Diversos fatores afetam a eficiência na produção de ovos, pintinhos, frangos e carne de forma separada, mas poucos podem impactar todos os setores da cadeia produtiva como as doenças infecciosas, entre elas, a Bronquite infecciosa. Saiba mais!
A indústria avícola brasileira caracteriza-se pela alta competitividade na produção e exportação de carne de frango de alta qualidade. Entre as principais vantagens competitivas da indústria brasileira destacam-se o custo de produção competitivo e a qualidade sanitária dos planteis. Ter o sistema de produção altamente tecnificado e ser produtor dos principais insumos alimentícios, permitem que os custos de produção sejam competitivos no mercado internacional.
À diferença de outros países produtores de carne de frango, o Brasil é livre de doenças que limitam a exportação de carnes (principalmente Influenza aviária e Doença de Newcastle).
Na atualidade, o cenário mundial é muito favorável à indústria brasileira com elevada demanda para exportar carne de frango.
Neste contexto, é fundamental ter e dispor de carne para ofertar, em outras palavras, ter e dispor de frangos. Diversos fatores afetam a eficiência na produção de ovos, pintinhos, frangos e carne de forma separada. Mas poucos podem impactar todos os setores da cadeia produtiva como as doenças infecciosa fazem.
Entre elas, destaca-se a Bronquite infecciosa, pela sua capacidade de afetar vários setores da indústria avícola de forma simultânea.
Infecções do vírus BR da Bronquite em granjas de matrizes causam prejuízos na granja, mas seus impactos atingem o incubatório e também a granja de frango de corte.
Da mesma forma, a infecção por este vírus em lotes de frango de corte afetará não só os indicadores de produtividade da granja, como também os do frigorífico, gerando prejuízos milionários para as empresas. Os impactos desta infecção viral em vários parâmetros, ou indicadores das granjas de matrizes e frangos de corte, incubatórios e frigoríficos, afetam a disponibilidade de carne para a comercialização local e internacional.
O presente artigo apresenta de forma resumida as principais perdas causadas pelo vírus BR da Bronquite infecciosa em granjas de matrizes pesadas e frangos de corte. A publicação também mostra como o efeito da infecção viral pode diminuir a disponibilidade do produto final (carcaça) para a comercialização.
Impacto da Bronquite no setor das matrizes pesadas
Mesmo que não tenha sido demonstrada a transmissão vertical do vírus da Bronquite infecciosa, os impactos da infecção nos lotes de matrizes atingem outros setores como o incubatório e a granja do frango de corte (Figura 1). Quando um lote de matrizes é infectado, a ave é afetada (com incremento da mortalidade, medicação e taxa de infertilidade) mas também o ovo embrionado, e o pintinho proveniente do lote infectado sofrem com a ação do vírus.
Existe uma menor eclosão de ovos provenientes de matrizes infectadas devido à qualidade externa e interna inferior do ovo.
Esta menor taxa de eclosão, significa menor número de pintinhos vendáveis disponíveis para serem enviados às granjas de frango de corte.
Acompanhamentos realizados em empresas do país têm demonstrado que lotes de pintinhos provenientes de lotes de matrizes infectados pelo vírus BR da Bronquite infecciosa têm pior desempenho na primeira semana de vida: O pintinho chega enfraquecido, refuga e aumenta a mortalidade inicial, sendo necessário a medicação para controlar infecções bacterianas decorrentes
O pior desempenho de pintinhos originados de lotes de matrizes infectadas tem as seguintes causas:
- Pintos originados de ovos de qualidade inferior nasceram debilitados, na granja terão vitalidade inferior, muitas vezes refugando devido ao menor consumo de ração e água, e sendo mais susceptíveis às infecções bacterianas.
- Pintos originados de ovos com porosidade de casca anormal podem infectar-se mais facilmente com bactérias durante o processo de eclosão. Nestes casos, os quadros bacterianos (colibacilose) se observam mais no final da primeira semana de vida.
