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Como a radiação solar pode impactar o conforto térmico de poedeiras em sistema de produção free-range?

Escrito por: Amanda Azevedo Rodrigues de Souza - Aluna do curso de Agronomia na Universidade de Brasília - UnB, Distrito Federal. Membro do grupo de pesquisa “A Biometeorologia Aplicada ao Cerrado Brasileiro – BioCer” , Dr. Vinícius Machado dos Santos - Zootecnista, professor de Produção de aves e Avicultura Alternativa no Instituto Federal de Brasília – IFB, Campus Planaltina, Brasília, Distrito Federal. Membro do grupo de pesquisa “A Biometeorologia Aplicada ao Cerrado Brasileiro – BioCer”. , Dra. Sheila Tavares Nascimento - Zootecnista, professora de Biometeorologia e Nutrição de monogástricos na Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária – FAV, da Universidade de Brasília - UnB, Distrito Federal. Coordenadora do grupo “A Biometeorologia Aplicada ao Cerrado Brasileiro – BioCer”. , Evandro Menezes de Oliveira - Zootecnista, doutorando na Universidade Estadual de Maringá - UEM, Paraná. Membro do grupo de pesquisa “A Biometeorologia Aplicada ao Cerrado Brasileiro – BioCer”. , Gabriel da Silva Oliveira - Gabriel da Silva Oliveira é Agroecólogo, mestrando na Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília - UnB, Distrito Federal. Membro do grupo de pesquisa “A Biometeorologia Aplicada ao Cerrado Brasileiro – BioCer”. , João Victor do Nascimento Mós - João Victor do Nascimento Mós é Engenheiro Agronomo, mestrando na Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília - UnB, Distrito Federal. Membro do grupo de pesquisa “A Biometeorologia Aplicada ao Cerrado Brasileiro – BioCer”.
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radiação solar free-range

Como a radiação solar influencia o comportamento de aves de postura criadas em sistema de criação Free range, sob clima tropical?

A pressão da população contribui para que as regras de bem-estar animal sejam aplicadas nos sistemas de produção animal, com preocupação na preservação do meio ambiente (Molento, 2005; Ubabef, 2008). Por isso, os sistemas de criação ao ar livre são uma alternativa e uma tendência para a criação de animais, com o intuito dos animais estarem livres para expressarem seus comportamentos naturais (Bestman, 2014; HFAC, 2018).

Entretanto, como a utilização desses sistemas difere em relação a países de clima temperado (como nos países Europeus), e alguns conceitos devem ser levados em consideração antes da sua implantação em países de clima tropical, como é o caso do Brasil.

Por ser um país continental existem características climáticas muito distintas, sendo que a maior parte do seu território apresenta alta incidência de radiação solar e temperatura do ar elevada (Da Silva e Maia, 2013).

O sistema Free-range para as aves de postura trazem o conceito de abertura do galpão para que as aves tenham acesso a área externa ou sejam criadas ao ar livre, fornecer melhores condições de Bem-estar (Yilmaz Dikmen et al., 2016; HFAC, 2018), atendendo a liberdade comportamental.
Porém, apesar de proporcionar a expressão de comportamentos naturais como de bater as asas, ciscar, empoleirar, se esticar, tomar banho de areia entre outros (Bestman, 2014; Thimotheo, 2016; HFAC, 2018; Bartzike et al., 2019), que não são observados no sistema em gaiolas, os fatores meteorológicos afetam diretamente a utilização deste sistema principalmente por não fornecer condições favoráveis relacionadas ao conforto térmico (Mós et al., 2020).

Para a avicultura de postura os sistemas de criação com aves de gaiolas tendem a diminuir, mas será que apenas retirar as aves das gaiolas e abrir o galpão para áreas externas já significa fornecer o Bem-estar para esses animais?

Baseado nessas informações, o objetivo do trabalho foi avaliar como a radiação solar influencia o comportamento de aves de postura criadas em sistema de criação Free range, sob clima tropical.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi desenvolvido pelos membros do grupo de pesquisa BioCer – “Biometeorologia Aplicada ao Cerrado Brasileiro”, no Laboratório de Ciências Avícolas – LAVIC, do Instituto Federal de Brasília – IFB, campus Planaltina, Distrito Federal. Foram observadas 300 aves de postura de linhagem caipira comercial, criadas em sistema Free Range.

