O bem-estar animal é uma preocupação constante do setor de produção de proteínas, não apenas pela postura cada vez mais crítica da sociedade frente à produção de alimentos de origem animal, mas também por sua relação com os indicadores zootécnicos e econômicos do rebanho.
O fato novo é que, com o passar do tempo e devido à sua importância, o tema vem se diversificando, estabelecendo conexão com praticamente todas as áreas da produção avícola.
Do abate humanitário, passando pelo uso racional dos antimicrobianos nos sistemas produtivos, até sua influência para a qualidade final da carne, o bem-estar é tido como preceito elementar para a competitividade do setor, do campo à indústria.
Para abordar esse tema, a aviNews Brasil convidou a Diretora de Sustentabilidade da BRF, Mariana Modesto, para responder a perguntas feitas pelos especialistas brasileiros da área de bem-estar animal:
Iran Oliveira, coordenador do Nupea (Nucleo de Pesquisa em Ambiência) – Esalq/USP.
Kali Simioni, Paola Rueda e Leonardo Vega, que compõem a equipe do Produtor do Bem.
Confira o resultado desse trabalho!
Mariana Modesto – Estamos em estágio avançado e, em média, nas operações da BRF, nosso percentual chega a 71%. Os dados podem ser acompanhados em nosso site (https://www.brf-global.com/sustentabilidade/bem-estar-animal/nossaspraticas/criacao-e-saude-animal/) que é atualizado periodicamente. Em 2021, seguimos com a programação para implantar o enriquecimento ambiental nas granjas de perus de corte para garantir o atendimento previsto em nosso compromisso.
Rosangela – Quais são os tipos de enriquecimento ambiental adotados na criação de perus pela BRF? São usados objetos com cores pra chamar a atenção das aves? São oferecidos poleiros? E quais especificações técnicas devem ser respeitadas para cada tipo de recurso adotado?
Atualmente, usamos poleiros apenas como enriquecimento para nossas granjas de frangos. Para o uso do enriquecimento ambiental, é importante observar alguns critérios, como por exemplo, o número de objetos a serem colocados, pela quantidade das aves.
Além disso, para melhor eficiência do objeto que será inserido é necessário observar a idade das aves, para definir a localização onde será instalado, de maneira que fique suspenso em uma altura que as aves possam alcançar para interagir, sem causar desconforto aos animais.
A idade das aves também é muito importante para que se defina o local onde serão pendurados, sendo recomendável a instalação a uma altura próxima à cabeça da ave, sem arrastar no chão. Para perus, a interação de bicar será muito observada, é importante que o líquido utilizado seja comestível.
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MM – O enriquecimento ambiental é utilizado em todo o ciclo de produção dos animais, desde o alojamento até o abate das aves. Os perus respondem muito bem à interação com as garrafas pets em todos os ciclos, não sendo necessário mudar o enriquecimento ambiental para essas aves. As trocas do objeto podem ser necessárias, caso esteja quebrado ou apresente algum risco para o animal.
Iran – Dentre os diferentes tipos de Enriquecimento Ambiental usado na criação de perus, qual deles permite uma maior interação com os animais em função da idade?
MM – O enriquecimento utilizado e mais atrativo foi a garrafa pet com líquido colorido (azul ou verde) em uma altura adequada desde o alojamento até o abate das aves, distribuídos ao longo do aviários, de forma que os animais alcancem e tenham interação com o objeto.
Além das garrafas, podem ser usados como enriquecimento ambiental, nas fases de peru iniciador, poleiros, cordas de sisal e fardos de maravalha.
MM – Todas as formas já avaliadas de enriquecimento ambiental tiveram grande atratividade para perus, entretanto, de forma prática e com menor custo, as garrafas pet trazem um benefício adicional.
Além disso evitamos a introdução de outros objetivos de difícil higienização e que possam trazer riscos à saúde dos animais.
MM – Os animais possuem a tendência de se acostumar com os objetos inseridos como enriquecimento ambiental e isso varia muito de objeto para objeto e de espécie para espécie. Para aves, a cor do líquido empregada como enriquecimento dentro das garrafas, garante essa diversidade/novidade. Objetos manipuláveis pelos animais possuem uma maior aderência e atratividade.
Kali – Que fatores podem tornar ineficaz o Enriquecimento Ambiental implementado?
MM – Os enriquecimentos ambientais precisam estar limpos e em boas condições de uso, com realização adequada da manutenção da altura correta e a disposição correta dentro dos aviários.
Outro ponto importante é garantir a disponibilidade do enriquecimento proporcionalmente ao número de aves alojadas. Objetos manipuláveis possuem uma maior atratividade aos animais, sendo aqueles moveis e rígidos pouco aceitos pelos animais. Quando esses fatores não são observados podem reduzir a atratividade e a eficácia do enriquecimento ambiental.
MM – A produção de perus é feita majoritariamente em aviários de pressão positiva o que garante que as aves tenham acesso a luz natural de forma constante.
Leonardo – Estudos europeus mostram que os problemas locomotores, como claudicações, podem ser um fator de risco ao bem-estar dos perus. Quais materiais podem ser utilizados no Enriquecimento Ambiental para prevenir este problema e, ao mesmo tempo, permitir a expressão do comportamento natural?
MM – De forma geral há uma grande preocupação com a qualidade da cama e a manutenção dela ao longo do lote, sendo este um fator primordial na produção de perus, uma vez que, aliados estes parâmetros são essenciais para a redução de problemas locomotores.
Ambientes mais atrativos permitem a expressão do comportamento natural e, para isso, as garrafas pet podem ser consideradas uma alternativa interessante, assim como a introdução de fardos de maravalha.
aviNews Brasil – Existe algum tipo de trabalho, ou levantamento para mensuração de resultados que comprovem a eficiência do Enriquecimento Ambiental em relação à saúde dos perus?
MM – Sim, existem trabalhos em andamento em nossas granjas experimentais de peru de corte. Estamos avaliando a atratividade e a interação das aves com diferentes tipos de enriquecimentos ambientais e, também, correlacionando com os resultados zootécnicos como mortalidade, conversão, condenação etc.
Rosangela – Qual a percepção e a receptividade dos integrados quanto à implementação e manutenção dos recursos usados como enriquecimento ambiental?
MM – Os produtores integrados estão satisfeitos com os processos de enriquecimento ambiental promovidos pela BRF e elogiam os benefícios percebidos pelos procedimentos adotados, uma vez que as aves interagem bem com as garrafas durante todo o lote.
MM – Oferecer um padrão efetivo de enriquecimento ambiental para as aves faz parte de um dos compromissos públicos assumidos pela BRF.
Acreditamos na efetividade do enriquecimento ambiental como uma ferramenta para que a ave expresse seu comportamento natural, mantendo as aves mais ativas, proporcionando uma maior interação com o ambiente e garantindo bem-estar animal.
Comunicamos nossos avanços sobre o tema em nosso site e redes sociais para que a informação esteja disponível a todos os consumidores e clientes, reforçando a transparência da Companhia.
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