Impacto da Bronquite no setor de frangos de corte
Quando um lote é infectado pelo vírus da Bronquite infecciosa, os efeitos podem ser percebidos (Figura 2):
- Na granja;
- Durante o transporte das aves ao abatedouro;
- No frigorífico.
O quadro clínico e a severidade resultante da infecção pelo vírus BR em lotes de frango de corte, dependem de vários fatores intrínsecos do agente viral, da ave e do ambiente.
Granja
Mas, em todos os casos, mesmo com ou sem a presença evidente de doença respiratória ou renal, a viremia levará a:
- Menor consumo de ração e água (piora do GPD e conversão alimentar);
- Aumento da mortalidade nas últimas semanas de vida;
- Necessidade de antibioticoterapias para controlar as infecções bacterianas secundárias.
Transporte
Uma porcentagem de frangos afetados clinicamente irá morrer no caminhão durante o transporte da granja até o abatedouro, agravadas pelas condições do transporte
Abatedouro
No abatedouro, os prejuízos também são milionários, pois além das condenações relacionados à presença de lesões nas carcaças decorrentes de doença da Bronquite infecciosa na granja (aerossaculite, colibacilose, aves caquéticas), existem outras condenações indiretas como a contaminação fecal.
Lotes com processo infeccioso na granja terão maiores condenações por contaminação fecal por dois motivos:
- Lotes de aves com tamanho desuniforme decorrente da infecção no campo terão carcaças de tamanho desuniforme, em consequência, haverá maiores cortes não intencionais de intestinos devido aos equipamentos automáticos de evisceração no frigorífico não conseguirem trabalhar com tamanho de carcaças desuniformes.
- Cortes e rupturas dos intestinos são, em média, três vezes mais intensos e frequentes em aves com aerossaculite (Russel, 2003). Aves doentes e desidratadas têm intestinos mais friáveis, os quais se rompem mais facilmente durante o manuseio automático ou manual.
Quando as condenações de origem sanitária ou não sanitária são elevadas, há a necessidade de diminuir a velocidade da linha de abate, ou inclusive, parar o processo para fazer os cortes necessários para eliminar as partes afetadas (condenações parciais)
Quanto maior o nível de tecnificação do frigorífico, maior é o custo da hora de abate.
Assim, quanto maiores são as condenações sanitárias por infecções originadas na granja, maiores serão os prejuízos econômicos devido à diminuição da eficácia do processamento no frigorífico.
Parâmetros afetados pela Bronquite infecciosa que levam à menor disponibilidade de carne de frango para comercialização
Como detalhado acima, os prejuízos da Bronquite infecciosa atingem vários setores da cadeia produtiva, e não apenas as granjas de matrizes e frango de corte. Baseados em acompanhamentos de lotes de matrizes e frangos de corte, adequadamente protegidos contra o vírus BR da Bronquite infecciosa por meio do uso de vacinas vivas (frangos de corte), e vivas e inativadas (matrizes de corte) com a cepa vacinal BR, foi possível quantificar as perdas econômicas causadas por este vírus em cada setor da cadeia produtiva. Na sequência são apresentados os impactos do vírus de campo BR sobre os parâmetros que afetam diretamente a disponibilidade de carne para venda
Matrizes
No caso de infecções em granjas de matrizes de frango de corte, são três os parâmetros que, quando afetados, resultarão em menor quantidade de carne de frango para comercialização (Tabela 1):
- A infecção pelo vírus BR causa, em média, 3,2% de mortalidade de fêmeas adicional. Para lotes de 40.000 aves, o impacto da infecção significará 184.915 pintinhos a menos disponíveis para venda. Ou seja, mais de 435 toneladas de carne deixarão de ser disponibilizadas.
- Da mesma forma, o vírus BR causa uma diminuição da taxa de eclosão, em média, de 3,3%, o que acarretará ter 215.708 pintinhos a menos para um lote de 40.000 matrizes. Como consequência deste efeito, a empresa deixará de disponibilizar mais de 507 toneladas de carne prontas para comercialização.
