Como a radiação solar influencia o comportamento de aves de postura criadas em sistema de criação Free range, sob clima tropical?
A pressão da população contribui para que as regras de bem-estar animal sejam aplicadas nos sistemas de produção animal, com preocupação na preservação do meio ambiente (Molento, 2005; Ubabef, 2008). Por isso, os sistemas de criação ao ar livre são uma alternativa e uma tendência para a criação de animais, com o intuito dos animais estarem livres para expressarem seus comportamentos naturais (Bestman, 2014; HFAC, 2018).
Por ser um país continental existem características climáticas muito distintas, sendo que a maior parte do seu território apresenta alta incidência de radiação solar e temperatura do ar elevada (Da Silva e Maia, 2013).
Para a avicultura de postura os sistemas de criação com aves de gaiolas tendem a diminuir, mas será que apenas retirar as aves das gaiolas e abrir o galpão para áreas externas já significa fornecer o Bem-
Baseado nessas informações, o objetivo do trabalho foi avaliar como a radiação solar influencia o comportamento de aves de postura criadas em sistema de criação Free range, sob clima tropical.
O experimento foi desenvolvido pelos membros do grupo de pesquisa BioCer – “Biometeorologia Aplicada ao Cerrado Brasileiro”, no Laboratório de Ciências Avícolas – LAVIC, do Instituto Federal de Brasília – IFB, campus Planaltina, Distrito Federal. Foram observadas 300 aves de postura de linhagem caipira comercial, criadas em sistema Free Range.
No decorrer do experimento, foram coletadas as variáveis meteorológicas: Temperatura do ar, Umidade Relativa do ar, Temperatura do Globo Negro, Radiação de ondas curtas e a Velocidade do ar, em intervalos de 10 minutos, através da utilização dos equipamentos para mensuração citados na Tabela 1.
A radiação de ondas curtas, também conhecida como radiação solar, é caracterizada como um mecanismo de ganho de calor para os animais e superfícies expostas aos raios solares, e pode ser mensurada com o equipamento chamado piranômetro, facilmente encontrados em qualquer estação meteorológica.
As variações da radiação solar são a radiação direta, a difusa e a refletida, que são subdivididas de acordo com as suas características (Da Silva, 2008; Da Silva e Maia, 2013).
Cada componente de radiação interfere de diferentes formas os sistemas de criação de aves de postura. Somente estão totalmente livres da radiação de ondas curtas as aves que são alojadas em galpões totalmente fechados e climatizados.
COMPORTAMENTO DAS AVES
As observações comportamentais ocorreram entre as 08h da manhã, quando as portas do galpão são abertas para o piquete, até as 17h, quando as aves entram no galpão e as portas são fechadas. Foram observados os locais de preferência das aves, considerado como livre escolha (Tabela 3).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As médias das variáveis meteorológicas foram divididas entre dias mais quentes e dias menos quentes (Tabela 4). Foram observados que mesmo nos dias menos quentes, as temperaturas do ar excederam a média anual de Brasília 25,9ºC (INMET, 2020) com valores acima de 28ºC no horário de 12h.
Por isso, foi mensurada a quantidade de radiação de ondas curtas que as aves recebem nos dias mais e menos quentes, chegando ao pico no horário das 14h com radiação de 815 W m-2 e 635 W m-2 (Figura 1). O valor máximo de radiação que o sol emite e alcança a Terra é em torno de 1.350 W m-2, mas a faixa que realmente atinge a superfície da Terra é em torno de 800 a 1000 W m-2 ao nível do mar (Da Silva, 2008).
Quando a radiação está abaixo de 50 W m-2 as 08h (Figura 1), foi observado que as aves mostram maior dispersão sobre os piquetes e melhor foi o aproveitamento da área externa do galpão (Figura 2).
Independentemente do dia avaliado, as aves de postura permaneceram dentro do galpão nos horários mais quentes, entre as 12h e 14h (Figura 1), com o intuito de se proteger da alta incidência de radiação solar nesses horários, por não encontrarem áreas de sombreamento no piquete (Figura 3) e a medida que o sol começa a baixar e formar sombra proveniente da estrutura do galpão as aves começam a se aglomerar (Figura 4).
Quando a radiação começa a diminuir as 16h para 348,37 W m-2 nos dias mais quentes e 167,93 W m-2 nos dias menos quentes (Figura 1), consequentemente, a temperatura do ar é amenizada somente neste momento a totalidade as aves saem do galpão em direção aos piquetes para utilizar as áreas de pastagem (Figura 5).
É importante salientar que por instinto de sobrevivência, como as aves são animais considerados “presas” e por se sentirem vulneráveis quando a pastagem está com altura maior que o tamanho a delas raramente utilizam essa área e não entram em vegetação densa.
Contudo, é notável o quanto a radiação solar tem interferência direta sobre o sistema Free-range para as aves de postura, sendo que, entre o período das 10h da manhã até as 16h temos 6 horas sem nenhuma utilização das aves aos piquetes, o que mostra a ineficiência do objetivo desse sistema, já que é obrigatório que as aves tenham acesso a área externa por pelo menos 6 horas do dia (HFAC, 2018), por isso, é necessário fornecer áreas de sombreamento próximo do galpão, como telas de sombrite e árvores, para que elas utilizem por mais tempo a área externa e não sofram com a radiação direta.
O mesmo foi citado em uma matéria da Certified Humane Brasil, “Com base no conhecimento sobre fisiologia e comportamento animal deve-se considerar sempre que eles devem ter acesso à sombra nos períodos mais quentes do dia/ano para a manutenção da produtividade, mesmo para as espécies e raças adaptadas a regiões tropicais” (Cattani, 2020).
CONCLUSÃO
Apenas soltar as aves nos piquetes não significa que é proporcionada uma condição de conforto, e nos momentos de maior intensidade de radiação solar é necessário o fornecimento de áreas de sombreamento nos piquetes, sendo a sombra natural das árvores o mais indicado nessa situação e trazendo a interação de sistemas sustentáveis e duráveis.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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DESCRITIVO DOS AUTORES