VARIÁVEIS METEOROLÓGICAS

No decorrer do experimento, foram coletadas as variáveis meteorológicas: Temperatura do ar, Umidade Relativa do ar, Temperatura do Globo Negro, Radiação de ondas curtas e a Velocidade do ar, em intervalos de 10 minutos, através da utilização dos equipamentos para mensuração citados na Tabela 1.

Tabela 1. Variáveis meteorológicas, unidade de medidas e equipamentos para mensuração, com respectivos modelo e marca. *Globo negro é uma esfera oca de cobre, pintada na parte externa com tintura preta fosca, com diâmetro de 15cm, que foram posicionados ao sol e a sombra, e erguido a altura das aves (aproximadamente 20cm do solo)

RADIAÇÃO SOLAR

A radiação de ondas curtas, também conhecida como radiação solar, é caracterizada como um mecanismo de ganho de calor para os animais e superfícies expostas aos raios solares, e pode ser mensurada com o equipamento chamado piranômetro, facilmente encontrados em qualquer estação meteorológica.

As variações da radiação solar são a radiação direta, a difusa e a refletida, que são subdivididas de acordo com as suas características (Da Silva, 2008; Da Silva e Maia, 2013).

A radiação direta é a radiação que não sofre espelhamento ao se deslocar até a Terra, ou seja, é a radiação que desce em linha reta e atinge diretamente todas as superfícies.

A radiação difusa é causada pela deflexão da radiação solar direta por algumas partículas ou moléculas na atmosfera, como por exemplo as nuvens, de forma que chegue ao solo em diferentes ângulos.

A radiação refletida é a radiação que ao atingir ao solo tem parte de sua energia refletida para outras superfícies ou animais.

RADIAÇÃO SOLAR NA AVICULTURA

Cada componente de radiação interfere de diferentes formas os sistemas de criação de aves de postura. Somente estão totalmente livres da radiação de ondas curtas as aves que são alojadas em galpões totalmente fechados e climatizados.

As aves alojadas em galpões convencionais com laterais abertas recebem a radiação refletida e no sistema Free-range onde as aves tem acesso as áreas fora do galpão, as aves estão susceptíveis a receber todos os tipos de radiação, direta, difusa e a refletida (Tabela 2).

Tabela 2. Sistemas de criações de aves de produção e a radiação recebida em cada tipo de sistema.

COMPORTAMENTO DAS AVES

As observações comportamentais ocorreram entre as 08h da manhã, quando as portas do galpão são abertas para o piquete, até as 17h, quando as aves entram no galpão e as portas são fechadas. Foram observados os locais de preferência das aves, considerado como livre escolha (Tabela 3).

Tabela 3. Locais de permanência das aves, podendo ser: áreas de piquetes, de áreas sombreadas e da área interna do galpão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As médias das variáveis meteorológicas foram divididas entre dias mais quentes e dias menos quentes (Tabela 4). Foram observados que mesmo nos dias menos quentes, as temperaturas do ar excederam a média anual de Brasília 25,9ºC (INMET, 2020) com valores acima de 28ºC no horário de 12h.

Tabela 4. Dados meteorológicos da radiação de ondas curtas (Rc, W m-²), temperatura do ar (Tar, ºC), temperatura do globo negro ao sol e a sombra (Tgn, ºC), umidade relativa do ar (UR, %), e Velocidade do vento (Vv, m s-¹).

Em dias muito quentes, com temperatura do ar variando de 29 até 35ºC ou em dias menos quentes de 26 até 28ºC, a temperatura do ar não tem muita variação, o que nos mostra que apenas a temperatura do ar não é suficiente para definir o nível de estresse que esses animais podem estar submetidos nesse momento.

Por isso, foi mensurada a quantidade de radiação de ondas curtas que as aves recebem nos dias mais e menos quentes, chegando ao pico no horário das 14h com radiação de 815 W m-2 e 635 W m-2 (Figura 1). O valor máximo de radiação que o sol emite e alcança a Terra é em torno de 1.350 W m-2, mas a faixa que realmente atinge a superfície da Terra é em torno de 800 a 1000 W m-2 ao nível do mar (Da Silva, 2008).

