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Bem-estar animal e instalações para galinhas poedeiras

Escrito por: Helenice Mazzuco - Pesquisadora CNPSA/EMBRAPA , Iran José Oliveira da Silva - Professor e coordenador NUPEA/ESALQ/USP , Paulo Giovanni de Abreu - Pesquisador CNPSA/EMBRAPA
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bem-estar poedeiras

Mundialmente, a produção de ovos está em grande evidência devido às questões oriundas dos consumidores, das Organizações Não Governamentais, dos próprios produtores e da sociedade em geral.

Os grandes questionamentos referem-se aos alojamentos dos animais, nas diferentes tipologias existentes em relação ao espaço de criação, e ao comprometimento dos comportamentos naturais da espécie.

Além de todas as questões, existem as questões mercadológicas envolvendo toda cadeia produtiva do ovo, sendo que este processo requer uma reflexão sobre os possíveis modelos que mais se adequam à realidade de cada país, considerando suas condições edafoclimáticas, suas características territoriais, seu mercado internacional e, consequentemente, a escala de produção.

O modelo convencional de produção de ovos em gaiolas no Brasil está sendo “repensado” e as formas alternativas de produção para esse modelo estão sendo avaliadas como solução ao bem-estar animal.

Percebe-se que o tema está em discussão no Brasil, mas exigindo maiores esclarecimentos, tanto do ponto de vista do mercado, quanto do Governo.

A ausência de regulamentação e padronização do que venha ser cada tipo de sistema de produção de ovos, provoca incertezas, tanto nos investidores, como no produtor e no mercado consumidor, onde a clareza e transparência na qualidade do produto final não é passível de uma fiscalização governamental.

Antes de falarmos das instalações é importante, para nortear o leitor, esclarecer sobre os sistemas de produção. Sendo assim, será considerado, de acordo com Silva et al., (2020), o que está descrito no Manual de Boas Práticas de Bem-estar de galinhas poedeiras criadas fora de gaiolas.

 

Sistema que utiliza gaiolas em bateria para alojamento das aves, cujo espaço mínimo indicado por ave é igual ou superior a 350 cm2.

Sistemas que utiliza gaiolas mobiliadas com poleiro, ninho, tapete e lixa para desgaste de unhas cujo espaço livre individual por ave não seja inferior a 750 cm2.

Sistema que utiliza aviários sem gaiolas para alojamento das aves, onde elas dispõem minimamente de piso de cama, poleiros e ninhos. Estes podem ser em nível único ou níveis múltiplos.

Aves mantidas em galpões com acesso a área externa (piquete) para pastejo, respeitando as densidades de alojamento de 7 (sete) aves por metro quadrado no ambiente do aviário e 2 (duas) aves por metro quadrado na área externa.

 

Foto: Fazenda da Toca

Quando se fala de instalações para galinhas poedeiras fora de gaiolas, praticamente as características construtivas estão associadas à seleção de materiais e estruturas, que visem uma boa resistência estrutural e uma eficiência térmica, no qual a atenção deverá estar focada no isolamento e ventilação.

De acordo com o Manual de Boas Práticas para o Bem-estar de Galinhas Poedeiras, publicado recentemente, as características inerentes às instalações são:

Foto: Poletto, R.

Os sistemas de ventilação devem ser instalados e posicionados no sentido transversal ou longitudinal do galpão.

O manejo de acionamento do sistema de controle do ambiente deverá seguir as condições ideais de temperatura e umidade descritos na Tabela 1 de acordo com as diferentes fases de desenvolvimento das galinhas poedeiras.

o Dessa forma, os sistemas de ventilação e de resfriamento devem ser mantidos em bom funcionamento quando a temperatura e umidade do ambiente estiverem fora das faixas recomendadas.

o É importante a utilização de sistemas de nebulização alta pressão, com bicos distribuídos em linhas transversais ou longitudinais. É imprescindível a manutenção rotineira dos bicos para o bom funcionamento do sistema evitando gotejamento e cama molhada.

Tabela 1. Faixas de temperatura e umidade relativa ideal para as diferentes fases e produção de galinhas poedeiras.

 

O programa de luz deverá obedecer ao fornecimento mínimo de 6 horas contínuas de escuro e 8 horas contínuas de luz, recomendando que a transição (luz artificial) seja realizada gradativamente.

SISTEMA DE PRODUÇÃO LIVRES DE GAIOLAS (CAGE-FREE)

Este sistema permite que as aves fiquem soltas nos galpões, com acesso a ninhos, poleiros, local para banho de areia, que possibilitem à ave um espaço para fugas, além disso, em piso promove o desgaste de unhas por meio do ato de ciscar e expressar todos os comportamentos naturais.

