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Sistemas de nebulização reduzem a temperatura do peito nos frangos?

Escrito por: Brian Fairchild , Mike Czarick
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Conteúdo disponível em: Español (Espanhol)

O desafio para avicultores em climas calorosos é retirar o ar quente da região entre as aves, para evitar que a temperatura do ar seja excessivamente elevada e, mais importante, retirar o calor das aves para evitar que sua temperatura corporal se eleve excessivamente.

A área mais quente de um galpão avícola com frangos em idade de abate, num dia de verão, não é a cobertura, mas sim o nível onde se encontram as aves. Um galpão cheio de frangos de corte em idade de abate pode produzir uma grande quantidade de calor.

20 mil frangos de corte de 3,5 kg produzem aproximadamente a mesma quantidade de calor que 20 lâmpadas de infravermelho, 16 vezes mais calor que o que entra através da cobertura de um galpão avícola típico.

A grande quantidade de calor gerada próximo ao solo faz, facilmente, com que a temperatura do ar a esta altura esteja 2,8oC, ou mais, acima da temperatura perto do teto.

O desafio para avicultores em climas calorosos é retirar este ar quente da região entre as aves para evitar que a temperatura do ar seja excessivamente elevada e, mais importante, retirar o calor das aves para evitar que sua temperatura corporal se eleve excessivamente.

A melhor ferramenta que o avicultor possui para a dissipação do calor é o movimento do ar 

Quanto maior o movimento do ar próximo ao solo, mais calor será dissipado pelas aves, de maneira que ficarão mais frescas. O nível de resfriamento das aves que pode ser alcançado através do movimento do ar é determinado, em parte, pela superfície que está exposta ao ar.

Por exemplo, uma ave que se encontra de pé, isolada, terá movimento de ar praticamente por todo seu corpo (região dorsal, cabeça, flancos e região abdominal), maximizando a dissipação de calor e favorecendo seu esfriamento (Figura 1).

Figura 1. Imagem térmica de um galpão com baixa densidade de aves próximas aos ventiladores de túnel (mesmo galpão que o mostrado na Figura 2)

Ao contrário, uma ave que se encontra num grupo de alta densidade, só terá movimento de ar por cima da cabeça e região dorsal (Figura 2).

Figura 2. Imagem térmica de um galpão com alta densidade de aves próximas da área de entrada de ar (mesmo galpão que o mostrado na Figura 1)

Considerando que a superfície corporal da ave exposta ao movimento do ar é significativamente menor, a dissipação de calor é muito menor e a temperatura da ave aumentará.

Embora criar aves em densidades comerciais dificulte o movimento adequado do ar sobre toda sua superfície quando chegam à idade de abate, é ainda mais difícil quando ocorre uma migração até o extremo onde se encontram os paineis evaporativos.

Para garantir a máxima dissipação de calor em relação a todas as aves do galpão, é crucial instalar a quantidade correta de varas anti migratórias no momento e da forma adequada, de maneira que se consiga uma distribuição uniforme das aves por todo o galpão.

Mesmo nos galpões com o melhor manejo, a superfície da ave que normalmente fica exposta a menos movimento do ar é a região abdominal, ou do peito.

Os frangos de corte costumam permanecer sentados, ou deitados, durante grande parte do dia, especialmente quando têm mais idade.

A Figura 3 ilustra como a temperatura subcutânea do peito muda conforme as aves mudam de posição, passando de sentadas a em pé e vice-versa. Quando a ave estava sentada, a falta de movimento e o caráter isolante da cama levaram a um lento aumento da temperatura do ar durante um período de 30 minutos a 1 hora.

Quanto mais tempo permanecia sentada, mais a temperatura subcutânea do peito se aproximava da temperatura corporal profunda (42,2oC). O fato de que a temperatura subcutânea do peito aumenta indica a dissipação de pouco, ou nada de calor na região do peito.

Ao se colocar em pé, a temperatura do peito tendia a cair rapidamente de 40,5oC para 39,4oC.

A boa notícia é que, enquanto a temperatura do peito demora 30 minutos ou mais para aumentar até 1,7oC, pode diminuir ao nível inicial em poucos minutos após a ave se colocar em pé.

 

Figura 3. Temperatura corporal profunda e temperatura do peito

Quando a ave está sentada, não só anula-se o movimento em sua parte inferior, que representa uma porção significativa de sua superfície total, como a cama sobre a qual está sentada age como isolante térmico, evitando a dissipação do calor.