- Lotes de pintinhos originados de matrizes infectadas pelo vírus BR terão, em média, 4,1% adicional de mortalidade inicial. Considerando que um lote de matrizes pode se infectar com o vírus BR, até três vezes durante o ciclo produtivo, e a duração do efeito é, em média, de quatro semanas em cada surto, o impacto será de 65.888 pintinhos a menos por lote de matrizes de 40.000 aves. Desta forma, mais de 157 toneladas de carne não serão comercializadas.
- O impacto do vírus BR nos três itens resultará em ter 1.099 toneladas a menos de carne de frango prontas para serem comercializadas (Tabela 1).
Frangos de corte:
Os efeitos da infecção do vírus BR em lotes de frangos de corte, em parâmetros que afetam a disponibilidade de carne de frango para a comercialização, podem ser mesurados na granja e no abatedouro (Figura 3).
- Na granja, o vírus BR causa, em média, uma diminuição do GPD de 3,16 gramas. Utilizando os estândares atuais, a infecção levará a ter 4,4 toneladas a menos de carne pronta para comercialização, para cada lote de 40.000 frangos alojados.
- Uma mortalidade após os 35 dias aumentada em 1,32% pela infecção pelo vírus BR, acarretará em ter 1,2 toneladas a menos de carne de frango pronta para comercialização para cada lote de 40.000 frangos alojados.
- Da mesma forma, uma mortalidade durante o transporte ao frigorífico (média de 0,18%) significará ter 0,176 toneladas de carcaça de frango a menos para comercializar para cada lote de 40.000 aves alojadas
- No abatedouro, lotes infectados pelo vírus BR têm, em média, 0,65% mais condenação pelo critério definido como “colibacilose”, o que leva à eliminação total da carcaça e miúdos. Para lotes de 40.000 frangos abatidos, esta condenação leva a eliminar integralmente 260 carcaças, ou seja, 0,637 toneladas de carne não são aproveitadas para a comercialização
- O vírus BR aumenta também as condenações classificadas como “aerossaculite total”, o que leva à eliminação total da carcaça, sem aproveitamento de miúdos. Acompanhamentos de campo, mostram que lotes positivos ao vírus BR têm, em média, 0,09% mais condenação de aerossaculite total, que lotes negativos. Para lotes de 40.000 aves abatidas, esta perda adicional representa 0,088 toneladas de carne a menos para comercialização.
- Lotes positivos ao vírus BR têm, em média, 0,62% mais de condenações de “aerossaculite parcial” comparados a lotes negativos. Nestes casos, a carcaça é aproveitada parcialmente, representando uma perda de 0,182 toneladas de carne para serem comercializadas, para cada lote de 40.000 frangos abatidos.
- As condenações parciais de carcaças devido à contaminação fecal aumentam, em média, 1,2% quando os lotes apresentam aerossaculite, no caso do Brasil, principalmente causados pelo vírus BR. Este nível de condenação representa o não aproveitamento de 0,353 toneladas de carne por cada lote de 40.000 aves abatidas.
Matrizes
Em resumo, a infecção do vírus BR da Bronquite infecciosa em lotes de matrizes pesadas causará várias perdas, que atingirão o desempenho dos pintinhos até a primeira semana. Em um lote infectado de 40.000 aves alojadas, os efeitos sobre a mortalidade de fêmeas, eclosão e pintinhos de primeira qualidade evitaram a produção e disponibilização de aproximadamente 1.099,75 toneladas de carne.
Frangos de corte
No caso dos frangos de corte, a infecção pelo vírus BR da Bronquite infecciosa afeta vários parâmetros, levando a perdas milionárias. Quando um lote de 40.000 frangos é infectado, o impacto do vírus sobre o GPD, mortalidade final e de transporte; condenações por aerossaculite, colibacilose e contaminação fecal totalizam 7,183 toneladas de carne de frango que não serão aproveitadas.
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