A proximidade de um foco de Influenza Aviária a poucos quilômetros da sede da Naturovos, no Rio Grande do Sul, deu contornos reais e urgentes ao painel “Sanidade & Negócios”, que encerrou o segundo dia da Conbrasul 2025 que reuniu mais de 400 representantes do setor de ovos em Gramado (RS). A crise sanitária recente serviu como catalisador para reforçar a importância da biosseguridade, da exportação como estratégia de estabilidade de preços e da comunicação direta com o consumidor.
Anderson Herbert, diretor comercial da Naturovos, falou como quem viveu o susto de perto. “Foi na cidade onde eu moro”, disse, ao relatar que, mesmo sem registro de contaminação direta na empresa, foi preciso reativar protocolos, mobilizar equipes e revisar fluxos operacionais.
“Começa a passar um filmezinho: toda a história, os treinamentos, a segurança… Tudo isso é importante porque a gente vai ter uma consciência.” Ele destacou que biosseguridade não pode ser tratada como exceção e alertou para os impactos econômicos que um eventual descontrole sanitário pode gerar no setor de ovos.
“A gente precisa zelar pelo nosso estado sanitário. Porque se acontecer um escalado, a gente vai ter um restaço de preço.” Herbert também defendeu que a exportação seja tratada como política estratégica. Ao apresentar dados de mercado e gráficos de preços, ressaltou que eventos sanitários afetam diretamente a oferta e o comportamento dos consumidores.
“Quando o ovo deixa de sair do Rio Grande do Sul por causa de uma restrição, ele passa a sair de Minas ou de São Paulo. O mercado se reorganiza, mas com impacto imediato nos preços e no equilíbrio da cadeia.”
O presidente da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), Ricardo Santin, reforçou esse ponto ao lembrar que o Brasil exportou, em 2024, uma média de 1.369 toneladas de ovos por dia — o equivalente a 0,86% da produção nacional. Embora o número ainda seja tímido, representa uma crescente abertura de mercados.
“Hoje, esse ano principalmente, a gente viu que diversas empresas começaram a exportar. Novas empresas que não tinham exportado, como lá no Espírito Santo, que até então não tinha exportado e agora começou.”
Santin também defendeu o papel das entidades na coordenação da comunicação com o consumidor. “A comunicação é parte da biosseguridade”, afirmou, ressaltando a importância de evitar ruídos e desinformação em momentos de crise.
O tema foi reforçado por Herbert, que compartilhou dados de uma pesquisa do Instituto Ovos Brasil mostrando que médicos e nutricionistas são as fontes em que os consumidores mais confiam.
“Não adianta só dizer que o ovo é nutritivo. A gente tem que dizer que ele é seguro. Alimento seguro. Isso precisa estar na boca de quem forma opinião.”
O painel foi encerrado com a participação de Paul Buisman, diretor de Inovação da MOBA, que apresentou soluções tecnológicas voltadas à segurança alimentar. Buisman relatou um caso nos Estados Unidos em que mais de 200 milhões de ovos precisaram ser recolhidos por contaminação por Salmonella, o que causou forte impacto financeiro e institucional.
Segundo ele, investir em segurança é mais custoso no início, mas vital para a proteção do produto e da marca. Coordenado por Nélio Hand, diretor executivo da AVES-ASES, o painel deixou claro que exportar exige preparo técnico, vigilância sanitária constante e uma comunicação ativa que garanta segurança alimentar e confiança pública no setor de ovos.
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