Quanto mais tempo permaneça sentada, mais aumentará a temperatura do peito da ave e da cama que está abaixo. Apenas quando estiver de pé começará a se mover o ar pela parte inferior, ajudando na dissipação do calor da região do peito e da cama.

Caminhar entre as aves em épocas de calor. Sim, ou não?

Durante anos se discutiu se é benéfico que os avicultores façam com que as aves levantem durante breves períodos de tempo, caminhando entre elas em épocas de calor.

Alguns opinam que o caminhar lentamente pelo galpão leva o calor acumulado sob as aves a se dissipar, refrescando-as. Além disso, caminhar entre as aves as incita a ingerir água e alimento.

Outros opinam que a probabilidade de que as aves se amontoem em torno das varas anti migratórias e do aumento da atividade levem à produção de calor, sendo mais prejudicial que benéfico. Por outro lado, muitos avicultores simplesmente não têm tempo de caminhar por todos os galpões de uma produção várias vezes durante a tarde.

Recentemente, alguns avicultores optaram por sistemas de aspersão, em parte com o objetivo de levantar as aves, sem os efeitos negativos de caminhar entre as mesmas.

As aves tendem a se levantar quando se coloca em funcionamento o sistema de nebulização, proporcionando um breve momento para que se esfrie a cama e o peito das aves.

Além disso, a partir do sistema de nebulização pode-se conseguir que as aves levantem-se várias vezes ao longo de 1 hora, sem ter que se preocupar com o seu amontoamento contra as varas anti migratórias, como ocorre quando se caminha pelo galpão.

Ainda que a ideia pareça boa, a questão é determinar se o sistema de nebulização realmente consegue reduzir a temperatura de peito em épocas de calor.

Foi realizado um estudo numa granja de frangos de corte para determinar a relação entre o uso dos nebulizadores e a temperatura subcutânea do peito em aves em idade de abate, em épocas quentes.

Instalou-se um sistema comercial de nebulizadores em dois galpões adjacentes de 12,8 x 152,4 m, com ventilação de túnel.

Registrou-se o consumo de água dos nebulizadores e por parte das aves, assim como a temperatura e umidade relativa do exterior e interior do galpão em intervalos de 1 minuto, durante os 11 últimos dias do lote de 60 dias.

Foram colocados micro sensores de temperatura em nível subcutâneo, próximo do osso da quilha, em 6 aves, 12 dias antes da data de apanha. Três aves foram colocadas em cada galpão, deixando que se movessem livremente.

Antes do abate, os micro sensores foram retirados e descarregados os dados em um computador. Ao analisar a informação coletada, descobriu-se que um dos sensores havia falhado, razão pela qual pode-se obter duas medições da temperatura subcutânea do peito em um dos galpões.

O sensor de temperatura de alta sensibilidade não só demonstrou ser um método para medir a temperatura do peito, como também foi útil para monitorar a atividade das aves.

Quando uma ave se encontra sentada tranquilamente, a temperatura do peito tende a aumentar lentamente, com poucas variações na temperatura.

Um vez que a ave fica em pé, ou simplesmente se reposiciona, a temperatura da superfície do peito diminui rapidamente em relação à temperatura da cama devido à exposição ao ar fresco.
Quanto mais tempo permaneça de pé, maior será a redução da temperatura na região do peito.

Como a temperatura do peito foi registrada em intervalos de 1 minuto, a atividade das aves, especialmente em resposta aos nebulizadores, pode ser monitorada durante cada minuto.

Sistema de nebulizadores

O sistema de nebulizadores funcionou durante a maior parte do tempo de acordo com as indicações do fabricantes.

O sistema de nebulização funcionava em modo de estimulação (10 segundos/hora), das 8h da manhã às 8h da noite, a partir dos 14 dias de idade (ocasionalmente foram realizados ajustes nas horas de funcionamento, conforme as aves iam crescendo).

Se a temperatura do galpão aumentava excessivamente (+6,6oC acima da temperatura desejada), os nebulizadores funcionavam em modo de esfriamento, pulverizando as aves durante 20 segundos, a cada 30 minutos.

À medida que a temperatura do galpão subia, aumentava-se a frequência de acionamento do sistema de nebulização +8,2oC, uma vez a cada 15 minutos, +10,4oC, uma vez a cada 5 minutos.

Os paineis evaporativos dos galpões estavam programados para operar +12,1oC acima da temperatura estabelecida como desejada no galpão. Idealmente, o sistema de paineis evaporativos só funcionava se a temperatura do galpão excedia os 31oC, porém devido às limitações do sistema de controle ambiental das aves, durante os últimos 10 dias do lote, os sistemas evaporativos operaram quando a temperatura estava abaixo dos 30oC.

