figura 3).
Este achado referente a cepa PHY.LMV.42 demonstra que apesar das estirpes entéricas apatogênicas se replicarem principalmente no trato intestinal, também existe replicação no trato respiratório (SATRA 2011).
- Conclusão
Sendo assim, este trabalho de Rocha et al. (2022) demonstrou que a vacina La Sota produz maiores reações pós-vacinais, principalmente a aplicada via spray, logo, ela não é recomendada para vacinações preliminares (GLISSON e KLENVEN, 1997), e que a vacina vetorizada produziu as menores reações pós-vacinais, preservando mais a mucosa traqueal e assim assegurando uma melhor barreira de defesa as aves, sendo a melhor opção para imunização das aves contra a Doença de Newcastle.
Em caso de dúvida ou necessidade de mais referências bibliográficas, favor consultar a autora (Priscilla Rocha – priscilla.rocha@ceva.com).