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A construção de um marco legal que regule o bem-estar animal na avicultura de postura brasileira é necessidade primordial diante de um mercado cada vez mais exigente. E não se trata de um trabalho simples, diante da realidade de um país como Brasil, com dimensões continentais e diferenças enormes no sistema produtivo entre suas regiões.
Com esse objetivo, mais de 400 pessoas, entre produtores de ovos e pesquisadores, estiveram reunidos Ribeirão Preto (SP) na manhã de hoje (20/3), num Simpósio que precedeu a abertura do XVI Congresso de Ovos da APA. O diretor Executivo da Associação Paulista de Avicultura, José Roberto Bottura, destacou que a abertura do espaço dentro do Congresso para o debate se deve à importância de que o setor avance nesse debate.
O Pré-Congresso é uma das etapas do projeto Bem-Estar em Poedeiras, que vem sendo desenvolvido desde junho de 2016, numa parceria entre o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Embrapa Suínos e Aves e Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP).
Tendência de Mercado
Fernando fez um cruzamento dessas macrotendências, com as principais tendências de mercado como consolidação do consumo consciente, bem-estar, saudabilidade e retorno às origens. Ele apresentou uma pesquisa realizada no mercado brasileiro que aponta que 29% dos entrevistados preferem comprar marcas que tenham práticas sustentáveis, 30% evita comprar de empresas que têm histórico ambiental ruim e 22% preferem comprar de empresas socialmente responsáveis.
Segundo Bicaletto, há uma movimentação de grandes grupos para, até 2020, 2025, atender a essa demanda, comprando apenas ovos de aves criadas sem gaiola. “Essa mudança veio para ficar, a demanda está aí e vai crescer”, frisou Bicaletto. “São sinais claros para a indústria, sobre a necessidade de buscar alternativas eficientes”, completou.
Bicaletto apresentou dados do USDA, de novembro do ano passado, que apontam que de 2016 para 2017, a produção de ovos no sistema cage free cresceu 61% nos Estados Unidos. Ele também informou que a produção de ovos especiais cresce entre 30 e 40% ao ano no Brasil, segundo dados de redes varejistas.
Visão do Mercado Varejista
Ele destacou como pontos a serem considerados, a necessidade, de até 2030, dobrar a quantidade de alimentos produzidos para atender à população mundial e a cogitação de que em 2050 possa faltar alimento para atender toda a população mundial. Destacou também o papel do ovo enquanto alimento nutritivo e barato, que pode ajudar a minimizar os altos índices de pobreza no mundo, que segundo ele atinge cerca de 800 milhões de pessoas.
Segundo Edval, os países com potencial para desenvolver muito a produção de ovos são o Brasil e os Estados Unidos. Ele destacou ainda que a avicultura de postura, desde seu surgimento, se desenvolve com foco em produzir ovo com baixo custo, informando que as galinhas de hoje produzem cerca de 107 ovos a mais do que produziam há 30 anos.
“O desafio de produzir em sistema semi-intensivo contraria essa tendência, aparentemente”, afirmou Edval. Ele apresentou dados do Instituto Ovos Brasil (IOB), que apontam que o crescimento da produção de ovos no Brasil deverá crescer entre 10% e 15% em 2018, frente à produção de 39 bilhões de ovos em 2017.
“Nós vamos precisar sair do consumo médio de 192 ovos em 2017, para algo em torno de 215 ovos”, salientou Edval. “Ontem à noite, já vimos que o Brasil, nesse início de ano, está com um consumo aproximado de 205 ovos”, completou.
“É viável produzir de qualquer forma, desde que a gente tenha tecnologia e responsabilidade no que a gente está fazendo”, ponderou Edval.
Tecnologia para atender a demanda
Não existe definição também sobre se o espaço do ninho entra na contagem da limitação desse espaço. Machado demonstrou preocupação especial, em termos sanitários, com o sistema Free Range, no qual as aves possuem períodos de liberdade.
A experiência dos Estados Unidos foi apontada como algo a ser observado, porque naquele país a normatização foi realizada por estados e há muitas incongruências entre as certificadoras.
Formação e normas técnicas
A pesquisadora Helenice Mazucco, do Núcleo Temático de Produção de Aves da Embrapa Suínos e Aves (Concórdia, SC) apresentou panfletos e vídeos-aulas que estão sendo produzidos dentro do projeto. Também informou sobre a elaboração de um manual que será divulgado no encerramento do projeto, previsto para 2019.
O projeto trabalha ainda na construção de uma circular técnica sobre Cage Free, um boletim técnico sobre gaiolas enriquecidas, um artigo sobre depopulação de aviários e modificações de aviários californianos.
“Existe uma preocupação em desmistificar o vilão do bem-estar animal, aproximar os produtores e levar informação a eles de forma mais clara, para esclarecer que bem-estar animal não é só tirar as galinhas das gaiolas, colocar no chão e produzir a qualquer preço”, explicou o professor Iran José Oliveira da Silva, que é coordenador do Núcleo de Pesquisa em Ambiência (Nupea), ligado ao Departamento de Engenharia de Biossistemas da ESALQ/USP.
Pelo projeto, o grupo já promoveu debates sobre o Bem-estar Animal em Poedeiras nos municípios paulistas de Piracicaba, Bastos e Guatapará. Em 2018, além do Pré-Congresso em Ribeirão Preto, o grupo promoverá o 2º Egg Production Precision Day em Piracicaba e, no segundo semestre, realizará eventos nos municípios paranaenses de Maringá e Realeza.
Tendência mundial
Representando o MAPA, Lizie Buss, chefe de Divisão de Boas Práticas e Bem-Estar Animal, explicou, via áudio enviado aos organizadores do evento, que o Brasil, enquanto signatário da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), vem adotando medidas que atendem as orientações do organismo.
Entre as orientações da OIE estão reforçar o desenvolvimento de normas, competências de educação, comunicação clara com os governos e público, implantar políticas e normas com focos nos animais.
Lizie também apontou a utilização de práticas de bem-estar animal enquanto aliada para a redução do uso de antimicrobianos. Segundo ela, trabalhos publicados demonstram que o estresse crônico provoca a queda da imunidade nos animais, que por sua vez reflete na maior utilização de medicamentos.
Direto de Ribeirão Preto