O debate mundial pós pandemia do novo coronavírus deverá se voltar à segurança dos alimentos, segundo o professor de agronegócio do Insper e especialista em comércio internacional, Marcos Jank. Em Live no Instagram da revista aviNews Brasil, no dia 22/4, ele destacou que a preocupação com a sanidade e qualidade dos alimentos (Food Safety) deverá ocupar o espaço do atual debate acerca de volume de produção (Food Security).
Jank, que passou dez anos na Europa, Estados Unidos, Ásia e possui vasta experiência com organizações multilaterais, governos, associações, líderes empresariais e ONGs, destaca três pontos nesse debate: regulação de mercados frescos (Wet Markets),rigidez na aplicação das legislações sanitárias e implementação da integração na estrutura organizacional da cadeia produtiva.
“O Brasil deve liderar o debate global sobre os temas de Food Safety, ajudando a promover transformações profundas pelo mundo afora”, salientou Jank. “Seguimos as regulamentações mais exigentes de inúmeros países que são nossos clientes, possuímos grande experiência no modelo de integração produtor – indústria, com olhar muito clínico nos mercados tradicionais de produtos frescos”, completou.
O professor defende que a preocupação com sanidade deve estar presente em todas as fases da cadeia de produção de alimentos, desde a granja, processamento, transporte, armazenagem, comercialização, até junto ao consumidor.
“Não dá para você ter controle sanitário lá na granja e depois vender os animais em mercados que não têm controle nenhum”, alertou Jank, referindo-se aos Wet Markets, onde hoje animais vivos e silvestres são vendidos junto com alimentos. “Na hora que você bota tudo isso no mesmo espaço, vira um problema de risco biológico muito grande, de zoonose, de um monte de coisas”, completou.
No que se refere à estrutura organizacional em integração, Jank defende que é um sistema que viabiliza maior controle de sanidade e nutrição dos animais. “A indústria está dentro das granjas controlando nutrição, sanidade, qualidade dos animais”, salientou. “Lá fora esse sistema ainda é muito falho”, completou.
Onde o Brasil precisa melhorar
Segundo o professor Marcos Jank, a legislação sanitária brasileira é muito melhor do que as de outros países que conheceu durante sua vida profissional, porém, o Brasil deve reconhecer suas fragilidades e atacá-las.
Um dos pontos destacadas por Jank é o envelhecimento da legislação sanitária do Brasil. Segundo ele, o escopo legal brasileiro é confuso, com diferentes padrões em três níveis (federal, estadual e municipal).
“Somos o maior exportador de carnes bovina e de aves do mundo e o quarto maior exportador de carne suína”, salientou Jank. “A gente tem que adaptar a legislação sanitária às aplicações, à fiscalização, às auditorias para o mundo pós COVID-19, que será outro nessa área”, completou.
O professor também defendeu a ampliação de controles sanitário nas fronteiras que o Brasil possui com dez países sul-americanos, assim como em portos e aeroportos.
“Se a humanidade não conseguir olhar quais são os pontos de fragilidade que existem nas cadeias produtivas e eliminar todos os riscos, a gente vai ter outras coisas semelhantes, ou piores que essa crise, que é horrorosa”, alertou.
Durante a live, o professor Marcos Jank falou ainda sobre os desafios futuros nas relações comerciais no mundo pós pandemia, entre eles, as expectativas sobre como ficarão os acordos entre Estados Unidos e China, entre outros temas.
“É curioso, porque nos últimos tempos, eu que acompanho o negócio global há três décadas, nunca vi tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo e coisas de tamanha gravidade”, salientou Jank durante a entrevista. Ele referiu-se à epidemia de Peste Suína Africana na China, a própria pandemia do novo coronavírus, além da guerra comercial entre Estados Unidos e China.
Confira a íntegra da Live no Instagram com o professor Marcos Jank!