Quem aqui escreve é uma avicultora, filha, neta, bisneta e tataraneta de agricultores. Faço parte da quinta geração de produtores rurais, que colocaram os pés pela primeira vez na nossa terra situada na região de Ribeirão Preto/SP por volta de 1850.
Quando entendi o tamanho e a complexidade desta cadeia eu decidi me dedicar a aprender e inovar. Isso aconteceu há 12 anos, e com o meu interesse (e com a abertura que meus pais me deram) resolvemos trilhar juntos uma estrada longa que é a sucessão familiar.
No início da minha atuação na fazenda, foquei em ajudar a equipe a melhorar a produtividade e eficiência da nossa operação. Passados alguns anos, e com bons resultados atingidos, comecei a me dedicar ao que realmente passou a me motivar: tornar a nossa fazenda sustentável. Sustentável de verdade.
Este é um tema que tomou corpo e muita força nos últimos anos. E hoje se tornou um dos tópicos globalmente mais relevantes, representada pela sigla ESG, que pode ser resumida como a sustentabilidade em uma linguagem corporativa (que a propósito hoje compõe parte significativa das metas das empresas).
Acredito que devemos enxergar nossas propriedades conectadas ao ecossistema que estão incluídas, algo que nos faz olhar muito além puramente da atividade financeira em questão. E quando há essa internalização da sustentabilidade como parte do negócio (tornando-se nossa cultura), começamos a perceber que todas as nossas decisões têm grande impacto no presente e que também são parte da construção do futuro. |
Esse futuro precisa ser desenhado com:
Os principais pontos de trabalho foram (e ainda são):
A cada grama de ração economizada para produzir a mesma quantidade de carne, há uma enorme redução de insumos e toda redução do impacto de sua produção e logística. Para isso, utilizamos infraestrutura bem desenhada, bem dimensionada e corretamente instalada.
Grande passo para a redução de impacto no meio ambiente e enorme economia no fluxo de caixa da granja vem da geração de energia, já que em uma operação de frangos a energia corresponde ao redor de 18% do custo operacional do produtor.
Investimento alto, mas com retorno muito atrativo e com contribuição ambiental significativa.
No nosso caso a biocompostagem da mortalidade em maquinário especializado, além de evitar impactos ambientais, nos levou a produzir um riquíssimo composto orgânico que hoje é utilizado nas nossas lavouras.
Somente assim garantiremos a sucessão familiar e a motivação para que nossos funcionários queiram continuar no campo. A ideia então foi formar um time que trabalhasse com coesão e feliz na fazenda.
Tenho sempre em mente que a liderança em uma propriedade rural tem que ser inspiradora, como em outras empresas. A responsabilidade de inspirar no ambiente rural talvez seja ainda maior, já que os líderes geralmente são membros da família e não mudam constantemente como em uma empresa. Mas para liderar também é preciso que nós produtores rurais estejamos sempre nos desenvolvendo.
- Como garantir a viabilidade da granja no longo prazo;
- Como nos tornaremos resilientes a tantos vaivéns de mercado;
- Como oferecer remuneração justa ao nosso pessoal; dentre tantos outros desafios.
Trago isso como uma quebra de paradigma para aqueles que ainda dizem que produtividade e sustentabilidade não podem andar juntas. Ou seja, o dinheiro está sempre em jogo, mas ele não deve ser a única peça do tabuleiro. |
Com o que já foi realizado conseguimos avançar muito na nossa fazenda, mas ainda temos muito pela frente. Temos pensado nos nossos próximos passos, e para que caminho devemos seguir com tantas mudanças no mundo.
Como podemos regenerar (e não somente preservar) o meio ambiente que nos rodeia por lá?
Temos que entregar para a próxima geração uma propriedade melhor do que recebemos: melhor em eficiência econômica, melhor no aspecto social, e enriquecendo o meio-ambiente.
Assim, nesta longa jornada do presente com preparação para o futuro, o horizonte desenhado é a sustentabilidade. E para conseguirmos enxergá-lo e alcançá-lo, precisaremos andar juntos.