Mundialmente, a produção de ovos está em grande evidência devido às questões oriundas dos consumidores, das Organizações Não Governamentais, dos próprios produtores e da sociedade em geral.
Os grandes questionamentos referem-se aos alojamentos dos animais, nas diferentes tipologias existentes em relação ao espaço de criação, e ao comprometimento dos comportamentos naturais da espécie.
Além de todas as questões, existem as questões mercadológicas envolvendo toda cadeia produtiva do ovo, sendo que este processo requer uma reflexão sobre os possíveis modelos que mais se adequam à realidade de cada país, considerando suas condições edafoclimáticas, suas características territoriais, seu mercado internacional e, consequentemente, a escala de produção.
O modelo convencional de produção de ovos em gaiolas no Brasil está sendo “repensado” e as formas alternativas de produção para esse modelo estão sendo avaliadas como solução ao bem-estar animal.
Percebe-se que o tema está em discussão no Brasil, mas exigindo maiores esclarecimentos, tanto do ponto de vista do mercado, quanto do Governo.
Antes de falarmos das instalações é importante, para nortear o leitor, esclarecer sobre os sistemas de produção. Sendo assim, será considerado, de acordo com Silva et al., (2020), o que está descrito no Manual de Boas Práticas de Bem-estar de galinhas poedeiras criadas fora de gaiolas.
- SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE OVOS EM GAIOLAS
- SISTEMA DE PRODUÇÃO CONVENCIONAL:
Sistema que utiliza gaiolas em bateria para alojamento das aves, cujo espaço mínimo indicado por ave é igual ou superior a 350 cm2.
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- SISTEMA DE PRODUÇÃO EM GAIOLAS MOBILIADAS:
Sistemas que utiliza gaiolas mobiliadas com poleiro, ninho, tapete e lixa para desgaste de unhas cujo espaço livre individual por ave não seja inferior a 750 cm2.
- SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE OVOS LIVRE DE GAIOLA
- SISTEMA DE PRODUÇÃO LIVRE DE GAIOLA:
Sistema que utiliza aviários sem gaiolas para alojamento das aves, onde elas dispõem minimamente de piso de cama, poleiros e ninhos. Estes podem ser em nível único ou níveis múltiplos.
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- SISTEMA DE PRODUÇÃO CAIPIRA OU COLONIAL:
Aves mantidas em galpões com acesso a área externa (piquete) para pastejo, respeitando as densidades de alojamento de 7 (sete) aves por metro quadrado no ambiente do aviário e 2 (duas) aves por metro quadrado na área externa.
- INSTALAÇÕES PARA A PRODUÇÃO DE OVOS LIVRES DE GAIOLAS
Quando se fala de instalações para galinhas poedeiras fora de gaiolas, praticamente as características construtivas estão associadas à seleção de materiais e estruturas, que visem uma boa resistência estrutural e uma eficiência térmica, no qual a atenção deverá estar focada no isolamento e ventilação.
De acordo com o Manual de Boas Práticas para o Bem-estar de Galinhas Poedeiras, publicado recentemente, as características inerentes às instalações são:
- ORIENTAÇÃO: ter o seu posicionamento longitudinal no sentindo Leste-Oeste, evitando assim a incidência direta de raios solares no interior da instalação;
- ALTURA: o pé-direito deve ter pelo menos 3 metros de altura para permitir boa ventilação e dispersão de gases (ex: amônia);
- TELHADO: utilizar materiais de cobertura que proporcione melhor eficiência térmica e uso de forro no interior da instalação (considerando altura de pé-direito apropriado);
- PISO: o piso deve ser concretado ou terra batida com boa drenagem, porém, a cama deve apresentar espessura mínima entre 10 a 15 cm, com área suficiente, de modo a permitir que as aves expressem o seu comportamento normal.
- FECHAMENTO LATERAL: deve-se utilizar de cortinas nas laterais do aviário visando o controle da ventilação, da temperatura e da incidência de raios solares diretamente sobre as galinhas poedeiras.
- AMBIENTE EXTERNO: no entorno das instalações é importante utilizar cobertura vegetal, mantidas com corte baixo (priorizando espécies perenes), de forma a evitar que abriguem parasitas e/ou predadores, isto ajudará também nas alterações do microclima do ambiente interno.
- AMBIÊNCIA: deve-se ter conhecimento das condições climáticas da região em que a granja está localizada, considerando-se os períodos mais frios e quentes do ano, bem como os de maior e menor umidade; mantendo o ambiente de criação e alojamento das aves o mais confortável possível sob todas as condições;
Os sistemas de ventilação devem ser instalados e posicionados no sentido transversal ou longitudinal do galpão.
O manejo de acionamento do sistema de controle do ambiente deverá seguir as condições ideais de temperatura e umidade descritos na Tabela 1 de acordo com as diferentes fases de desenvolvimento das galinhas poedeiras.
o Dessa forma, os sistemas de ventilação e de resfriamento devem ser mantidos em bom funcionamento quando a temperatura e umidade do ambiente estiverem fora das faixas recomendadas.
o É importante a utilização de sistemas de nebulização alta pressão, com bicos distribuídos em linhas transversais ou longitudinais. É imprescindível a manutenção rotineira dos bicos para o bom funcionamento do sistema evitando gotejamento e cama molhada.
O programa de luz deverá obedecer ao fornecimento mínimo de 6 horas contínuas de escuro e 8 horas contínuas de luz, recomendando que a transição (luz artificial) seja realizada gradativamente.
