Não existe muita informação disponível sobre a produção industrial de perus na América Latina. Além disso, são relativamente poucas as publicações científicas, ou técnicas que contribuam de maneira considerável, rápida e efetiva para a obtenção do máximo potencial genético da espécie. Além dos manuais técnicos fornecidos pelas empresas de seleção genética, há poucas fontes de informação que proporcionem orientações para produzir:
- Tamanho e peso ótimos das aves;
- Rendimento por metro quadrado;
- Técnicas de produção;
- Taxa de crescimento e conversão alimentar esperadas;
- Viabilidade.
Estes e outros aspectos são parâmetros a serem considerados quando um produtor decide investir nesse negócio.
PRODUÇÃO MUNDIAL DE PERUS
O rendimento por metro quadrado da produção de perus comerciais ao ano é menor comparado à produção de frangos. Somado a isso, nos últimos anos a produção e consumo mundiais de perus vêm se mantendo constantes, sendo Estados Unidos, Brasil, Itália e França os principais produtores (Figura 1).
Três países do continente americano e um da América Latina figuram entre os maiores produtores de carne de peru do mundo.
Entre eles, os EUA são indiscutivelmente o maior protagonista, com uma participação de 49% da produção mundial (2013).
A ocorrência de Influenza Aviária nesse país no ano de 2015 significou uma redução muito substancial na oferta e, consequentemente, um aumento de preços da carne de peru.
Para que o peru expresse todo o seu potencial, deve existir um perfeito equilíbrio entre o ambiente, sanidade e nutrição.
O progresso genético do peru nos últimos anos se caracterizou por uma forte pressão de seleção para melhorar a conversão alimentar e conseguir maior peso da ave viva, com a importante contribuição do corte mais nobre do peru, que é o peito.
Um dos aspectos que pode estimular o produtor a optar pela produção de perus é o maior rendimento de carcaça, em comparação com o rendimento do frango.
Porém, ainda assim, o grande desafio da indústria é poder comercializar as carnes escuras do peru (principalmente as pernas).
RENDIMENTO POR METRO QUADRADO
Outro fator importante para o início desta atividade é o rendimento por metro quadrado, que exerce uma grande pressão para identificar quais fatores devem ser corrigidos e manejados para permitir maior obtenção de carne. O rendimento por metro quadrado da produção de perus comerciais é aproximadamente 15% menor ao ano comparado à produção de frangos.
Um exemplo disto é a importância de manter a mortalidade o mais baixa possível durante a primeira semana de vida, até o final do cliclo de engorda, para reduzir o custo de produção. Para isso, o melhoramento dos sistemas de calefação, ventilação e iluminação é fundamental para que permitam otimizar as densidades na criação e engorda e, com isso, o rendimento e a eficiência na produção de perus
FATORES NUTRICIONAIS
Dentre os fatores nutricionais que são particularmente relevantes na produção de perus encontram-se: O alto nível de energia que se deve incluir na dieta, o que repercute vigorosamente no custo de produção.
O custo de uma dieta de perus é, em média, 6% mais caro que o da dieta de frangos de corte. E esta diferença pode ser, inclusive, maior no caso de países que não são produtores de grãos, onde deve-se buscar fontes alternativas de energio e/ou melhoradores da utilização das gorduras, assim como uma excelente saúde intestinal.
O custo da alimentação de perus é 6% mais caro que o custo da de frangos
No caso da América Latina, os países onde se produz peru de forma industrial são Brasil, Peru, Equador, Colômbia e Chile.
Outros países têm alguma produção menor e primordialmente sazonal.
No caso do Chile, as empresas são proprietárias de toda a cadeia produtiva, desde os planteis de reprodutoras até a comercialização dos produtos, passando por fábrica de ração, incubadoras e plantas de processamento.
O principal destino das carnes de peru é a exportação a diferentes mercados como México, EUA e União Europeia, entre outros, além da elaboração de embutidos (presuntos, salsichas etc.) para consumo interno.
CRIAÇÃO DE PERUS
CRIAÇÃO
Os perus são enviados da planta de incubação às granjas, onde são sexados pela cloaca. A criação abrange desde o dia de chegada dos filhotes até os 35-38 dias.
A preparação do galpão é fundamental para o sucesso desta etapa. Uma prática comum é colocar comedouros e bebedouros suplementares para os primeiros dias.
Geralmente os pavilhões utilizados para essa finalidade contam com sistema de ventilação mínima e, em alguns casos, com opção de ventilação forçada de túnel. Porém, frequentemente, encontramos apenas ventilação natural (cortinas laterais automáticas).
Por terem menor peso, as fêmeas normalmente são destinadas à produção de perus inteiros e são desunhadas (corta-se a última falange do dedo médio) com o objetivo de diminuir os problemas de pele por arranhões, que resultam em condenações na planta de processamento e perdas de categoria.
Na América Latina, a prevenção da coccidiose em perus é feita a partir da incorporação de anticoccidianos ionóforos na dieta, coisas que em outros países se faz através da aplicação de vacinas durante a primavera e verão, além de ionóforos no outono e inverno.
