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Recebimento de pintos matrizes: considerações para otimizar a uniformidade do lote

Escrito por: Fabiano Gomes Gonçalves - Zootecnista com mestrado em Ciências Veterinárias e MBA em Gerência de Produção e Tecnologia, supervisor regional de Serviços Técnicos – Aviagen Brasil
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Recebimento de pintos matrizes: considerações para otimizar a uniformidade do lote

 

O processo de produção de matrizes apesar de ser longo, aproximadamente 66 semanas (recebimento ao descarte), pode ser dividido em períodos para melhor entendimento e condução das etapas de criação, sendo:

Cada uma dessas etapas envolvem uma série de cuidados que objetivam a melhor formação e manutenção de um escore corporal ideal para otimizar o potencial genético da ave matriz. No entanto, torna-se necessário pensar, não apenas em uma só ave, mas numa população que pode chegar a 100 mil aves num mesmo lote, sendo fundamental manter uma máxima uniformidade desde o recebimento do lote.

Para que se tenha uma boa uniformidade, o manejo do período anterior é de suma importância para a uniformidade do período posterior, por exemplo: um bom recebimento com aves de origem de mesmo peso de ovo, ou separado por categoria de peso de ovo, e com bom manejo inicial contribuirá para uma boa uniformidade aos 7 dias favorecendo a uniformidade às 4 semanas auxiliando na manutenção da curva de crescimento até a fase seguinte. Lembrando sempre de atingir os pesos alvos preconizado pela linhagem em todas as etapas de criação.

Boas condições de alojamento das matrizes é de extrema importância para se obter boa uniformidade, ou baixo coeficiente de variação, ao decorrer de todo o período produtivo do lote. Um bom manejo inicial estimula o consumo de alimento, o desenvolvimento intestinal otimizando o tamanho de carcaça.

 

Pré recebimento das aves

Consiste em preparar o aviário para o alojamento das aves, todas as instalações e equipamentos devem estar limpos, funcionando e desinfetados de acordo com as normas sanitárias de cada companhia. As condições ambientais devem ser checadas e testadas pelo menos 24 horas antes do alojamento, assim como a montagem dos pinteiros já finalizada com as corretas proporções dos equipamentos em relação ao número de pintos a serem alojados.

 

Controle ambiental: temperatura e umidade

Cada dia de desenvolvimento da ave demanda sua própria zona de termoneutralidade ideal sem que haja nenhum desperdício de energia, seja para compensar o frio ou para acionar seu sistema de refrigeração, proporcionando ao animal utilizar melhor a energia e os nutrientes dos alimentos maximizando seu desenvolvimento muscular, esquelético, imune e cardiovascular. Antes do alojamento das aves tanto o ambiente quanto a cama devem apresentar temperaturas que atendam sua zona de conforto, sendo: temperatura de cama entre 28 e 30ºC, temperatura ambiente entre 30 e 32ºC e umidade relativa do ar entre 60 e 70%. É necessário aquecer o ambiente o tempo necessário para que se tenha temperatura correta de cama.

A temperatura de cloaca é um indicador importante para mensurar se as aves estão em zona de conforto, sendo o ideal entre 39,4 e 40,4ºC. Outro indicador importante e muito prático de mensurar as condições de alojamento é o monitoramento do consumo por meio do teste do papinho, quanto maior o % de aves apresentando papo cheio, melhor estará o lote (Figura 01).

Figura. 01: Ilustração da medição da temperatura de cloaca e teste do papinho. Fonte: Aviagen (2017). Recebimento de pintos matrizes: considerações para otimizar a uniformidade do lote

A correta temperatura de cama é o principal responsável pela manutenção da temperatura corporal e da expressão do comportamento alimentar. De acordo com uma publicação da Embrapa (Quadro 01) pode-se observar a redução do % de aves com patas frias após 3 horas de alojamento e o aumento do % de pintos com papo cheio quando a temperatura de cama aumenta de 18ºC para 26ºC devido ao aumento do tempo de aquecimento da cama de 2 para 18 horas.

