De acordo com Wu & Li (2022), durante as décadas de 1950 e 1980 ficou claro a necessidade dos nutricionistas evoluírem o conceito de como balancear a composição proteica das dietas. As principais deficiências conceituais do antigo sistema de formulação a base de proteína bruta, referiam-se ao cenário de que ingredientes diferentes poderiam gerar diferentes respostas em termos de performance para os mesmos valores de proteína bruta formulados! Isso demonstra claramente que, valores de proteína bruta dos alimentos e a digestibilidade dos aminoácidos totais entre os ingredientes não eram uniformes! |
Desta forma, não se importava qual ingrediente seria utilizado na nutrição, pois cada produto contemplaria um volume de aminoácidos totais específicos e, em especial, com um coeficiente de digestibilidade igualmente específico para este nutriente.
Isso ocorreu, pois, a característica de linearidade presente na estratégia de formulação à base de proteína bruta, foi substituída por uma estratégia de composição e requerimentos específicos inerente à digestibilidade da unidade fundamental da proteína, o que é um conceito mais lógico!
Tomado suas devidas proporções, estamos atualmente em um estágio similar no desenvolvimento quanto ao uso da fibra nas dietas de monogástricos de que estávamos no final da década de 80, comparando-se ao conceito de proteína ideal.
Estes conceitos tradicionais estão sendo substituídos por uma estratégia de composição denominado de fibra dietética, além da determinação de seus requerimentos específicos para otimizar a fermentabilidade das unidades fundamentais dos açúcares que a compõem com uso de aditivos nutricionais adaptados para este cenário (gerando a possibilidade de um aproveitamento de conteúdo energético e desenvolvendo de uma comunidade bacteriana mais saudável, que até então não seria possível). |
Este tema, igualmente, é um conceito mais lógico!
COMPOSIÇÃO DA FIBRA DIETÉTICA DOS INGREDIENTES
De acordo com Tejeda & Kim (2021), faz parte da fibra dietética os açúcares descritos na Figura 01, contemplando em suas mais diversas frações quanto às características de solubilidade e insolubilidade. Nesta mesma Figura 01, segue uma visão da distribuição destes açúcares em um alimento tipicamente Latino-Americano, contendo 70% de milho grão + 20% de farelo de soja e outros 10% de ingredientes que não agregam fibra.
Compreender estas frações se torna algo fundamental para a discussão deste ponto em diante, pois a fermentação correta da fibra passa por este entendimento e pela escolha correta de ferramentas para o incremento de sua fermentabilidade. |
- estimbióticos,
- xilanase,
- mananase,
- glucanase,
- α-galactosidase, etc…
COMO INCREMENTAR A FERMENTAÇÃO DA FIBRA DIETÉTICA?
Como observarmos na Figura 01, um alimento a base de milho e farelo de soja pode contemplar mais do que 90kg/ton de fibra dietética em sua composição. Então, como melhoramos seu aproveitamento em termos fermentativos para monogástricos?
Para otimizar sua utilização, alguns autores sugerem a transformação destas cadeias de polissacarídeos não amiláceos (PNA) em cadeias menores de oligossacarídeos pelo uso de aditivos nutricionais especificamente ajustada para o maior conteúdo de substrato presente. Entende-se por cadeias de oligossacarídeos aquelas frações compostas por três a 15 cadeias de açucares de fibra dietética (Perrin et al., 2002). |
Em outro estudo, Kim et al. (2022) avaliaram a degradação in vitro de resíduos de PNA na digesta de frangos de corte proveniente de animais alimentados com dietas a base de trigo-soja ou milho-soja com uso de distintos aditivos nutricionais. De acordo com os autores, diferentes enzimas, ou mesmo enzimas que pertencem à mesma classe nutricional, porém provenientes de famílias distintas, podem gerar capacidades frações de oligossacarídeos de fibra de forma igualmente distintas.
De acordo com os autores, ao utilizar a digesta da moela (onde o pH é baixo mas o tempo de ação é curto) como substrato, a xilanase GH8 reduziu (P<0,005) ambos níveis de PNA insolúvel e solúvel em relação ao controle, independentemente do tipo de dieta.
Quanto a análise da degradação de PNA na digesta jejunal de aves alimentadas com a dieta trigo-soja (onde o pH é alto mas o tempo de ação é mais longo) revelou que as três xilanases e a arabinofuranosidase reduziram (P<0,001) o nível de PNA insolúvel em comparação com o controle, mas o nível de PNA solúvel, não teve nenhuma alteração pelas enzimas utilizadas.
Todas as enzimas, exceto o coquetel de celulase e pectato liase, reduziram (P=0,005) o nível de PNA insolúvel na digesta jejunal coletada de aves alimentadas com dieta de milho-soja.
Como conclusão deste experimento, devemos nos concentrar que diferentes tipos de fibra irão necessitar de diferentes classes de aditivos nutricionais para acelerar a produção de oligossacarídeos, o que é fundamental para incrementarmos a fermentação da fibra e produção de ácidos graxos de cadeia curta – o que em última instância pode ser utilizado como fonte de energia pelo animal.
De igual maneira, temos atualmente, condição de estabelecer com grande assertividade sugestões ideais para uso de aditivos nutricionais objetivando a máxima fermentação de fibra dietética.
As bactérias presentes neste phylum possuem grande interesse em medicina veterinária. Na escala taxonômica atual, o phylum Firmicutes contém três classes:
- Bacilli,
- Clostridia e
- Erysipelotrichia.
De forma geral, maior fermentação de fibra no intestino dos animais, resultará em uma maior proliferação de bactérias produtoras de ácidos graxos de cadeia curta, tais como bactérias do gênero Bifidobacterium, Lactobacillus e Bacillus (Vos et al., 2009).
Para comprovar esta hipótese, Cho et al. (2020) avaliação a suplementação do aditivo estimbiótico (adaptado para maximizar o aproveitamento da fibra dietética) quanto ao desempenho, resposta inflamatória e estimulação do microbioma fermentador de fibras em leitões desmamados e alojados em um ambiente sanitário precário (PS) e alimentados com uma dieta livre de antibióticos e com baixo teor de óxido de zinco.
Como conclusão desta revisão, hoje temos condições de quantificar os açúcares de fibra, trabalhando em suas unidades fundamentais e alterando os conceitos tradicionais de fibra para algo mais sofisticado.
Ao se conhecer o padrão da fibra dietética, podemos estabelecer com maior assertividade o tipo de aditivo nutricional capaz de otimizar a fermentação de fibra presente no alimento, por gerar um volume cada vez maior de oligossacarídeos. |
E por último, este ciclo de determinações nos alimentos, abre espaço para uma parametrização de uma resposta ideal frente à composição dos açucares de fibra, independente do tipo de ingredientes utilizados nas dietas; algo similar ao vivido no final da década de 80 com a nutrição do grupo nutricional de proteínas (Figura 02).
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