ENGORDA
A etapa de engorda contempla, para as fêmeas, um primeiro cenário até os 78-80 dias com um peso da ave viva de cerca de 6,5 a 6,7 quilos; e/ou até os 90 dias com 8 quilos de peso da ave viva. Para o caso dos machos, o objetivo é alcançar 18-20 quilos aos 128-140 dias de idade.
- DENSIDADES
As densidades normais usadas no caso de se ter galpões com apenas um sexo, são de 6 perus/m2 no caso das fêmeas e 3,2 perus/m2 para os machos. Para o caso de galpões mistos, as densidades dependerão do peso objetivo das fêmeas, pois os machos necessitam espaço para poder se mover e deslocar dentro do galpão, com o objetivo de fortalecer as pernas que, depois dos 100 dias, devem suportar um crescimento substancial do peito.
A IMPORTÂNCIA DE PESAR OS ANIMAIS
É importante, tanto na criação, como na engorda, monitorar semanalmente o peso das aves. Para isso existem balanças eletrônicas no mercado, que além de informar o peso médio, fornecem outros valores como uniformidade expressa em coeficiente de variação (CV), ajudando a realizar uma melhor gestão do lote.
A informação sobre o consumo de água e ração também é muito importante e útil.
PROBLEMAS SANITÁRIOS RECORRENTES
HISTOMONIASE
- Essa doença é produzida pelo protozoário Histomonas meleagridis e pode se manifestar em qualquer etapa, porém é muito mais severa nos machos em crescimento.
- Ainda que as fêmeas também possam apresentar sinais e lesões, o aumento da mortalidade é mais modesto que nos machos.
- Se não for realizado nenhum tratamento, a morbidade e mortalidade podem chegar a 100%.
- O problema hoje em dia é que os produtos utilizados para seu controle estão fortemente regulados e alguns deles já não são produzidos e, portanto, não estão disponíveis no mercado.
- Por isso, o foco deve ser a prevenção em vez da terapêutica, para o que deve-se contar com medidas de biosseguridade muito boas, evitando ao máximo a entrada de aves silvestres nos galpões, pois podem ser portadoras mecânicas.
- No caso de um surto é necessário isolar completamente o galpão, fazer uso de roupas e botas exclusivas para o galpão afetado e instalar barreiras antimigratórias no seu interior para formar currais que ajudem a diminuir a disseminação do parasita entre seções do galpão, podendo enviar as aves para a planta de processamento o mais rápido possível.
SALMONELLA SPP.
- As Salmonellas móveis normalmente não causam problemas clínicos nos perus, porém representam um importante problema de segurança dos alimentos, tornando-se um limitante para a comercialização da carne.
- Ainda que existam ferramentas úteis como vacinas, aplicação de acidificantes para a água de bebida, probióticos e prebióticos, o principal é contar com um excelente programa de biosseguridade na granja.
CÓLERA AVIÁRIA
- A cólera aviária causada pela Pasteurella multocida pode gerar um grande impacto econômico.
- É importante contar com um correto e oportuno diagnóstico que inclua isolamento, identificação e serotipificação da bactéria isolada, com o objetivo de determinar se é necessário incorporar bacterinas autógenas se o serotipo identificado não está incluído nas vacinas, ou bacterinas comerciais disponíveis localmente.
- Quando são permitidas, as fluoquinolonas (e. g. Enrofloxacina) são bastante efetivas no controle da infecção.
A correta aplicação do PLANO DE BIOSSEGURIDADE no galpão é o primeiro escalão de uma criação de perus de sucesso
MICOPLASMOSE
- Causada por Mycoplasma gallisepticum é outra doença de alto impacto na produção de perus, pois é muito contagiosa e age como precursora de quadros clínicos bacterianos secundários severos, que podem provocar a morte dos animais e/ou gerar grandes condenações na planta de processamento.
- O uso de fármacos antimicoplásmicos (macrólidos) contra um surto ajuda a contê-lo, porém o lote deverá ser enviado à planta de processamento com a maior brevidade possível.
- Isolar o setor e restringir o movimento ao máximo para evitar disseminar a doença são ações muito necessárias, assim como extremar as medidas de biosseguridade.
- Uma vez retiradas as aves e a cama, deve-se lavar e desinfectar o galpão e os equipamentos, além de garantir um período de descanso adequado antes de repovoar a granja.
PROBLEMAS RESPIRATÓRIOS
- Também pode-se observar problemas respiratórios como a infecção por Ornithobacterium rhinotracheale e/ou Metapneumovirus aviário (ORT/TRT).
- Esas infecções são mais patentes durante o inverno, quando se tende a fechar mais os galpões, deteriorandose a qualidade do meio ambiente
PROBLEMAS DIGESTIVOS
- Também podem surgir casos de Enterite Necrótica (Clostridium perfingens), que geralmente são precedidos por algum fator estressante (interrupções no fornecimento de água, falta de ventilação, excesso de calor, coccidiose etc.).
Em resumo, a produção de perus é um ramo da avicultura no qual: Faltam muitos campos a serem pesquisados e melhorados; Muitas técnicas e experiências são derivadas e adaptadas da indústria produtora de frangos de corte; Nunca se deve esquecer que os perus são um tipo de ave diferente e que, não necessariamente, respondem da mesma maneira. A indústria de perus trabalha para produzir uma proteína animal alternativa de alta qualidade, saudável e de custo acessível
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