Quadro 01: % de aves com papo cheio e patas frias após aquecimento da cama
Tempo de aquecimento Temperatura da cama Papo cheio apó 3 horas Patas frias após 3 horas
2 horas 18°C 65% 90%
18 horas 26°C 96% 2%

 

 

 

 

 

Por meio de câmera termográfica se evidencia de maneira clara a diferença de temperatura entre aves no momento do alojamento e após período de permanência sobre cama fria, demonstrando maior perda de calor pelos pés (Figura 02).

Figura 02: Ave da esquerda com temperatura de pata em 38-39º no momento do alojamento e ave da direita após alojamento sob cama fria com 28-29ºC. Recebimento de pintos matrizes: considerações para otimizar a uniformidade do lote

 

Em trabalho realizado em granja teste da Aviagen em Huntsvile, EUA, avaliou-se resultados de desempenho aos 7 dias entre aves alojadas sobre diferentes temperaturas de cama, observou-se melhor peso, maior GAD e menor conversão alimentar com menor coeficiente de variação nas aves alojadas em cama de temperatura de 30ºC comparadas com aves alojadas em cama com temperatura de 25ºC (Quadro 2).

Quadro 02: Resultados de 7 dias de pintos alojados sobre diferentes temperaturas de cama.  Aviagen (2015) – Dados não publicados
Temperatura Cama 25°C 30°C Diferença
Peso 7 dias 151 g 165 g +14 g
GPD 51,5 g 53 g + 1,5g
CV (%) 12 9 – 3%
CAA 1,5 kg 1,48 1,45 -30 g

 

 

Disponibilidade de água:

Entre os fatores que mais interferem no consumo de água pelas matrizes a temperatura da água exerce grande influência, principalmente nos pintinhos de 1 dia. Segundo Penz (2019) o impacto sobre o ganho de peso aos 7 dias em pintinhos que consomem água com temperatura mais elevada é maior negativamente do que em pintos que consumiram água mais fria (Quadro 03).

Quadro 03: Impacto da temperatura da água sobre o ganho de peso aos 7 dias  Fonte: Mario Penz (2019)
Temperatura Peso alojamento Peso 7 dias Potencial de ganho
4,4°C 46,5 g 187 g 4,02
21,1°C 47,4 g 188 g 3,96
37,8 °C 46,7 g 167 g 3,57

 

 

Normalmente nos primeiros dias de vida onde a temperatura ambiente é alta, a temperatura da água nas linhas de bebedouros pode aumentar significativamente. Em casos extremos de altas temperaturas na área do pinteiro os pintos entram em estresse por calor, não ingerem água devido à alta temperatura podendo apresentar quadro de desidratação. A realização do flushing, que consta da retirada da água quente das linhas de bebedouro, e monitorar a temperatura da água várias vezes ao dia são de grande importância para otimizar o consumo.

Cuidados adicionais como monitorar a qualidade microbiológica da água, cloração (3 a 5ppm), controle de pH (6 a 9) e checagem da vazão dos bebedouros também devem ser priorizados. No momento do alojamento objetiva-se de 40 a 50 ml/minuto nos bebedouros nipples. Vale ressaltar a correlação que existe entre o consumo de água e o consumo de ração, portanto, toda restrição de água vem acompanhada da perda de desempenho inicial dos pintinhos.

A disponibilidade de água dependerá da relação correta de aves/ bebedouros, da altura do nível da água, da vazão e da temperatura da água. No quadro 04 pode-se observar uma indicação de como calcular a relação para os bebedouros na área do pinteiro e sobre a regulagem destes.

BEBEDOUROS
Quadro 04: Sugestão de relações de bebedouros para matrizes – fase de alojamento Fonte: Aviagen (2017)
Tipo de Bebedouros Aves/quipamento Regulagem
Nipple 1 para cada 25 pintinhos Vazão de 40-50 ml/min
Infantil 1 para cada 100 pintinhos Água rente a borda
Suplementar 1 para cada 50 pintinhos Água rente a borda

 

 

 

Disponibilidade de ração:

No nascimento do pintinho, alterações fisiológicas no intestino permite que a dieta passe de uma fonte essencialmente lipídica (gema) para uma dieta com carboidratos. Essas alterações ocorrem no duodeno, no jejuno e no íleo incluindo basicamente a diferenciação dos enterócitos e a definição das criptas, bem como, o grande aumento da superfície absortiva (Sklan, 2001) e demoram 2 a 3 dias para serem completadas (Vieira, 2004).

