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Resistência antimicrobiana, uma ameaça para o futuro

Escrito por: Vitor Fascina e Ana Paula Assef - Vitor Fascina, Gerente de Especialidades para Eubióticos da Royal DSM para a América Latina, e Ana Paula Assef, chefe do Laboratório de Pesquisa em Infecção Hospitalar, do Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ.
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resistência antimicrobianaA resistência antimicrobiana é um dos temas mais importantes e mais urgentes do setor, já que a produção animal tem relação direta com os alimentos que consumimos. A saúde dos animais, que muitas vezes é influenciada pelas mudanças climáticas, impacta a sociedade como um todo.

Dentro deste cenário global, o conceito One Health (Saúde Única, em português) foi criado para ajudar neste combate, mas não é recente.

 

 

 

Foi formulado no início da década de 2000 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) e Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) com o objetivo de trabalharem de forma integrada no equilíbrio entre a saúde humana, a saúde animal e a do meio ambiente.

O conceito inclui recomendações para todas as etapas da cadeia produtiva, desde a produção dos alimentos até o processamento e o varejo.

Vitor Fascina, Gerente de Especialidades para Eubióticos da Royal DSM para a América Latina, e Ana Paula Assef, chefe do Laboratório de Pesquisa em Infecção Hospitalar, do Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ, membro da Câmara Técnica de Resistência Microbiana, da Anvisa, e especialista em resistência aos antimicrobianos, contam sobre esta relação direta da produção animal com a saúde humana na resistência aos antimicrobianos e qual o futuro que a sociedade pode esperar daqui por diante.

VITOR, É POSSÍVEL DIMINUIR O USO DE ANTIBIÓTICOS NA PRODUÇÃO ANIMAL PARA QUE TENHAMOS UM FUTURO MAIS SUSTENTÁVEL?

Vitor Fascina: Sim, é possível. Já estão disponíveis para uso aditivos para ração que melhoram a saúde intestinal e o crescimento dos animais, como os eubióticos e as enzimas alimentares, sendo então perfeitamente possível garantir uma alimentação e uma nutrição adequada para os animais, ao mesmo tempo que se melhora a digestibilidade, garantindo produções cada vez mais sustentáveis.

Além disso, com uma prática de manejo adequada e uma boa gestão da saúde animal é possível prevenir doenças e, assim, diminuir o uso de antibióticos no tratamento dos animais.

ANA, UM DOS CONCEITOS QUE GANHOU CORPO NOS ÚLTIMOS ANOS É O DE ONE HEALTH, O SAÚDE ÚNICA, EM PORTUGUÊS, QUE TRATA DE FORMA INTEGRADA A SAÚDE HUMANA E ANIMAL. POR QUE TRATAR OS DOIS DE FORMA CONJUNTA É ESSENCIAL PARA UM FUTURO MAIS SUSTENTÁVEL?

Ana Paula Assef: O conceito de Saúde Única influencia toda a cadeia produtiva e a sociedade como um todo. Antigamente, toda a comunidade médica e científica, achava que apenas os antibióticos para o tratamento das infecções, seriam os responsáveis pelo aumento dessa resistência bacteriana.

No entanto, ao longo do tempo, temos visto cada vez mais que a utilização de antibióticos, tanto para tratar as infecções humanas como também dos animais, influencia enormemente no aumento da resistência de forma global.

Logo, a utilização de antibióticos tanto nos animais, quanto nos seres humanos, aumenta a pressão e a resistência das bactérias, levando a um problema que estamos enfrentando atualmente e que pode se tornar maior se não fizermos nada no futuro.

VITOR, NA SUA OPINIÃO, O QUE É PRECISO SER FEITO NA PRÁTICA PARA DIMINUIR O USO DESSES ANTIBIÓTICOS?

VF: É necessário a adoção de novas tecnologias para substituir os antibióticos promotores de crescimento e reduzir o uso excessivo de antibióticos na produção animal. Alguns países já possuem políticas para combater, ou mesmo proibir o uso de antibióticos na produção animal, como é o caso dos países membros da União Europeia.

No entanto, apesar dessa evolução, a ONU prevê um aumento de 67%, até 2030 do volume global de antibióticos na produção animal.

No Brasil, o Ministério da Agricultura tem trabalhado para se adequar quanto ao uso das moléculas promotoras de crescimento. Em 2007, por exemplo, foi restringido o uso combinado de antibióticos de amplo espectro — gram positivo e gram negativo — como promotores de crescimento.

Posteriormente, em 2016, ocorreu a proibição do uso de sulfato de colistina como dose promotora e, recentemente, por meio da Instrução Normativa no 1, de janeiro de 2020, atendendo as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), houve a proibição de mais algumas moléculas, como a tilosina, lincomicina e tiamulina como promotoras de crescimento.

Além disso, é fundamental estarmos atentos às práticas de manejo como ferramentas alternativas para combater essa ameaça global.

 

Tendo uma prática de manejo adequada e uma boa gestão da saúde animal, é possível prevenir doenças e, logo, a diminuição, ou mesmo a extração do uso de antibióticos.

ANA, E COMO A DIMINUIÇÃO DO USO DE ANTIBIÓTICOS NA PRODUÇÃO ANIMAL BENEFICIA A SOCIEDADE COMO UM TODO?

AP: Tanto o controle, quanto a diminuição no uso de antibióticos é fundamental para todas as frentes. Na produção animal, quanto menos antibiótico usarmos nesta produção, menor será a pressão nas bactérias.

Todos os animais, sejam aves, suínos, peixes e outros, possuem uma microbiota, composta por bactérias sensíveis extremamente importantes para todos os seres vivos e que oferecem diversos benefícios.

No entanto, essas bactérias sofrem a pressão dos antibióticos. Quando utilizamos antibióticos, matamos as bactérias sensíveis desta microbiota e as bactérias resistentes permanecem, colonizando esses animais.

Ou seja, quanto menos antibiótico utilizarmos nesta produção, menor será a pressão na microbiota animal e mais sustentável a produção animal.

Para concluir, diminuir o uso de antibióticos na produção animal, reduz o risco de contrair uma doença vinda a partir de uma bactéria resistente que possa ter vindo de um animal e, ao mesmo tempo, teremos proteínas muito mais saudáveis e nutritivas, com menos antibióticos e menos bactérias.

Este conteúdo está disponível, na íntegra no podcast ‘Alimentando o Futuro’, da DSM, nas principais plataformas de podcast e também no QR Code.

 

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