O setor de postura comercial brasileiro acompanha com atenção um dado estratégico apresentado na Conbrasul Ovos 2025: a previsão de que o consumo global de ovos deve crescer 21% entre 2023 e 2033. A análise foi feita por Laiz Foltran, coordenadora de Inteligência de Mercado da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), durante a Sessão Economia/Suprimentos — painel que também reuniu projeções econômicas, alertas geopolíticos e soluções para os gargalos de financiamento enfrentados pela cadeia produtiva.
Ela explicou que os ovos aparecem como a segunda proteína com maior potencial de crescimento no consumo global, com projeção de expansão de 21% até 2033, de acordo com dados do Rabobank. Segundo Laíz Foltran, a expectativa de crescimento mostra que o ovo tende a ganhar espaço nas preferências alimentares em diversos mercados, especialmente por suas características de acessibilidade e valor nutricional.
Exportações
Além das tendências de consumo, a executiva apresentou números que reforçam a expectativa de avanço nas exportações brasileiras de ovos. A ABPA projeta um crescimento de 62% nos embarques em 2025, com destaque para o mercado dos Estados Unidos.
Laíz também destacou que, segundo dados da ABPA, o valor bruto da produção de ovos foi de R$ 26 bilhões em 2024, com projeção de R$ 32 bilhões para 2025, o que evidencia a importância econômica da cadeia de postura comercial no cenário nacional.
Geopolítica e crédito
O painel também contou com a participação de Antônio Sartori, sócio-fundador da Brasoja Agro Corretora, que reforçou a importância de o Brasil compreender seu papel geopolítico como fornecedor de alimentos. Ele lembrou que 60% da população mundial vive na Ásia e que o continente reúne apenas 24% da área terrestre — o que cria um cenário permanente de dependência externa em relação à produção de alimentos.
“Quem tem comida tem poder. A China sabe disso. Detém mais da metade dos estoques globais de grãos. E o Brasil precisa parar de achar que exportar é apenas vender: é estratégia de nação”, afirmou Sartori, ao defender uma política mais agressiva de posicionamento internacional do setor agropecuário.
Já a economista Marilaine Motta, assessora de investimentos da GWM/Investments/BTG Pactual, ressaltou que o produtor brasileiro segue enfrentando grandes barreiras financeiras para competir nesse novo cenário global. “O crédito rural tradicional não é suficiente. E recorrer ao mercado privado muitas vezes significa taxas altíssimas, como CDI+5 ou CDI+6. Isso é insustentável”, alertou.
Segundo ela, a solução pode estar em instrumentos de mercado de capitais bem estruturados. Marilaine compartilhou o caso real de um cliente com endividamento a 18% ao ano que conseguiu refinanciar sua operação a 1,2%. “Não é mágica, é estruturação. Mas exige profissionalismo e gestão integrada”, explicou.
As falas dos três palestrantes convergiram em demonstrar que o Brasil tem uma oportunidade única de ocupar espaço global no fornecimento de proteínas, desde que invista em biosseguridade, gestão financeira e imagem institucional. “Enquanto o mundo vive uma guerra, nós somos parceiros confiáveis. Isso tem valor e precisa ser explorado com inteligência estratégica”, concluiu Marilaine.
(Atualizado às 16h10 de 02/06/2025)