O crescimento do vilo no pintinho é estimulado pela presença do alimento no lume intestinal e envolve a produção de células nas criptas que atingem a maturidade ao migrarem ascendentemente pelo vilo (Moran Jr., 1985). Segundo Fairchild (2002), vários fatores podem influenciar a taxa de maturação intestinal, incluindo estresse, estado de saúde e disponibilidade de nutrientes. O desenvolvimento intestinal pode limitar o crescimento da ave matriz na primeira semana de vida e fatores como atraso no fornecimento da alimentação pode retardar o desenvolvimento do sistema gastrointestinal na ave jovem tendo efeito negativo sobre o desempenho (Dibner 2004). O acesso ao alimento aumenta consideravelmente a altura do vilo, enquanto que a privação prejudica o desenvolvimento do vilo e diminui o tempo de turnover das células epiteliais (Uni et al., 1995a).

Com base nisso, o fornecimento precoce de alimento logo nas primeiras horas de vida torna vital para o ganho de peso inicial da ave. Portanto, já no recebimento, no momento da soltura dos pintinhos, tanto água quanto ração já devem estar disponíveis para o consumo.

O fornecimento de ração no papel é uma ótima opção para otimizar o consumo nas primeiras horas após alojamento. Recomenda-se arraçoar no papel a cada 2 horas nos três primeiros dias estimulando as aves com o movimento e distribuição da nova ração. O importante é distribuir a ração várias vezes ao dia com pouco volume de ração, pode-se considerar 10g/ave/dia no primeiro dia, sendo sugerido, no mínimo, 70 % da área de piso forrado com papel.

Na Figura 3, pode-se observar a diferença entre o número de aves consumindo sobre o papel recém abastecido com ração (papel da esquerda) e o nº significativamente menor de aves sobre o papel da direita, ainda sem ração.

Figura 3: Comparativo de consumo de ração sobre o papel. Recebimento de pintos matrizes: considerações para otimizar a uniformidade do lote

 

Ao realizar o teste do papinho 24h após o alojamento, Pedroso et al. (2016) encontrou presença de alimento no papo em 96% das aves quando estimuladas com ração no papel, contra 86% dos que não tiveram estímulos com o uso do papel, o peso de 7 dias foi 4% maior além do peso de moela, fígado e intestinos apresentarem em média 1,2% mais pesados nas aves estimuladas com ração no papel.

A disponibilidade de ração dependerá da relação correta de aves/ comedouros, da altura dos comedouros e da utilização ou não de papel. No quadro 05 pode-se observar uma indicação de como calcular a relação para os comedouros na área do pinteiro e sobre a regulagem destes.

COMEDOUROS
Quadro 05: Sugestão de regulagem e relações de comedouros para matrizes – fase de alojamento. Fonte: Aviagen (2017)
Tipo de comedouro aves/equipamentos Regulagem
Automático 1 para cada 60 pintinhos Ração rente a borda
Infantil 1 para cada 80 pintinhos Ração rente a borda

 

 

 

Independente do layout de alojamento (Figura 04), tanto a relação de comedor por aves quanto de bebedor por aves deve sempre vir acompanhada pela densidade de alojamento que poderá variar de 45 a 55 pintos/m², com o passar dos dias essa densidade reduz devido ao aumento gradual da área do pinteiro, devendo ser ajustado o número de comedouros e bebedouros de forma que todas as aves tenham acesso simultâneo ao alimento. A distribuição do alimento deve ser acompanhada diariamente pelo pessoal técnico.

Figura 04: Diferentes layouts de alojamentos. Recebimento de pintos matrizes: considerações para otimizar a uniformidade do lote

 

Programa e intensidade de luz para fase inicial:

Durante os dois primeiros dias após alojamento, as aves devem receber 23 horas de luz e 1 hora de escuro por dia. Isso ajudará a desenvolver o apetite e a promover a atividade de alimentação. Após o terceiro dia o fotoperíodo deve ser gradualmente reduzido para 8 horas ao 10º dia de idade. A intensidade da luz na área de cria durante os primeiros 7 dias deve ser de 80 a 100 lux a fim de garantir que as aves encontrem a ração e água.

