A genética tem sido a peça chave para inúmeras melhorias e evolução na produção de alimentos mais seguros, mais saudáveis, com menores custos de produção, maior facilidade de cultivo, entre outros inúmeros ganhos. Na avicultura de postura, as aves que na década de 60 produziam 240 ovos, passaram a produzir 500 ovos nos dias de hoje, com melhor eficiência alimentar.
A avicultura de postura tem sido beneficiada de inúmeras maneiras com a evolução genética, que mais que o aumento da produção por animal, tem promovido maior rusticidade às aves, minimizando perdas por doenças ou estresse ambiental. Essa evolução também tem promovido redução do impacto sobre o meio ambiente a partir da pegada de carbono; produzido aves de forma mais consciente e socialmente responsável; e agregado valor ao alimento produzido.
O ovo é hoje o 2º alimento mais completo do planeta e o 1º mais acessível ao consumidor.
As galinhas poedeiras também passaram a oferecer melhor qualidade de casca até o período final de postura, curva de crescimento melhorada com ganhos na recria e estabilidade na produção, eficiência na conversão de alimento, viabilidade e qualidade de produto.
O tema foi debatido no último dia do XVI Congresso de Ovos, realizado pela Associação Paulista de Avicultura (APA), em Ribeirão Preto. No dia 22/3, o gerente da Hendrix-Isa na América do Sul, Fidel Gonzalez, e o diretor geral da Hy-Line, Tiago Lourenço, apresentaram suas visões sobre o manejo da poedeira moderna, quais os novos desafios.
Segundo Fidel Gonzalez, já existem granjas que produzem 510 ovos de primeira qualidade por ave alojada às 102 semanas de idade. “Isso não é mais um sonho e sim uma realidade”, destaca Gonzales.
Já o médico veterinário Tiago Lourenço, destaca que a avicultura moderna não é, nem de longe, a mesma praticada há alguns anos. “A poedeira moderna é um animal muito mais eficiente, desenhada pelas mãos da genética, nutrição, sanidade e do manejo para satisfazer suas próprias necessidades e atender aos anseios e a fome da crescente população do planeta”, afirma.
Tudo isso é fruto de elevados investimentos em pesquisa e desenvolvimento, abertura tecnológica e visão empresarial dos poucos grupos que detém as genéticas para distribuição de poedeiras comerciais no mundo, todos com atendimento direto aos produtores de ovos no caso do Brasil.
Entretanto, o potencial genético destas aves somente será aproveitado em sua plenitude com o emprego de Boas Práticas de Produção (BPP) e programas bem sucedidos de criação e manejo. Atualmente, as maiores perdas observadas pelos produtores de ovos ainda são relacionadas à qualidade ou coloração de casca, altas mortalidades precoces até o pico de produção, ou após 65 semanas, e menor quantidade de ovos vendáveis produzidos.
Tiago Lourenço destaca que os produtores devem assumir cada vez mais papel protagonista neste cenário e atuar pró-ativamente, propiciando o melhor ambiente possível para que a poedeira moderna consiga expressar seu máximo potencial produtivo, com maior rentabilidade.
“As aves que os produtores já têm em mãos apresentam um potencial muito maior do que vários conseguem extrair”, observa Lourenço. “É preciso seguir investindo assertivamente na estrutura, manejo, nutrição e sanidade do processo de produção para colher estes frutos”, completa.
Gonzales destaca que boas condições de cria-recria são fundamentais para ter o melhor início e desenvolvimento possível. Ele destaca a necessidade de cuidados com pontos como controle de temperatura e umidade, tipos de galpões, programa de luz, controle do peso semanal e da maturidade sexual.
O gerente da Hendrix também chama a atenção para a estimulação ao consumo do alimento e da água, além do cuidado com a qualidade da água oferecida às aves. “Temos coragem de beber da água do niple, da copa ou da calha dentro de um galpão”, observa. “Parece brincadeira, mas não é”, adenda Gonzales.
Essas iniciativas por parte do produtor, segundo o diretor geral da Hy-Line, são o diferencial competitivo entre as empresas. “Há diferenças de várias dúzias na produtividade, vários reais por caixa de ovos e mais de 10-15% no custo de produção final entre produtores, o que certamente influencia nas estratégias, qualidade do produto e lucratividade”, salienta Tiago Lourenço.
Segundo ele, um dos grandes desafios de toda a cadeia produtora de ovos é entender as particularidades dessa evolução genética para atuar de maneira cada vez mais precisa na criação das poedeiras.
“O que nos trouxe até aqui não será o que nos levará para o próximo nível”, salienta Lourenço. “É ilusório acreditar que manejaremos aves até 100 semanas de idade, ou mais, com boa produtividade, viabilidade e qualidade de ovos vendáveis com as mesmas práticas e conceitos de manejo, ambiência, nutrição e sanidade de quando as manejávamos até 70 ou 80 semanas”, destaca.
Fidel Gonzales explica que pelo fato de as poedeiras estarem cada vez mais produtivas, botando muito mais ovos e por mais tempo em ciclos de produção mais longos, sobra pouco espaço para as necessidades fisiológicas como o funcionamento do sistema imune. “É aí que entra o manejo sanitário, que vai garantir a biosseguridade da granja”, destaca. “E o corpo de funcionários que trabalha nas nossas granjas deve estar muito bem informado sobre as razões para os programas de limpeza, desinfecção e vacinação”, completa.
Aos produtores de ovos, a mensagem que fica é de que é fundamental elevar cada vez mais os padrões de criação animal com Boas Práticas de Produção (BPP), treinamento e educação continuada das pessoas e equipes envolvidas, procedimentos padronizados e sistemas de auditoria implantados, independentemente do sistema produtivo.
“Além de entender e atender às novas demandas do novo consumidor, ou seja, produzir alimento saudável e seguro, livre de resíduos, antibióticos e contaminantes, de maneira sustentável para o campo e para as pessoas, respeitando o bem-estar animal”, conclui Tiago Lourenço.