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Panorama do vírus da bronquite infecciosa no Brasil

Escrito por: Igor Vellano - Vaccination Services Coordinator. Phibro Animal Health , José Emílio de Menezes Dias - Mestrando do programa de pós graduação em Produção e Sanidade Animal - IFC campus Concordia/SC
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A Bronquite Infecciosa (IB) é uma doença viral respiratória de rápida disseminação, que afeta diretamente a produtividade e o bem-estar das aves, especialmente frangos de corte, reprodutoras e poedeiras. Com alta taxa de transmissão e capacidade de provocar lesões nos sistemas respiratório, urinário e reprodutivo destas aves, a doença continua sendo motivo de preocupação para produtores e agroindústria. Causada por um coronavírus do gênero Gammacoronavirus, da família Coronaviridae, apresenta um genoma de RNA de fita simples com alta capacidade de recombinação e mutação, que facilita o surgimento de variantes (Jackwood et al. 2012).

Panorama do vírus da bronquite infecciosa no Brasil

Estes eventos de recombinação no genoma do vírus da IBV estão relacionados principalmente à proteína S localizada na superfície da membrana viral, principal responsável pela indução de anticorpos neutralizantes, e pela entrada do vírus nas células hospedeiras (Zhang, Xu & Cao, 2021). Esta proteína é dividida em duas subunidades (S1 e S2). A subunidade S1, devido à sua alta variabilidade, foi estudada por Valastro et al. em 2016, que propuseram uma nova classificação para este vírus. Este sistema foi categorizado em seis genótipos (GI a GVI) e 32 linhagens distintas (sendo 27 destas linhagens, pertencentes ao genótipo 1).

Epidemiologia do vírus no Brasil

O vírus da bronquite infecciosa aviária (IBV) foi identificado no Brasil na década de 1950, e anos depois, iniciou-se a vacinação com vacinas Massachusetts (GI-1). Apesar de sua ampla utilização, a eficácia das vacinas baseadas na linhagem Massachusetts tem sido comprometida pelo surgimento de variantes locais, como a BR (GI-11), endêmica na América do Sul, associadas a surtos respiratórios e entéricos. Essa linhagem tem diferenças genéticas, especialmente no gene S1, o que dificulta a proteção cruzada e exige vacinas adaptadas à realidade local (Brandão et al. 2020; Fraga et al. 2020).

Panorama do vírus da bronquite infecciosa no Brasil

Recentemente, tivemos o surgimento de uma variante no Brasil, pertencente a linhagem GI-23, documentada por Ikuta, et al. (2022). Este relato veio acompanhado de um impacto significativo no aumento da mortalidade nos lotes, redução no desempenho zootécnico e elevados níveis de condenação de carcaças por aerossaculite, resultando em prejuízos consideráveis.

Nos estados da região sul do Brasil, responsáveis por 65% da produção nacional e 78% das exportações de carne de frango, cerca de 29 milhões de carcaças foram condenadas parcial ou totalmente devido à aerossaculite em 2021, segundo relatórios públicos do MAPA (Figura 1). Sendo as condenações, principalmente no segundo semestre do ano (momento dos primeiros casos suspeitos da linhagem GI-23 no país).

Figura 1. Condenações por aerossaculite no ano de 2021 na região sul do Brasil (percentual mensal de carcaças condenadas versus o número de aves abatidas). [Panorama do vírus da bronquite infecciosa no Brasil]

Num estudo publicado pelo nosso grupo em 2024, foi evidenciado que o IBV da linhagem GI-23 já é o mais prevalente no território brasileiro (Figura 2), com uma frequência de 57,3% contra 55,1% da linhagem GI-11 e 16,2% da linhagem GI-1 (Dias, et al. 2024). Este estudo avaliou 2059 amostras de traqueia, rins, tonsilas cecais e suabes de cloaca, colhidos de aves comerciais em diferentes regiões do país entre janeiro de 2022 e Dezembro de 2023.

Figura 2. Frequência (%) de identificação por RT-PCR do vírus da Bronquite Infecciosa em aves comerciais no Brasil, seguidos de tipificação por RT-PCR. [Panorama do vírus da bronquite infecciosa no Brasil]

Patogenia

O IBV tem tropismo pelo trato respiratório, iniciando sua replicação nas porções superiores. A transmissão ocorre por aerossóis, e uma vez que atinge o epitélio, promove ciliostase e acúmulo de muco. O pico de replicação do vírus ocorre geralmente em torno de 3 a 7 dias após a infecção (DPI), dependendo da cepa envolvida, e isso se reflete nas manifestações respiratórias como espirros, respiração ofegante, tosse, estertores traqueais, secreção nasal, conjuntivite e dispneia (Najimudeen et. al, 2020).

Após a infecção primária, o vírus dissemina-se por viremia, podendo atingir outros órgãos como rins, testículos, trato digestivo e oviduto. O IBV pode causar importantes lesões no sistema reprodutivo em aves de ciclo longo sobretudo quando atingem o oviduto, contribuindo para a redução na produção e piora na qualidade dos ovos. Lesões semelhantes são encontradas em desafios com a linhagem GI-23, que também apresentam piora na qualidade de casca, “falsa poedeira” (em casos de infecções precoces) e cistos no oviduto que, em alguns casos, a ave perde seu centro de gravidade e assume uma “postura de pinguim” (Figura 3).