Figura 1. Radiação de ondas curtas (W m-2) em dias mais quentes e menos quentes, nos horários das 08h, 12h, 14h e 16h.

Quando a radiação está abaixo de 50 W m-2 as 08h (Figura 1), foi observado que as aves mostram maior dispersão sobre os piquetes e melhor foi o aproveitamento da área externa do galpão (Figura 2).

Figura 2. As 8 horas a maioria das aves criadas em sistema Free-range estão fora do galpão, utilizando as áreas de pastagem.

Independentemente do dia avaliado, as aves de postura permaneceram dentro do galpão nos horários mais quentes, entre as 12h e 14h (Figura 1), com o intuito de se proteger da alta incidência de radiação solar nesses horários, por não encontrarem áreas de sombreamento no piquete (Figura 3) e a medida que o sol começa a baixar e formar sombra proveniente da estrutura do galpão as aves começam a se aglomerar (Figura 4).

Figura 3. Ao meio dia a maioria das aves criadas em sistema Free-range estão dentro do galpão, e as poucas que estão do lado de fora estão aglomeradas utilizando a sombra disponível.

Figura 4. As 14h a maioria das aves criadas em sistema Free-range estão dentro do galpão, e as poucas que estão do lado de fora estão aglomeradas utilizando apenas os locais de sombra disponível.

Quando a radiação começa a diminuir as 16h para 348,37 W m-2 nos dias mais quentes e 167,93 W m-2 nos dias menos quentes (Figura 1), consequentemente, a temperatura do ar é amenizada somente neste momento a totalidade as aves saem do galpão em direção aos piquetes para utilizar as áreas de pastagem (Figura 5).

Figura 5. As 16 horas a maioria das aves criadas em sistema Free-range estão fora do galpão, utilizando as áreas de pastagem.

É importante salientar que por instinto de sobrevivência, como as aves são animais considerados “presas” e por se sentirem vulneráveis quando a pastagem está com altura maior que o tamanho a delas raramente utilizam essa área e não entram em vegetação densa.

Assim como foi observado as 16h, onde apesar de estarem soltas fora do galpão, a maioria se manteve fora das áreas de grama (Figura 5), por isso, devemos manter a grama sempre aparada, além das outras normativas para as áreas de pastagem estipuladas pela Humane Farm Animal Care (2018).

Contudo, é notável o quanto a radiação solar tem interferência direta sobre o sistema Free-range para as aves de postura, sendo que, entre o período das 10h da manhã até as 16h temos 6 horas sem nenhuma utilização das aves aos piquetes, o que mostra a ineficiência do objetivo desse sistema, já que é obrigatório que as aves tenham acesso a área externa por pelo menos 6 horas do dia (HFAC, 2018), por isso, é necessário fornecer áreas de sombreamento próximo do galpão, como telas de sombrite e árvores, para que elas utilizem por mais tempo a área externa e não sofram com a radiação direta.

O mesmo foi citado em uma matéria da Certified Humane Brasil, “Com base no conhecimento sobre fisiologia e comportamento animal deve-se considerar sempre que eles devem ter acesso à sombra nos períodos mais quentes do dia/ano para a manutenção da produtividade, mesmo para as espécies e raças adaptadas a regiões tropicais” (Cattani, 2020).

