Impacto da qualidade de ovos férteis e pintos de um dia no percentual de perdas e condenações nas plantas de abate de frangos no Brasil – PARTE I
Indiscutível e incontestável a evolução da indústria avícola mundial nos últimos 30 anos. Chegamos na avicultura 4.0, onde a contribuição da tecnologia é imprescindível para continuarmos avançando.
O crescimento populacional aumentará a demanda por alimentos, principalmente por proteína animal. Para atender a essa demanda, a produção animal deve continuar crescendo em escala, mas principalmente em produtividade, sem esquecer da responsabilidade com a sustentabilidade.
A evolução nas áreas de genética, nutrição, ambiência, e no manejo na indústria avícola, proporcionaram drásticas reduções na idade de abate das aves. As linhagens atuais apresentam excepcional ganho de peso diário (GPD) e conversão alimentar (CA).
A seleção genética dos últimos 30 anos, especificamente, proporcionou incríveis ganhos de produtividade das aves à campo e seguirá evoluindo. Isto possibilitou a redução da idade de abate, em virtude da evolução no ganho de peso diário (GPD), minimizando a necessidade de espaço para alojamento (Produção de mais Kg de carne por metro quadrado, em um menor período de tempo) e, consequentemente, economia em construções de galpões.
A redução na conversão alimentar (CA) proporcionou economia de 1,5 Kg de ração por ave com peso de 2,5Kg, desde 1990, reduzindo significativamente o consumo de matéria-prima, principalmente milho e soja. Estes ganhos estão em linha com a tendência mundial da pegada ambiental.
Assim como os ganhos em GPD e CA, a evolução genética garantiu melhorias imensuráveis no rendimento de carcaça nas plantas de abate, especialmente na carne de peito. A melhoria no rendimento de carcaça, impactou positivamente e garantiu fantásticas reduções dos custos de abate.
Evolução de rendimento de carne 48 dias de idade – 03 a0,5% aa
Concomitante à evolução do campo, os setores de abate e processamento de aves, seguiram o mesmo caminho e foram praticamente obrigados a se adaptar à evolução das novas carcaças.
Passamos de uma indústria manual e empírica para uma indústria moderna, automatizada e tecnológica, com padronização dos processos (POP’S), que possibilitaram aumentar a velocidade de abate, proporcionando às fabricas uma maior eficiência, produtividade, redução de custos dos processos, economias significativas em litros de água consumidos por ave abatida, energia elétrica e mão de obra.
Estes são itens fundamentais para a Sustentabilidade!
A implantação na indústria de programas de HACCP, ou APPC, Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle, sistemas de gestão de segurança de alimentos que são mundialmente reconhecidos, onde a segurança dos alimentos é mapeada em projeto de análise e controle dos perigos biológicos, químicos e físicos na produção, aquisição, manuseio, fabricação, distribuição, preparação e consumo de matéria-prima de produtos alimentícios, garantem a segurança dos alimentos do campo à mesa (Fork to the Table), de maneira eficaz e eficiente.
Os programas de Segurança do Trabalho e Práticas de Segurança e Saúde do Trabalho (SST), conjunto de medidas que são adotados a fim de minimizar os acidentes em decorrência do trabalho, doenças ocupacionais, assumindo assim a proteção ao indivíduo e ao coletivo em seu ambiente de trabalho, também foram priorizados pela indústria avícola.
Frente a essa fantástica evolução e ganhos de produtividade, nos deparamos com um grande entrave que impacta negativamente a Indústria Avícola Brasileira e diminui significativamente sua competitividade, comparado aos grandes players mundiais, que são as perdas durante o abate e processamento das aves.
De acordo com a classificação do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA) e suas atualizações, intitulado Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (RIISPOA), as condenas nos abatedouros podem ser classificadas em Parcial (descarte de parte da carcaça ou vísceras) ou Total (descarte da carcaça inteira).
Dentre as principais causas de condenas no Brasil estão:
- Alterações mais frequentes encontrada nas aves: Aerossaculites, hemorragias musculares, Artrites, Aspecto repugnante, Canibalismo, Caquexia, Celulite, Contaminações gastrointestinal e biliar, Lesão de Pele, Lesão Inflamatória, Lesão traumática, Neoplasia, Septicemia, Síndrome ascítica, Miopatias e Falhas tecnológicas, que são alterações nas carcaças ou partes e vísceras, oriundas de falhas no processo de abate.
- De acordo com dados do SIGSIF e PGA do MAPA, 2023, as principais causas de condenações parciais no Brasil são as contaminações, variando entre 4% e 8%, seguidos por problemas de pele e artrites.
- Contaminações: Como principal causa das condenas parciais no Brasil, as contaminações podem ocorrer externamente ou internamente nas carcaças, as quais são retiradas da linha de abate e enviadas à linha do DIF, para serem cortadas e retiradas as partes contaminadas, diferentemente de outros países, onde as carcaças contaminadas são lavadas. Em lotes com altos porcentuais de carcaças contaminadas, além do impacto das perdas, em muitos momentos, faz-se necessário a redução na velocidade de abate, perdendo-se produtividade, além da sobra de aves para serem posteriormente abatidas, que impactará em grandes prejuízos para a indústria.
- Podemos considerar que jejum pré-abate inadequado, ineficiência dos equipamentos na planta e baixa uniformidade dos lotes, são as principais causas no aumento das contaminações gastrointestinais. Lotes desuniformes, além da perda de rendimento, dificultam a regulagem e ajustes dos equipamentos automáticos de evisceração e cortes. A origem do baixo percentual de uniformidade pode ocorrer devido a composição dos lotes de matrizes com idades superiores a 10 semanas, baixa uniformidade dos ovos, qualidade dos pintinhos, desafios sanitários, qualidade das rações, falhas no manejo (principalmente inicial), etc.
Além das condenas por contaminação fecal, biliar e alimento, temos observado aumento de condenas parciais por contaminação não gastrointestinal de gema retida na cavidade abdominal, evidenciando possíveis problemas de alta contaminação de ovos incubados ou processo de incubação. Segundo Seelent, 2022, pintinhos oriundos de ovos férteis contaminados e planta de Incubação sem os controles devidos, como temperatura dos ovos, temperatura do embrião, perda correta de umidade e janela de nascimento ideal, podem gerar pintinhos de baixa qualidade, o que impactará diretamente nos resultados zootécnicos dos frangos.
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