Normalmente, quando se realiza um estudo de campo, trabalha-se com um galpão de teste e um galpão controle.

O problema deste método é que não só assume-se que ambos os galpões são totalmente idênticos, como também as aves.

No entanto, todos os avicultores sabem que, mesmo que todos os seus galpões pareçam idênticos e tenham as “mesmas” aves, a atividade e o rendimento das aves raramente são idênticos.

Para contrabalançar o “efeito galpão”, o sistema de nebulização foi colocado em funcionamento em cada um dos galpões em dias alternados, com um intervalo de 3 dias.

Concretamente, os nebulizadores funcionaram em um dos galpões durante 3 dias e permaneceram desligados no outro galpão durante este tempo.

Ao finalizar o período de 3 dias, intercambiou-se o funcionamento dos nebulizadores de ambos os galpões.

Desta maneira, pode-se comparar o consumo de água por parte das aves, não apenas entre os galpões, como também dentro do mesmo galpão nos dias com e sem o funcionamento dos nebulizadores.

As figuras 4 e 5 apresentam a temperatura média subcutânea do peito, assim como as taxas de consumo de água por parte das aves e do sistema de nebulização em intervalos de 1 minuto em cada um dos galpões, durante os 11 dias que durou o estudo.

Figura 4. Temperatura média subcutânea do peito, consumo de água por parte das aves e uso de água por parte do sistema de nebulização (Galpão 1)

 

Figura 5. Temperatura média subcutânea do peito, consumo de água por parte das aves e uso de água por parte do sistema de nebulização (Galpão 2)

Ainda que seja difícil de discernir os padrões precisos da temperatura do peito a partir de um gráfico a longo prazo, está claro que as temperaturas mais altas correspondem com as horas de escuro (10 pm a 4 pm), quando as aves deixam de beber e se sentam.

Como o sistema de nebulização é capaz de diminuir a temperatura apenas ligeiramente, é lógico pensar que a temperatura de um galpão onde se utiliza unicamente nebulizadores, tende a ser significativamente mais alta que a de um galpão resfriado a partir de paineis evaporativos.

As Figuras 6 e 7 apresentam as temperaturas subcutâneas individuais dos peitos e a temperatura do galpão, assim como o consumo de água por parte das aves e o uso de água pelo sistema de aspersão em um dia concreto do estudo (8 de agosto).

Na Figura 6, pode-se observar o funcionamento do sistema de nebulização ao longo do dia, começando com o modo de estimulação (nebulização uma vez por hora), depois progredindo até o modo suave de esfriamento às 9:30 am (uma nebulização a cada 15 minutos) e, finalmente, passando ao modo forte de esfriamento, pouco depois das 5 pm (uma nebulização a cada 5 minutos).

Figura 6. Temperatura do galpão e temperaturas subcutâneas do peito, junto com as medições de consumo de água por parte das aves e pelo sistema de nebulização ativo (8 de agosto, iluminação das áreas de sombra apagada, Galpão 1)

Figura 7. Temperatura do galpão e temperaturas subcutâneas do peito, junto com as medições de consumo de água por parte das aves e pelo sistema de nebulização – sistema de nebulização inativo (8 de agosto, iluminação das áreas de sombra apagada, Galpão 2)

Como os paineis evaporativos estavam programados para entrar em funcionamento ao chegar a 27,8oC em ambos os galpões, a temperatura do ar foi similar nos dois.

Tal como destacado anteriormente, em uma situação típica com o funcionamento dos nebulizadores, os paineis evaporativos foram acionados a partir dos 32,3oC e apenas o sistema de nebulização estaria funcionando em modo de resfriamento abaixo de 27,8oC.

As Figuras 8 e 9 apresentam as medições individuais da temperatura do peito, assim como o consumo de  água por parte das aves e dos nebulizadores durante as seis horas da tarde do dia 8 de agosto.

No galpão com o sistema de nebulização ativado, parece ocorrer uma variação ligeiramente maior no consumo de água por parte das aves no meio da tarde, quando o sistema funcionava em modo suave de esfriamento (uma vez a cada 15 minutos) em comparação com o galpão em que o sistema de nebulização estava inativo.

Os pequenos picos no consumo de água ocasionalmente correspondem com o funcionamento dos nebulizadores.

