A incorporação da BRF pela Marfrig foi aprovada pelos acionistas na última terça-feira (5/8), segundo comunicado divulgado a acionistas, porém a operação ainda não está concluída.
O CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) segue analisando o caso, que ganhou novos contornos com a entrada do fundo soberano saudita Salic no centro das discussões. A autarquia está avaliando se a presença desse fundo nas duas companhias pode gerar risco concorrencial para o setor de proteínas — o que inclui implicações diretas para a cadeia de insumos e nutrição animal.
O fundo Salic (Saudi Agricultural and Livestock Investment Company) pertence ao governo da Arábia Saudita e possui 11,3% das ações da BRF e cerca de 24,5% da Minerva, além de manter relações estratégicas com a Marfrig.
A Minerva, inclusive, recorreu ao CADE pedindo a reavaliação da fusão, alegando que a presença do mesmo investidor nas três empresas poderia favorecer a troca de informações sensíveis e reduzir a concorrência em mercados relevantes — especialmente no contexto das exportações e do suprimento global de proteína animal.
Com base nesse recurso, o CADE decidiu converter o processo de aprovação da fusão de rito sumário para rito ordinário, o que indica a necessidade de análise aprofundada. A autarquia também oficializou pedidos de esclarecimento à Marfrig, BRF e à própria Salic, solicitando informações detalhadas sobre a governança, relações entre os conselhos e a eventual influência cruzada nas decisões estratégicas das companhias.
Embora a aprovação dos acionistas represente um passo importante, a efetivação da fusão ainda depende da autorização final do CADE. A análise do Conselho envolve não apenas os aspectos societários e concorrenciais, mas também questões sobre a origem e a governança dos recursos envolvidos na operação.
O fato de o fundo saudita Salic ser vinculado ao governo de outro país tem gerado atenção adicional por parte das autoridades, especialmente diante do crescente papel de investimentos públicos estrangeiros em empresas brasileiras do setor de alimentos.
Nos próximos meses, o desfecho dependerá da análise técnica do CADE e das respostas das companhias envolvidas. A BRF, que já conta com forte presença nos mercados halal e internacional, pode se tornar ainda mais robusta ao integrar a estrutura da Marfrig, que tem histórico de atuação estratégica no mercado de bovinos e acesso a diferentes linhas de financiamento.