Figura 3. Impacto na qualidade da casca dos ovos; Cistos no oviduto; Ave com postura de pinguim. Fonte – arquivo pessoal [Panorama do vírus da bronquite infecciosa no Brasil]

O vírus da linhagem GI-23 tem sido relacionado com lesões no trato respiratório superior e rins, e comumente se encontra na necrópsia a presença de aerossaculite em graus leves a elevados, muco e congestão traqueal, além dos rins com aspecto pálido, edemaciados, com depósito de uratos e distensão tubular (Figura 4). Frequentemente o desempenho zootécnico é afetado, por causas primárias ou secundárias, que se reflete no grau elevado de mortalidade, condenação no abatedouro e altos custos com antibioticoterapia, com impacto negativo para a indústria.

Figura 4. Traqueíte; Aerossaculite em graus variados; Lesões renais. Fonte – arquivo pessoal

Esses achados corroboram com um estudo de patotipagem realizado por Trevisol et al. (2023), em que isolados de variantes da linhagem GI-23 foram utilizadas para avaliação de lesões in vivo. Os rins foram afetados, com presença de uratos e edema. A espuma e opacidade nos sacos aéreos abdominais estiveram presentes em todas as aves avaliadas aos 6 e 13 dias após a infecção. O grau de ciliostase também foi avaliado, e notou-se que todas as aves desafiadas foram afetadas aos 6 dias. Aos 13 dias algumas aves tiveram um decréscimo desse percentual, indicando um impacto maior em aves mais jovens.

Diagnóstico e controle

O diagnóstico clínico da bronquite infecciosa pode ser dificultado pela semelhança com outras doenças respiratórias. Para a confirmação da presença do IBV, a análise laboratorial por meio da PCR é o método de escolha, com amplificação e sequenciamento das regiões hipervariáveis do gene S1, onde se determinam as principais diferenças antigênicas entre as variantes (Valastro et al. 2016). Já os testes sorológicos como o ELISA são eficazes para avaliar a resposta vacinal do plantel, mas não distinguem entre variantes virais (Cavanagh, 2007) e em alguns momentos, podem deixar passar alguma informação importante sobre o que está acontecendo no campo.

Panorama do vírus da bronquite infecciosa no Brasil

Em áreas com grande adensamento de aviários, é praticamente impossível manter as aves longes do IBV. Sua velocidade de replicação torna medidas de biosseguridade pouco eficientes. A vacinação com cepas homólogas é uma ferramenta eficiente de controle, e, para o controle do IBV linhagem GI-23, se mostra a ferramenta mais efetiva. Um estudo realizado no Paraná entre 2022 e 2023 com uma amostra de 415 milhões de frangos (totalizando aproximadamente 17 mil lotes), comparou os dados de mortalidade, condenações por aerossaculite e o número de lotes tratados com antibióticos, em 2022 (utilizando um programa vacinal com as vacinas Massachusetts e BR-1) e em 2023 (com um programa vacinal com as vacinas Massachusetts e TAbic IBVAR206). Neste estudo, houve uma redução significativa em todos os parâmetros entre os anos, sendo 23% de redução na mortalidade; 67% de redução nas condenações por aerossaculite e 62% de redução no número de lotes tratados (Marca, et al. 2024) (Figura 5).

Figura 5. Comparação dos dados de mortalidade, aerossaculite e lotes medicados de uma agroindústria entre os anos de 2022 que utilizava um programa vacinal com vacinas Massachusetts e BR-1; e em 2023 onde utilizava um programa vacinal com vacinas Massachusetts e TAbic IBVAR206.

Dias, et al. (2025) trouxeram informações recentes sobre a redução dos impactos gerados pela GI-23 após a introdução da TAbic IBVAR206 no mercado brasileiro em 2023. Para esta análise, também foram compiladas informações de relatórios públicos divulgados pelo MAPA sobre abatedouros com SIF. Considerando os abatedouros da região sul do Brasil, onde a adoção da vacina foi rápida pelas empresas, temos o seguinte cenário: redução de 44% de condenações por aerossaculite (Figura 6). Neste caso, 9.8 milhões de carcaças deixaram de ser condenadas no período avaliado. Isso representa, aproximadamente 29.400 toneladas de carne de frango a mais no mercado, no período avaliado.

Figura 6. Condenações por aerossaculite em abatedouros com SIF na região sul do Brasil no primeiro semestre de 2023 e 2024.

Conclusão

O IBV é um vírus com alta capacidade de transmissão e causa diversos prejuízos para a indústria avícola ao redor do mundo. A vacinação tem sido a principal ferramenta para controlar este vírus. O uso de vacinas homólogas, tem se mostrado uma ferramenta essencial para controlar o avanço do IBV no mundo. No Brasil, existem evidências de que a linhagem GI-23 é a mais prevalente no país, o que mostra o perfil dominante desta cepa. A vacinação com a TAbic IBVAR206 tem auxiliado à agroindústria na redução dos casos de condenações por aerossaculite, redução na mortalidade e redução no uso de antibióticos a campo.

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