Figura 8. Temperatura do galpão e temperatura subcutâneas do peito, junto com as medições de consumo de água por parte das aves e pelo sistema de nebulização – sistema de nebulização inativo (8 de agosto, tarde, Galpão 1)

 

Figura 9. Temperatura do galpão e temperaturas subcutâneas do peito, junto com as medições de consumo de água por parte das aves e pelo sistema de nebulização – sistema de nebulização inativo (8 de agosto, tarde, Galpão 2)

As temperaturas subcutâneas do peito foram muito similares em ambos os galpões, oscilando de 38,9oC a 41,1oC. Algumas vezes a temperatura subcutânea do peito de aves individuais (p. e. Ave às 1:50 pm e às
2:05 pm –
Figura 8) baixava quando o animal ficava em pé, aparentemente em resposta ao funcionamento dos nebulizadores, porém, outras vezes não pareciam responder à nebulização.

Ainda que pareça haver uma certa variação na temperatura subcutânea do peito em relação ao funcionamento do sistema de nebulização, não houve uma redução significativa da temperatura geral comparado à temperatura do galpão com o sistema de nebulização inativo.

As Figuras 10 e 11 apresentam a temperatura das aves, assim como o consumo de água por parte das aves e o uso de água pelo sistema de nebulização durante a noite de 8 de agosto. Em ambos os galpões, a temperatura dos peitos aumentou ao se apagar a luz às 10 pm e as aves estavam menos ativas.

Houve diferenças no nível de atividade aparente ao se apagar as luzes. A temperatura do peito de algumas aves (p. ex. Aves d e e) indica que levantaram-se várias vezes entre as 10 pm e meia noite, (p. ex. Aves a e b) levantaram-se com um pouco mais de frequência e pareciam estar inquietas ao acomodarem-se, o que está refletido pelas ligeiras flutuações na temperatura do peito.

Figura 10. Temperatura do galpão e temperaturas subcutâneas do peito, assim como o consumo de água por parte das aves e o uso de água pelo sistema de nebulização – sistema de nebulização ativa (8 de agosto tarde/noite, luzes apagadas na área de sombra, Galpão 1)

 

Figura 11. Temperatura do galpão e temperaturas subcutâneas do peito, assim como o consumo de água por parte das aves e o uso de água pelo sistema de nebulização – sistema de nebulização inativo (8 de agosto tarde/noite, luzes apagadas na área de sombra, Galpão 2)

O nível exato de atividade das aves individuais pela noite variou de um dia ao outro e não parecia estar associado ao uso do sistema de nebulização durante o dia. O que fica claro ao observar estes gráficos é que as aves de ambos os galpões tinham um nível de atividade similar durante o dia e um nível de inatividade similar durante as horas de escuro.

É possível que tenha ocorrido uma ligeira variação na temperatura subcutânea do peito, o que poderia indicar mais movimento por parte das aves, porém deduz-se que a ativação dos nebulizadores não provocou uma redução significativa na temperatura do peito.

As Figuras 12 e 13 apresentam as temperaturas subcutâneas diárias médias (8 am – 9 pm) do peito para cada uma das aves em ambos os galpões durante todo o estudo. Os dias sombreados são aqueles nos quais utilizou-se o sistema de nebulização.

Nestes gráficos é difícil observar que os nebulizadores tiveram efeitos significativos na hora de reduzir a temperatura do peito.

Figura 12. Temperatura subcutânea média diária do peito (Galpão 1 – áreas sombreadas indicam os dias nos quais o sistema de nebulização estava ativo)

 

Figura 13. Temperatura subcutânea média diária do peito (Galpão 2 – áreas sombreadas indicam os dias nos quais o sistema de aspersão estava ativo).

 

Em ambos os galpões a temperatura do peito foi similar nos dias em que o sistema de nebulização se encontrava ativo, em comparação com os dias em que estava inativo.

Conclusões

Efetivamente, o uso dos sistemas de nebulização pode ter efeito sobre o nível de atividade/movimento das aves, porém não parece afetar de maneira significativa o nível de resfriamento do peito das aves em épocas quentes.
A falta de diferenças significativas se deve provavelmente ao fato de que os frangos de corte estão mais ativos do que parece, inclusive em um dia quente de verão. Ainda que possa parecer que as aves estão sentadas durante horas, este estudo revela que se levantam e movem-se várias vezes a cada hora. Cada vez que ficam em pé, a temperatura do peito diminui.
O principal período de tempo em que as aves permanecem mais tempo sentadas é pela noite, quando as luzes se apagam durante muito tempo, razão pela qual a temperatura do peito se aproxima mais à temperatura interna.

 

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