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Sanidade, risco e segurança alimentar: o que a Influenza Aviária ensina ao setor produtivo

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Sanidade, risco e segurança alimentar: o que a Influenza Aviária ensina ao setor produtivo

Com base em análises técnicas, projeções sanitárias e evidências científicas, especialistas debatem a influenza aviária sob a ótica da prevenção, comunicação de risco e segurança no consumo de alimentos. A confirmação da Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP) em uma granja de reprodutoras no Rio Grande do Sul, em 16/05/2025, trouxe à tona reflexões essenciais para o setor produtivo avícola.


Mais do que lidar com o episódio em si, o desafio está em entender o contexto sanitário, as medidas preventivas necessárias e — talvez o ponto mais sensível — a forma como riscos devem ser comunicados de maneira eficaz.

Durante a live técnica realizada pela aviNews Brasil, o tema foi abordado sob três ângulos principais, proporcionando uma discussão ampla e esclarecedora sobre o assunto.

A moderação ficou a cargo de Priscila Beck, jornalista e diretora de comunicação do grupo, que conduziu o evento com expertise, garantindo que os especialistas pudessem expor suas análises de forma clara e objetiva. A conversa trouxe insights valiosos, contribuindo para um entendimento aprofundado do tema e promovendo um debate construtivo entre os participantes.

Planejamento baseado em cenários


“Evitar que a doença chegasse a uma granja comercial era o ideal. Mas nós sabíamos que, cedo ou tarde, iria acontecer”, alertou o professor Luis Corbellini, que coordenou um trabalho com a Secretaria da Agricultura do RS em 2023, projetando possíveis cenários de ocorrência da IAAP no Brasil.

Segundo ele, o desafio real não está no primeiro foco, mas no que virá adiante. “Hoje é uma granja, controlada. Amanhã podem ser dez. A gestão de risco precisa antecipar esse tipo de complexidade”, salientou.

Corbellini defende que a análise de risco não pode ser encarada como um relatório pontual, mas como uma política de Estado.

“A Lei 14.515 já estabelece que a análise de risco será instrumento de fiscalização. Mas ainda falta coordenação interinstitucional, comitês técnicos ativos e planos permanentes que integrem biosseguridade, vigilância e comunicação”, reforçou.

Comunicar risco é comunicar ciência

Outro ponto central da fala de Corbellini foi a diferenciação entre “risco real” e “risco percebido”.

Citando o autor Paul Slovic, ele destacou que, mesmo diante de um risco sanitário estatisticamente insignificante (como o consumo de carne de frango em áreas com foco de IAAP), a percepção pública pode provocar quedas abruptas de consumo e desgaste de imagem para o setor.

“Por isso, a comunicação de risco deve ser estratégica, multidisciplinar e constante — não pode ser acionada apenas na crise”, salientou.

Segurança alimentar: o que a ciência diz

O professor Luciano Bersot reiterou o que já é amplamente defendido por órgãos internacionais de saúde: não há evidência científica de que o vírus H5N1 possa ser transmitido pelo consumo de carne ou ovos, desde que devidamente preparados.

Ele destacou que o vírus H5N1 características do vírus que reduzem significativamente o risco de transmissão por alimentos preparados de forma adequada.

“É um vírus envelopado, muito sensível a calor e a fatores do próprio trato digestivo humano, como pH gástrico e enzimas. Mesmo um alimento não perfeitamente cozido tende a oferecer risco muito baixo”.

Em sua análise, Bersot citou um estudo canadense de 2024 sobre a termorresistência do H5N1.

“Temperaturas de 63°C já mostram inativação do vírus, e os padrões recomendados de cocção estão acima disso — como 74°C. O problema não está no frango cozido, está no frango mal manipulado ou cru em ambientes sem higiene”, disse.

Ele também criticou o foco excessivo no H5N1 como “vilão”.

“Estamos deixando de falar de Salmonella, E. coli, Campylobacter — esses sim, patógenos clássicos de transmissão alimentar. A influenza aviária não está entre eles”, alertou.

Regionalização, acordos e diplomacia sanitária

A diretora técnica da ABPA, Sula Alves, explicou que as suspensões de exportações que se seguiram à notificação do foco em Montenegro (RS) já estavam previstas nos acordos sanitários firmados com diversos países.

“São cláusulas automáticas, e a maioria dos mercados segue esse padrão. O trabalho da ABPA e do MAPA tem sido de longo prazo, negociando termos de regionalização desde 2019, prevendo esse tipo de cenário”, salientou.

Sula destacou que, após o episódio de Newcastle no RS, foi possível evoluir nos protocolos com vários parceiros comerciais.

“Hoje, muitos países já aceitam zona de controle, e não mais o bloqueio nacional. Mas outros, como a China, ainda exigem negociações diplomáticas específicas, que estão em andamento.”

O futuro é integrado e comunicável

A união entre previsibilidade, ciência e comunicação clara foi o ponto comum entre todos os especialistas. A Associação Brasileira para a Proteção dos Alimentos, da qual Bersot faz parte, tem atuado como ponte entre a academia e a indústria, produzindo material técnico de fácil acesso e organizando ações conjuntas com outras instituições.

“O consumidor não quer alarmismo, mas também não aceita omissão. O setor precisa se posicionar com clareza e consistência”, reforçou Bersot.

ACESSE O PLANO DE CONTINGÊNCIA

Quer entender como o Brasil está preparado para enfrentar novos focos de IAAP? Acesse aqui: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/sanidade-animal-e-vegetal/saude-animal/programas-de-saude-animal/pnsa/influenza-aviaria/manuais-planos-e-notas-tecnicas 

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