 

Ventilação: Finalidades

A ventilação adequada garante o conforto, o desempenho biológico ideal, a saúde e o bem-estar das aves. Durante períodos de clima frio, o objetivo da ventilação (Figura 05) é fornecer troca de ar suficiente para remover o excesso de umidade e manter a qualidade do ar, mantendo ao mesmo tempo a temperatura do aviário no nível desejado (também conhecido como o ponto de ajuste, ou a temperatura que mantém as aves na sua zona de conforto), muito importante nos primeiros dias de vida.

Durante períodos de clima quente e/ou úmido, o objetivo da ventilação é remover o excesso de calor e fornecer o resfriamento através do efeito de resfriamento pelo vento, criado pelo movimento do ar e resfriamento evaporativo. No entanto, é importante evitar correntes de ar sobre os pintinhos, a velocidade real do ar ao nível dos pintos jovens deve ser inferior a 0,15m/s;

Figura 05: Propósitos da ventilação  Fonte: Aviagen 2020. Recebimento de pintos matrizes: considerações para otimizar a uniformidade do lote

Recebimento das aves:

– Segundo Tullett & Burton (1982), a variação no peso do pinto no momento do nascimento decorre, dentre outros fatores, do peso inicial do ovo. Portanto, alojar de acordo com a categoria de peso de ovos torna-se um importante caminho para atingir boa uniformidade na fase seguinte de criação. Por exemplo: ovos de 65g darão origem a pintos maiores que ovos de 55g, esses pintos devem ser alojados separadamente de acordo com a informação enviada pelo incubatório da empresa de genética.

No momento da soltura das aves recomenda-se evitar manter portas abertas, evitando correntes de vento. Ao retirar os pintinhos das caixas é importante não arremessar as aves ao chão, o ideal é que se mova as aves para uma lateral da caixa e vire-a em seguida mantendo-a em contato com o piso. Isso pode evitar lesões tanto articulares quanto em órgãos vitais que poderão se manifestar longo da vida da ave impactando de forma negativa na viabilidade. Considerando altura do pintinho de 6cm e a distância aproximada entre a caixa e o piso de 65cm, a ave é arremessada em queda livre mais de 10 vezes sua altura!

Figura 06: Soltura das aves. Recebimento de pintos matrizes: considerações para otimizar a uniformidade do lote

 

As condições adequadas de alojamento são importantes para o bom desenvolvimento inicial dos pintinhos. A utilização de equipamentos corretos pode auxiliar com precisão as condições em que os pintinhos são alojados. Segue abaixo uma lista de equipamentos que podem ser utilizados para monitorar as condições do manejo:

Esses equipamentos servem, principalmente e fundamentalmente para quantificar e tornar as informações palpáveis. No entanto, não são suficientes para se obter sucesso no processo, sendo as observações e ações do pessoal técnico/manejador essenciais para isso, devendo fazer valer dos 5 sentidos:

Audição: Prestar atenção aos sons emitidos pelas aves e sua respiração, assim como nos sons mecânicos;

Olfato: Atentar para cheiros no ambiente, tais como os de Amônia e poeiras.

Visão: Observar o comportamento das aves, distribuição no aviário e número de aves se alimentando, bebendo e em repouso.

Paladar: Atentar para qualidade da ração e da água.

Tato: Pegar as aves para avaliar as condições gerais.

 

Comportamento das aves

De maneira geral, a temperatura, a umidade e a ventilação devem ser monitoradas regularmente, embora o melhor meio de verificar se as condições de criação estão corretas seja a observação frequente e cuidadosa do comportamento das aves. O lote precisa estar bem distribuído na área de alojamento, independentemente do tamanho da área de alojamento, devem haver aves consumindo ração, água, aves dormindo e aves se movimentando. O comportamento das aves é o único modo efetivo para determinar se o ambiente de criação está correto.

Se o comportamento das aves (Figura 07) indicar que são necessárias alterações no ambiente, estas deverão ser feitas para garantir que as aves estejam o mais confortável possível e não fiquem expostas a extremos ambientais.

Figura 07: Comportamento das aves  Aviagen 2020. Recebimento de pintos matrizes: considerações para otimizar a uniformidade do lote

 

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