“Não adianta acharmos que as coisas serão resolvidas exportando tudo pra China”, alertou Érico Pozzer, diretor da Cooperativa Pecuária Holambra, no último dia 13/4.
A declaração foi feita durante participação do médico veterinário em uma Live no Instagram da aviNews Brasil, revista especializada em avicultura.
Parte de um grupo de três cooperativas – Veiling Homabra (flores) e Insumos Holambra –, a Cooperativa Pecuária Holambra foi fundada em 1948 por holandeses, na cidade que deu nome ao grupo, no interior de São Paulo.
Empresa de organização verticalizada, a Cooperativa Pecuária Holambra abate uma média de 80 mil frangos por dia, dos quais cerca de 20% são comercializados como frango inteiro. Da sua produção total de frangos, 95% é comercializado nas regiões de Campinas e Grande São Paulo, no estado onde cada um dos 46 milhões de habitantes consome 30% a mais de qualquer proteína.
Ao comentar a respeito dos impactos da crise do novo coronavírus sobre a produção e comercialização de carne de frango no Brasil, Erico Pozzer destacou que o setor precisa ter visão realista. Segundo ele, caso o volume de exportações se mantenha na média mensal de 350 mil toneladas, as 800 mil toneladas que restam para o consumo interno, dificilmente serão absorvidas.
“Na situação em que nós estamos, sem fornecer para merenda escolar, restaurantes, hotéis, comida de avião, turismo, acho muito difícil”, observou Pozzer. “Na minha visão, tanto pelo custo, como pela demanda e (baixo) preço de venda, estamos entrando num período de dificuldades que não é desconhecido”, alertou.
Segundo ele, a tonelada da ração produzida hoje para alimentar frangos alcançou um custo de R$1,5 mil, cerca de 10% mais caro que no início do ano. Ao mesmo tempo, desde o início da segunda quinzena do mês de março, os preços dos produtos de frango sofreram uma queda de 10%.
“Nós não trabalhamos com 20% de margem no ano passado”, afirmou Pozzer. “Então, isso já está nos levando a entrar abril com alguma dificuldade”, completou.
Sobre os volumes de exportações, Pozzer lembrou que, por mais que a China aumente suas importações, o volume acabará compensando a redução de importações por outros mercados que estão “mais duvidosos”, como Europa e Japão. “Eu diria que 350 mil toneladas, que é o ritmo atual, seria um bom número para nós”, ressaltou.
O diretor da Cooperativa Pecuária Holambra lembrou que a indústria avícola brasileira deve levar em consideração a retração que está ocorrendo nos Estados Unidos e refletir a respeito de qual efeito terá sobre no consumo e as exportações do país norte-americano. Ele destacou ainda a necessidade de atenção sobre que tipo de acordo os EUA podem fazer com a China.
“Então, este quadro só tem um remédio, já muito bem conhecido por todos os empresários do setor de frangos, que é ajustar a oferta com a demanda”, alertou Érico Pozzer.
“Eu acho que 20% é um número a ser pensado para poder adequar o alojamento de pintinhos”, salientou, lembrando que esse foi o percentual de ajuste aplicado na crise de 2017. O empresário explicou também que algumas indústrias estão optando por reduzir o peso do frango, seja via nutrição, ou abate.
“O que não adianta é querermos ser heróis, abrindo mão de rentabilidade”, salientou Pozzer. “A avicultura está muito tecnificada e nós temos que ter margem, senão não conseguimos fazer os investimentos necessários para produzir com qualidade”, concluiu.
Confira a íntegra da Live de Érico Pozzer no Instagram da aviNews Brasil.