SISTEMA DE PRODUÇÃO LIVRES DE GAIOLAS (CAGE-FREE)
Atualmente ao se falar das instalações envolvemos os aspectos relacionados às recomendações para:
- a densidade de aves/m2,
- distribuição de ninhos, poleiros, comedouros e bebedouros,
- uso de enriquecimento ambiental e
- programa de luz eficiente para atender às necessidades das aves.
De acordo com as recomendações recentes do Manual de Boas Práticas (Silva et al, 2020), a tabela 2 apresenta as densidades ideais para o sistema de criação fora de gaiolas, permitindo assim que as aves fiquem livres para caminhar e expressar comportamentos naturais.
POLEIROS: Os poleiros são obrigatórios neste sistema e devem ter um espaço mínimo de 7,5 cm de comprimento por ave para as fases de cria (a partir de 7-10 dias) e recria e de no mínimo 15 cm por ave para a fase de produção.
- INCLINAÇÃO: os poleiros devem ser posicionados com inclinação igual ou menor que 45 graus em relação à cama, que facilite o deslocamento das aves entre as barras/linhas e evite que excretas das aves empoleiradas caiam sobre as aves dos níveis inferiores do poleiro;
- LARGURA E ALTURA: poleiros muito finos, com saliências pontiagudas, ou de cantos vivos, podem machucar os pés das aves e elas evitarão se empoleirar. Assim, deve ser proporcionado pelo menos 3 cm, mas não maior que 7,5 cm de largura na parte superior, considerando um mínimo 40 cm de altura do solo e 30,5 cm na distância entre barras/linhas de poleiros para a fase postura. No caso de pintainhas, sugere-se a altura máxima entre 7,5 a 10 cm de altura, da primeira barra do poleiro em relação ao solo, e 10 cm entre as linhas/barras.
- Do ponto de vista de projeto e do bem-estar animal é importante que a galinha tenha uma área mínima de postura no ninho de 83,2cm2 para 100 aves.
- A recomendação é que, em ninhos individuais, seja adotada a relação de 1ninho para cada 4 aves, porém, se for ninho coletivo sugere-se 1m2/ 100aves.
COMEDOUROS E BEBEDOUROS: apesar de serem equipamentos que complementam as instalações, não há como pensar em projetos de instalações sem considerarmos as recomendações técnicas de uso e distribuição dos mesmos para o plantel de galinhas poedeiras.
Nesse sentido, as recomendações para as diferentes fases de criação das galinhas poedeiras estão representadas na tabela 3.
A grande diferença neste sistema caipira ou colonial é o acesso á área externa. Todas as características e exigências do sistema fora de gaiola (cage-free) citado anteriormente deverão ser adotadas.
Todavia, além das aves ficarem soltas no galpão elas têm a possibilidade do acesso diário a uma área externa, ao ar livre, que deve ser de pelo menos 6 horas durante o dia, sempre que o clima permitir.
Neste caso, as estruturas que envolvem instalações devem abranger:
- O galpão-aviário (com todos os detalhes de construção, ambiência, distribuição de comedouros, bebedouros, poleiros, ninhos) e
- A área externa destinado ao pastejo das aves.
Deve-se considerar que os galpões precisam ser providos de aberturas laterais para o acesso a área externa. Recomenda-se que tenham pelo menos 46 cm de altura e 53 cm de largura, distribuídas nas laterais onde estão localizados os piquetes.
BEBEDOUROS E COMEDOUROS: bebedouros tipo Nipple devem ser utilizados na relação de 1/12 aves; os comedouros devem ser utilizados na relação de 5 cm/ave para os lineares e 4 cm/ave para os comedouros circulares;
NINHO: relação 1 ninho para cada 7 aves;
POLEIRO: 15cm/ave;
As densidades de animais dentro dos galpões e nos piquetes externos, apresentados no Manual de Boas Práticas de Bem-estar de Galinhas Poedeiras criadas fora de gaiola, estão na tabela 4.
Pode-se dizer que projetos de instalações direcionados a esse tipo de sistema, são os que proporcionam melhor bem-estar às aves, pois não reprimem seus instintos, como movimentar-se, ciscar, voar, abrir as asas, limpar as penas, pastejar etc.
PIQUETES: A densidade máxima nesses locais é de 0,5 m2/ave. Devem ser manejados visando a evitar a sua degradação, ou contaminação. Sugere-se, quando possível, a rotação dos mesmos.
- A área externa deve conter bastante vegetação e áreas cobertas para proteção das aves de predadores aéreos.
- A altura mínima da cerca em volta do galpão deve ser de 1m, com afastamento mínimo entre ambos de 5m. A tela deve conter malha de pelo menos 2,54 cm, protegendo o galpão do exterior.
Concluindo, na atualidade, as instalações para produção animal deverão envolver não só os aspectos construtivos, como era no passado, mas as relações de manejo. E, principalmente, a relação animal ambiente, associada ao seu bem-estar animal.
Portanto, as instalações para a galinhas poedeiras deverão associar os aspectos dos diferentes sistemas livres de gaiolas e as adaptações necessárias para o melhor bem-estar das aves.
SILVA, I.J.O.; ABREU, P.G.; MAZZUCO, H.; Manual de boas práticas para o bem-estar em galinhas poedeiras criadas livres de gaiolas. Embrapa, MAPA. 2020. 40p. (https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1127416/manual-de-boas-praticas-para-obem-estar-de-galinhas-poedeiras-criadas-livres-degaiola). Acesso: 23/03/2021