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A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) pede que sejam adotadas medidas frente o potencial risco de novos focos de Influenza Aviária entre o final de 2017 e março deste ano. Nesse comunicado, a especialista da FAO, Sophie Von Dobschuetz, destacou que as aves selvagens hospedam de forma natural a Influenza Aviária e através delas os vírus podem ocasionalmente contagiar os planteis comerciais de aves e se tornar um problema para a cadeia produtiva, ocasionando perdas econômicas.
Além disso, em 2013 causou grande comoção no mundo, quando um surto de gripe aviária foi desencadeado em nível global – 40 países com casos. A Organização Mundial da Saúde (OMS), solicitou na ocasião, vigilância atenta aos focos da Influenza Aviária.
“Ecologia do vírus da influenza aviária na Antártica: papel das aves migratórias na introdução da influenza na população de pinguins”, esse é o nome do projeto liderado pelo Dr. em Ciências Biomédicas da Pontifícia U. Católica do Chile, Rafael Medina, do Centro de Pesquisas Médicas.
Os pesquisadores estão pela segunda vez no Continente Branco, como parte da Expedição Científica Antártica (ECA 54), realizada todos os anos pelo Instituto Antártico Chileno (INACH), para investigar diferentes tipos de pinguins e sua relação com a influenza aviária (origem e evolução).
Os cientistas esperam colher amostras de pinguins (adelia e papúa) na baía Fildes, baía Paraíso, ilha Doumer, ilha Lagotellerie, ilha Avian e cabo Shirreff.
“Encontramos evidencia sorológica (anticorpos no sangue) de que existe presença de influenza ena região. Através de amostras sanguíneas, observamos que estes pinguins (adelia) mantém anticorpos contra o vírus. Nesta temporada 2018 queremos obter uma maior quantidade de amostras que o ano passado”.
Como informação preliminar, Medina já corroborou alguns dados. “Encontramos um vírus a partir de estudos preliminares que, embora alguns dados indiquem que ele pode ser autóctone da Antártica, também está relacionado com o vírus da Influenza Aviária encontrado e, patos na América do Norte. Existe uma evidência clara de que há um potencial de introdução, porém queremos entender a dinâmica e como se relacionam entre si”.
Na temporada anterior, os cientistas conseguiram amostras de cerca de trinta indivíduos e encontraram dois com presença de anticorpos positivos para influenza. Estas amostras foram recoletadas na ilha Avian, onde se aninham mais de 66 mil casais de pinguins.
O vírus da influenza, no caso dos pinguins, se replica nos intestinos, segundo destaca Medina. Uma forma de obter uma boa amostra disto, é extraí-la da cloaca (cavidade situada na parte final do trato digestivo, onde coincidem os condutos finais dos aparatos urinário e reprodutor) do animal. Os pesquisadores recolhem essa amostra, além da de sangue, e juntam as duas medições para verificar se a ave esteve exposta no passado através do sangue ou se se encontra presente hoje.
“Encontramos indivíduos positivos na ilha Avian, baía Paraíso e cabo Shirreff. De todas as amostras que obtivemos na temporada passada, 22% resultaram positivas para os pinguins adelia. Por sua vez, estes indivíduos compartilham, muito próximo, de outra colônia de pinguins, porém do tipo papua, dos quais apenas 2% resultou positivo”, acrescenta o cientista da PUC.
Trabalho investigativo
O trabalho dos pesquisadores se baseia em isolar os vírus, obter o material genético e sequenciar o genoma completo. O processo ocupa uma boa quantidade de tempo, já que é um trabalho minucioso, já que a amostra é congelada em nitrogênio líquido em terra e transportada até Santiago para o trabalho de laboratório.
“Um dos pontos chave é que o vírus da influenza em aves é como o hantavírus nos roedores. São portadores, porém não necessariamente produzem a doença. No trabalho de pesquisa com os pinguins já sabemos que existe esta doença nesta região, agora nos toca averiguar se estas populações de animais podem chegar a contagiar”, explicou Medina.
Onde o vírus se origina, é importado ou autóctone?
Até agora, pode-se dizer que onde há pinguins, o vírus pode estar presente. Esperamos nesta próxima temporada obter uma maior quantidade de amostras. Com o genoma viral, podemos entender onde se originam. São autóctones que poderiam estar presentes na Antártica desde o passado, ou são vírus importados, introduzidos pelo continente através de aves migratórias?”, destaca Medina.
O trabalho de laboratório é um processo extenso, já que a equipe científica acrescenta que o ideal é manter a amostra o mais intacta possível. Trabalha-se isolando o vírus através do cultivo em células ou ovos embrionados que servem como substrato, além do trabalho através da biologia molecular para a extração do material genético.