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A avicultura brasileira ainda trabalha para refazer-se dos estragos causados pela Operação Carne Fraca. Em que pese a pequena redução registrada nos embarques nacionais após o ocorrido, dez mercados ainda mantêm o embargo à carne brasileira. “Ainda temos muito a fazer”, avalia Francisco Turra, presidente-executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). “Diante de todo estrago feito pela Operação Carne Fraca, poderíamos dizer que estamos numa situação relativamente confortável. Mas ainda temos que consolidar melhor para resgatar a imagem do Brasil como um todo, de todos os produtos, em todos os mercados”, completa.
Responsável pela palestra de abertura da Conferência FACTA, que está sendo realizada em Campinas (SP), Francisco Turra gentilmente nos concedeu uma entrevista. Nela, o presidente-executivo da ABPA, entre outros assuntos, fala sobre os impactos da Operação Carne Fraca sobre o setor, analisa o momento atual, traça perspectivas para a avicultura brasileira nos próximos meses e adianta como estão os preparativos para o SIAVS. Confira.
AN – Os números de exportação, tanto da avicultura quanto da suinocultura brasileira, sugerem que, embora tenha trazido impactos importantes, a Operação Carne Fraca já está superada. O senhor concorda?
Francisco Turra – Não, ainda temos muito trabalho a fazer. É claro que melhorou muito. Diante de todo estrago feito poderíamos dizer que estamos numa situação relativamente confortável. Mas ainda temos que consolidar melhor para resgatar a imagem como um todo, de todos os produtos, em todos os mercados. Temos cerca de dez mercados que ainda mantêm o embargo. Estão em permanente contato conosco, com o MAPA [Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento], para buscar informações. E há um trabalho forte sendo feito pelo MAPA, pela ABPA e também pelas embaixadas.
AN – Na opinião do senhor, quais as principais lições que a Operação Carne Fraca trouxe ao setor?
Francisco Turra – Em primeiro lugar saber que, um setor como é o caso do nosso, que conseguiu esse patamar de globalização, está sujeito ao crivo de um público consumidor muito crítico e de todas as suas avaliações e fiscalizações. E que, apesar de seguirmos rigorosas regras internacionais, de sermos permanentemente analisados pelos importadores dos nossos produtos, por meio de visitas técnicas, missões que chegam, apesar de tudo isso, pudemos perceber que alguma coisa em um nível menor existia. E isso contaminou o todo, houve uma generalização. Precisamos ter homogeneidade, comportamento, responsabilidade, processos de muita biosseguridade, a biosseguridade precisa ser extrema. Porque não adianta, nossa atuação é global, estamos presentes nos mercados mais exigentes do mundo. O ocorrido nos mostrou que precisamos e podemos melhorar sempre.
AN – O senhor acredita que o fato de Joesley Baptista, presidente da JBS, maior produtora de proteína animal do mundo, estar no epicentro do maior escândalo político brasileiro pode trazer algum reflexo para a credibilidade da carne brasileira?
Francisco Turra – Acredito que não. Diferente da Carne Fraca, esta operação está focada no dirigente de uma empresa. A JBS é uma das 145 empresas nossas associadas. É um problema localizado de apenas uma empresa e que não coloca dúvida sobre o produto, coloca dúvida sobre o comportamento pessoal político do dirigente. Enfim, todos os problemas se relacionam ao comportamento humano, à esfera criminal, não à esfera sanitária.
AN – Embora a crise econômica continue prejudicando o poder de compra do brasileiro, o preço dos grãos parece ter dado uma arrefecida, aliviando a situação dos produtores de aves. Como o senhor vê as perspectivas do setor para os próximos meses?
Francisco Turra – A perspectiva é de estabilidade para os próximos meses. O próprio mercado de grãos nos ajuda a fazer essa previsão. Os preços dos grãos devem seguir em bons patamares. Primeiro, porque há abundância do produto, disponibilidade no Brasil e no mundo, não vai haver surpresa em relação a preços, de elevações ou de escassez, que foi o grande problema no ano passado. A combinação de quebra da safra e o alto volume de exportações em 2016 elevou a cotação do milho a patamares altíssimos, castigando o setor. Havia gente que tinha estoque para um dia, uma semana. Esse tipo de situação não vai acontecer.
Com relação aos preços do produto, tudo indicava que haveria uma retomada mais forte. A economia brasileira ia apresentando recuperação, números mais significativos, redução de juros, todos os indicadores positivos. E isso já nos dava um alento e aumentava nossa confiança. Eu cheguei a pensar, “olha, vamos retomar a produção e o consumo, o que é muito bom”. Aí aconteceu tudo o que aconteceu. Ainda assim, o patamar desse ano é bem melhor do que o de 2016. Sob todos os aspectos. Mesmo o consumo interno. O volume de exportação no mês de abril, tanto aves quanto suínos, foi afetado pela Operação Carne Fraca. Mas o faturamento não, o que nos agradou tremendamente.
AN – O que o senhor acha que falta para a avicultura brasileira avançar mais?
Francisco Turra – A avicultura brasileira é um dos setores mais profissionalizados que conheço. E também dos que está mais ligado à palavra inovação. É óbvio que temos muito a fazer ainda, mas diria que estamos avançando ano a ano. O fato de estarmos presentes nos mercados mais exigentes do mundo nos obriga a evoluir continuamente.
AN – Para finalizar, como estão os preparativos para o SIAVS?
Francisco Turra – Seguem a todo vapor. Nunca vi coisa mais bem preparada do que esse SIAVS. A programação está praticamente definida. Politicamente, o evento está fortíssimo, são várias autoridades políticas nacionais e internacionais confirmadas. O presidente da República, ministros, governadores de seis Estados, secretários de agricultura de todo o Brasil estarão no evento. O ministro Blairo Maggi convidou 22 ministros das Américas para uma conferência sobre sanidade. E para a abertura convidamos o diretor-geral da OMC para falar sobre acordos comerciais. Fora a gama de palestrantes e palestras que é sensacional.
Da Redação