CONCLUSÃO

Apenas soltar as aves nos piquetes não significa que é proporcionada uma condição de conforto, e nos momentos de maior intensidade de radiação solar é necessário o fornecimento de áreas de sombreamento nos piquetes, sendo a sombra natural das árvores o mais indicado nessa situação e trazendo a interação de sistemas sustentáveis e duráveis.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARTZIKE, G. B; DA SILVA, E. A. S; HIRATA, A. K.; NUNES, K. C.; ALICE EIKO MURAKAMI, A. E. 2019. Bem-estar animal na produção de aves de postura: sistema Cage-Free. Anais do 2ª Semana Integrada de Zootecnia. Maringá,PR. p.106-111.
BESTMAN, M. 2014. Managing Free-range Laying Hens. Low Input Breeds technical note. Disponível em:
<http://www.lowinputbreeds.org/fileadmin/documents_organicresearch/lowinputbreeds/tn-4-5-bestman-2014-free-range-hens.pdf> Acesso em: 30 de março de 2020.
CATTANI, P. R. 2020. CERTIFIED HUMANE BRASIL. Disponível em: <https://certifiedhumanebrasil.org/entenda-como-o-calor-influencia-no-bem-estar-animal-e-sua-produtividade/> Acesso em: 04 de março de 2020.
DA SILVA, R.G.; MAIA A.S.C. 2013. Basic physical mechanisms: Radiation p.39-50. Em: Principles of animal biometeorology. Springer, London, UK.
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HFAC. Humane Farm Animal Care, Referencial de Bem-estar Animal. 2018. Sistema de criação a pasto, free-range e caipira, colonial ou capoeira. p.13-16. Em: Padrões da HFAC para a produção de Galinhas Poedeiras. Disponível em: <http://materiais.certifiedhumanebrasil.org/agradecimento-normas-especiegalinhas-poedeiras.pdf >. Acessado em: 02 de abril 2020.
INMET. Instituto Nacional de Meteorologia. 2020. Disponível em: <http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=bdmep/bdmep> Acesso em: 25 de março de 2020.
MOLENTO, C.F.M. 2005. Bem-estar e produção animal: aspectos econômicos – Revisão. Archives of Veterinary Science, v. 10, n. 1, p.1-11.
MÓS, J.V.N.; NASCIMENTO, S. T.; MURATA, L. S.; Dos SANTOS, V. M.; STEIDE NETO, A. J.; De OLIVEIRA, E. M.;
LISBOA, A. S.; SILVA, L. F. 2020. Thermal comfort of sows in free-range system
in Brazilian Savanna. Journal of Thermal Biology. ed. Elsevier. v. 88. p.1-8.
THIMOTHEO, M. Duração da qualidade de ovos estocados de poedeiras criadas no sistema “cage-free”. 2016. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias. Jaboticabal, SP. p.55.
UBABEF – União Brasileira de Avicultura. 2008. Protocolo de bem-estar para aves poedeiras. Disponível
em:<http://www.avisite.com.br/legislacao/anexos/protocolo_de_bem_estar_para_aves_poedeiras.pdf >. Acessado em: 26 março 2020.
YILMAZ DIKEMEN, B.; ÍPEK, A.; SAHAN, Ü.; PETEK, M. E SÖZCU, A. 2016. Egg production and welfare of laying hens kept in diferente housing system (conventional, enriched cage and free range). Poultry Science, 95. v.7. p.1564-1572.

DESCRITIVO DOS AUTORES

MSc. Evandro Menezes de Oliveira é Zootecnista, doutorando na Universidade Estadual de Maringá – UEM, Paraná. O Foco das suas pesquisas são em Biometeorologia, Fisiologia e Bem-estar para animais de produção. Membro do grupo de pesquisa “A Biometeorologia Aplicada ao Cerrado Brasileiro – BioCer”.

João Victor do Nascimento Mós é Engenheiro Agronomo, mestrando na Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília – UnB, Distrito Federal. Membro do grupo de pesquisa “A Biometeorologia Aplicada ao Cerrado Brasileiro – BioCer”.

Gabriel da Silva Oliveira é Agroecólogo, mestrando na Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília – UnB, Distrito Federal. Membro do grupo de pesquisa “A Biometeorologia Aplicada ao Cerrado Brasileiro – BioCer”.

Amanda Azevedo Rodrigues de Souza é aluna do curso de Agronomia na Universidade de Brasília – UnB, Distrito Federal. Membro do grupo de pesquisa “A Biometeorologia Aplicada ao Cerrado Brasileiro – BioCer”.

Dr. Vinícius Machado dos Santos é Zootecnista, professor de Produção de aves e Avicultura Alternativa no Instituto Federal de Brasília – IFB, Campus Planaltina, Brasília, Distrito Federal. Membro do grupo de pesquisa “A Biometeorologia Aplicada ao Cerrado Brasileiro – BioCer”.

Dra. Sheila Tavares Nascimento é Zootecnista, professora de Biometeorologia e Nutrição de monogástricos na Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária – FAV, da Universidade de Brasília – UnB, Distrito Federal, Brasília. Coordenadora do grupo “A Biometeorologia Aplicada ao Cerrado Brasileiro – BioCer”.

 

 

 

 

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