Atualmente ao se falar das instalações envolvemos os aspectos relacionados às recomendações para:

De acordo com as recomendações recentes do Manual de Boas Práticas (Silva et al, 2020), a tabela 2 apresenta as densidades ideais para o sistema de criação fora de gaiolas, permitindo assim que as aves fiquem livres para caminhar e expressar comportamentos naturais.

Tabela 2. Indicações das densidades de alojamento de aves poedeiras para a produção de ovos

 

Foto: Fazenda da Toca

POLEIROS: Os poleiros são obrigatórios neste sistema e devem ter um espaço mínimo de 7,5 cm de comprimento por ave para as fases de cria (a partir de 7-10 dias) e recria e de no mínimo 15 cm por ave para a fase de produção.

NINHO: o ninho é uma área fornecida à ave que preserva o comportamento natural dela, pela privacidade durante o momento da postura. Eles podem ser ninhos individuais ou comunitários, porém, as galinhas têm preferência aos ninhos individuais; não devem conter comedouros, bebedouros ou poleiros em seu interior;

COMEDOUROS E BEBEDOUROS: apesar de serem equipamentos que complementam as instalações, não há como pensar em projetos de instalações sem considerarmos as recomendações técnicas de uso e distribuição dos mesmos para o plantel de galinhas poedeiras.

Nesse sentido, as recomendações para as diferentes fases de criação das galinhas poedeiras estão representadas na tabela 3.

Tabela 3. Recomendações para densidades de uso de comedouros e bebedouros. (Ø – representa diâmetro)

SISTEMA DE PRODUÇÃO CAIPIRA OU COLONIAL (FREE – RANGE)

A grande diferença neste sistema caipira ou colonial é o acesso á área externa. Todas as características e exigências do sistema fora de gaiola (cage-free) citado anteriormente deverão ser adotadas.

Todavia, além das aves ficarem soltas no galpão elas têm a possibilidade do acesso diário a uma área externa, ao ar livre, que deve ser de pelo menos 6 horas durante o dia, sempre que o clima permitir.

Neste caso, as estruturas que envolvem instalações devem abranger:

Deve-se considerar que os galpões precisam ser providos de aberturas laterais para o acesso a área externa. Recomenda-se que tenham pelo menos 46 cm de altura e 53 cm de largura, distribuídas nas laterais onde estão localizados os piquetes.

BEBEDOUROS E COMEDOUROS: bebedouros tipo Nipple devem ser utilizados na relação de 1/12 aves; os comedouros devem ser utilizados na relação de 5 cm/ave para os lineares e 4 cm/ave para os comedouros circulares;

NINHO: relação 1 ninho para cada 7 aves;

POLEIRO: 15cm/ave;

As densidades de animais dentro dos galpões e nos piquetes externos, apresentados no Manual de Boas Práticas de Bem-estar de Galinhas Poedeiras criadas fora de gaiola, estão na tabela 4.

Tabela 4. Densidade de galinhas poedeiras recomendadas para o sistema caipira, colonial (free-frange).

Pode-se dizer que projetos de instalações direcionados a esse tipo de sistema, são os que proporcionam melhor bem-estar às aves, pois não reprimem seus instintos, como movimentar-se, ciscar, voar, abrir as asas, limpar as penas, pastejar etc.

Foto: Poletto, R.

PIQUETES: A densidade máxima nesses locais é de 0,5 m2/ave. Devem ser manejados visando a evitar a sua degradação, ou contaminação. Sugere-se, quando possível, a rotação dos mesmos.

Concluindo, na atualidade, as instalações para produção animal deverão envolver não só os aspectos construtivos, como era no passado, mas as relações de manejo. E, principalmente, a relação animal ambiente, associada ao seu bem-estar animal.

Portanto, as instalações para a galinhas poedeiras deverão associar os aspectos dos diferentes sistemas livres de gaiolas e as adaptações necessárias para o melhor bem-estar das aves.

 

SILVA, I.J.O.; ABREU, P.G.; MAZZUCO, H.; Manual de boas práticas para o bem-estar em galinhas poedeiras criadas livres de gaiolas. Embrapa, MAPA. 2020. 40p. (https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1127416/manual-de-boas-praticas-para-obem-estar-de-galinhas-poedeiras-criadas-livres-degaiola). Acesso: 23/03/2021

 

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